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O caminho para riqueza é pavimentado de estoicismo

No livro “A Álgebra da Riqueza”, o professor e figurão Scott Galloway traz elementos filosóficos para alinhar as finanças.

Por Luana Franzão
22 ago 2024, 12h00
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 (CSA Images/VOCÊ S/A)
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em Sócrates, nem Aristóteles, nem Platão. Não é bem sobre esses filósofos gregos que vamos falar por aqui. Ao invés de imaginar um debate entre anciões de toga branca, vamos exercitar o raciocínio: o que fazer quando algo sobre o que não tenho controle afeta a minha vida?

A resposta dos estoicos seria um sonoro “nada”. Como assim? Isso mesmo, nada. O que não tem solução, solucionado está.

O estoicismo é uma corrente filosófica que surgiu na Grécia Antiga, como muitas outras. Seu fundador, Zenão de Cítio (333-263 a.C.), passou por um trauma que mudou seu pensamento – como normalmente se dão as revoluções da vida. 

Comerciante próspero, Zenão de Cítio viu seu navio carregado com uma carga valiosíssima, afundar. E com ele todas as esperanças de ter uma vida endinheirada. Remoendo o ocorrido, se deu conta que nada poderia desfazer a tragédia.

Não dá para saber se o mito fundador dessa forma de pensar é 100% verídico (os arquivos têm 2.400 anos, podemos comemorar que ao menos essa história não foi perdida). Entretanto, o pensamento central dos estoicos fica bem claro nele: não podemos controlar as coisas que acontecem conosco, mas podemos controlar como reagimos a elas.

Dá para dizer que há um bocado de frieza e indiferença nessa forma de enxergar o mundo. Olhar para o mundo e decretar que, de fato, não tem jeito de consertar. Os expoentes desse pensamento, entretanto, não pensam assim. Pensam que da mudança interna individual, as pecinhas vão se juntando no contexto maior.

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Quem quiser saber mais sobre o estoicismo clássico, pode ler obras de Sêneca, como Cartas de um Estoico, ou do imperador romano Marco Aurélio, como Meditações. Também pode ler um dossiê completo da revista Superinteressante sobre o assunto.

Estoicos no século 21

O mundo assistiu a eventos devastadores de enorme porte, sobre os quais nenhum ser humano teve poder. A pandemia da Covid-19, fenômenos naturais catastróficos, tudo deixou um sabor amargo de impotência na boca.

É nesse terroir que a palavra dos estoicos voltou a ganhar notoriedade. A Superinteressante levantou que as buscas por estoicismo no Google aumentaram 330% entre 2019 e hoje. Bilionários citam a corrente filosófica como inspiração.

Scott Galloway, professor de Marketing da Stern School of Business, da NYU, podcaster e autor da newsletter No Mercy/No Malice, propõe uma leitura freestyle dessa filosofia.

Em A Álgebra da Riqueza: Uma Fórmula Simples Para o Sucesso, Galloway coloca o estoicismo como um dos elementos de uma conta matemática que leva à riqueza.

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A missão do livro é atualizar os conselhos financeiros recebidos pelos seus pais, que se aplicam com dificuldade hoje. Vivemos em um mundo com muitas oportunidades, mas contratempos diferentes do que os enfrentados no passado.

O que o professor propõe é que é necessário mudar mais do que a personalidade – a forma como você se apresenta aos outros –, mas também o caráter – como você lida com si mesmo.

Para ele, alcançar a segurança financeira é uma fórmula certa: ou herda dinheiro, ou vai pelo caminho difícil. Essa jornada envolve “maximizar a renda, minimizar os gastos e investir a diferença com sabedoria” – só o básico, que deve ser facinho de aplicar (só que não).

Segurança financeira, entretanto, não é riqueza. Riqueza é “o produto de uma vida bem vivida”. Onde há trabalho árduo, fragilidade e sabedoria. E também há espaço para o erro e o prazer, mas procurando a disciplina.

Ele usa estoicismo como sinônimo de uma vida moderada dentro e fora do trabalho. Os estoicos consideravam o desenvolvimento do caráter como a virtude mais elevada – trata-se de economizar dinheiro, mas também de desenvolver um caráter forte e se conectar com uma comunidade.

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Somos sempre tentados a consumir e um dos caminhos para a riqueza é a frugalidade. “Os seres humanos modernos são duplamente desfavorecidos. Vivemos em um mundo de excesso, mas somos feitos para um ambiente de escassez”, escreve Galloway. Significa, no fim, que sempre estaremos em busca de acumular recursos e bens. A busca da riqueza, para ele, é um projeto para a pessoa como um todo.

É aí que entram os estoicos. Além de dizer, é preciso fazer e mudar suas crenças pessoais para alcançar a riqueza em um mundo que estimula o gasto sem fim. Ter a sabedoria de julgar o que é necessário e as situações que exigem prudência.

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(Arte/Imagem:Divulgação/VOCÊ S/A)

Página 39, Capítulo 1 – Estoicismo

Antigas defesas contra tentações modernas

Os estoicos identificaram quatro virtudes: coragem, sabedoria, justiça e disciplina. Eu acredito que essas são as chaves para resistir às tentações (e para muito mais).

A coragem é a nossa persistência, o que os pensadores modernos costumam chamar de “determinação”. Nós temos coragem quando não deixamos o medo guiar nossas ações: medo da pobreza, medo da vergonha, medo do fracasso. Em vez disso, somos trabalhadores, positivos e confiantes. Os profissionais de marketing são mestres em explorar nossos medos e inseguranças. Ter coragem é mais barato que comprar Chanel, e funciona melhor.

A sabedoria, conforme descrita por Epicteto, é a capacidade de “identificar e desmembrar assuntos para que eu possa dizer claramente a mim mesmo quais deles são externos e não estão sob meu controle, e quais têm a ver com algo que eu posso controlar”. Ou como escreveu Annie Proulx em Brokeback Mountain: “Se você não consegue consertar, tem que aguentar”.

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A justiça é um compromisso com o bem comum, um reconhecimento de que somos interdependentes. O imperador estoico Marco Aurélio acreditava que a justiça era “a fonte de todas as outras virtudes”. Quando agimos com justiça, somos honestos e levamos em consideração todas as consequências de nossas ações. Nós não temos como construir bons hábitos sozinhos, e a última parte deste capítulo explica por que o nosso caráter é, em parte, uma função da comunidade.

A disciplina é, para mim, a virtude mais importante, porque é a mais testada pela cultura moderna. O capitalismo é alimentado pela nossa falta de autocontrole, pela nossa obsessão com o status e o consumismo. E não apenas no sentido óbvio de comprar batatas fritas tamanho grande e bolsas luxuosas. A sociedade ocidental encoraja a indulgência não só nos gastos, mas também nos rompantes emocionais, na vitimização e no vitimismo. Ter disciplina é conseguir resistir a (ou, pelo menos, controlar) todas as nossas indulgências.

Devagar

Como colocamos essas virtudes em prática? Como construímos o caráter que faz do autocontrole uma maneira natural e intuitiva de ser, e não uma batalha constante contra os impulsos? A gente pode começar indo mais devagar.

Talvez você tome uma centena de decisões moderadamente importantes por dia, como responder a uma mensagem atravessada de um colega no Slack, o que fazer no fim do dia quando o tempo finalmente pertencerá apenas a você. É da natureza humana tomar essas decisões de forma reativa, sem pensar, com base no instinto ou na emoção. Essa é a maneira mais rápida. Em retrospecto, nós tendemos a atribuir nossa resposta às condições – deixamos de tomar o café da manhã porque estávamos atrasados, escrevemos uma resposta dura porque a mensagem do Slack não tinha sido razoável.

Lembre-se da virtude estoica da sabedoria: saiba o que você pode controlar. É fácil traçar essa linha, como Marco Aurélio deixou claro: “Você tem o poder sobre a sua mente…não sobre eventos externos.” O psicólogo Viktor Frankl observou: “Entre o estímulo e a resposta, há um espaço. Nesse espaço está nosso poder de escolher nossa resposta. Em nossa resposta, reside nosso crescimento e nossa liberdade.” Nós não somos capazes de controlar nosso ambiente, mas conseguimos controlar como reagimos a ele.

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Se você conseguir encontrar esse espaço que Frankl descreve em apenas algumas daquelas centenas de decisões que toma todos os dias, e levar em conta seus valores e o plano que estabeleceu para si mesmo, você vai criar força para a próxima vez. Mesmo que seja apenas uma vez por dia, dizer “Eu controlo isso, a minha resposta é escolha minha” e escolher o comportamento que você sabe ser o certo, em vez de ceder àquela sensação do momento, são um passo no caminho para o estoicismo.

Isso não significa nunca ficar com raiva – eu, por exemplo, fico com raiva com frequência, até demais. Nem significa nunca ficar desanimado, frustrado ou envergonhado. Essas são respostas humanas normais a contratempos e erros. O objetivo é reconhecer a raiva, ou o medo (ou a ganância), mas não permitir que isso determine o seu comportamento.

Caráter e comportamento podem criar um ciclo que se reforça. Comece com apenas alguns comportamentos escolhidos, e você construirá o caráter para fazer mais.

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(Arte/Imagem:Divulgação/Você S/A)

 

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