Eleições 2024: Como falar sobre política no trabalho sem arranjar confusão
O período eleitoral paira sobre os escritórios e incita uma velha discussão: existe jeito certo para falar sobre política no trabalho? Espinhoso que é, o assunto depende de inúmeras variáveis para caber nas baias. Confira.
o domingo, 6 de outubro, rola o primeiro turno das eleições para prefeitos e vereadores no Brasil todo. Com a festa da democracia chegando, surge a vontade primal de discutir política em todos os ambientes da nossa vida. No trabalho, não seria diferente.
Vamos discutir alguns pontos de atenção para não transformar as mesas compartilhadas do escritório em uma sessão de comentários do Facebook.
Uma pesquisa do Indeed, site que ajuda na procura por vagas, mostrou que 42% dos entrevistados conversaram ou comentaram sobre política no trabalho – enquanto 6% perderam as estribeiras e entraram em brigas e discussões sobre o assunto.O levantamento foi feito ouvindo 1.054 trabalhadores de diferentes hierarquias.
Entre eles, 12% dos trabalhadores evitaram colegas de trabalho com posições políticas distintas das suas, e 12% optaram por não participar de eventos sociais da empresa para evitar discussões políticas. Ainda, 19% diz ter sido questionado por colegas e líderes sobre suas opiniões e 23% foi orientado pela empresa a não discutir o tópico no ambiente corporativo.
Quase metade do pessoal, 46%, notou no último ano pessoas falando abertamente sobre política no trampo, e 26% percebeu brigas pelo assunto.
Quando confrontados com a questão central, o grupo de entrevistados se dividiu. 40% acredita que opiniões políticas devem ser expressas abertamente no trabalho, enquanto 48% acredita que não. Os outros 12% não souberam responder.
Faca de dois gumes
A consultoria global Gallup também conduziu uma pesquisa sobre o tópico, evidenciando que falar de política na função pode trazer benefícios e malefícios – como quase tudo na vida.
A pesquisa é centralizada na realidade dos Estados Unidos, mas dá para trazer lições para cá. Também em período eleitoral, o país deve eleger um novo presidente em novembro.
No mês de agosto, quase metade dos trabalhadores americanos haviam discutido política no ambiente corporativo, número que provavelmente cresceu com o passar dos meses e a aproximação do pleito.
12% se sentiu desconfortável por conta das discussões políticas entre colegas. Mas, 14% se sentiram mais incluídos a partir das conversas sobre o assunto no trabalho. Como é de praxe nesse tópico, as contradições aparecem.
Trabalhadores estão mais dispostos a dar o benefício da dúvida para colegas em quem eles confiam
Segundo o levantamento, mais funcionários que se identificam com o lado conservador do espectro político conversaram sobre o assunto no trabalho, em comparação com aqueles que se identificam como liberais – 60% contra 48%.
A consultoria aponta que o tópico eleitoral é uma faca de dois gumes. Por um lado, bater papo sobre pode ajudar a quebrar o gelo entre colegas que até então tinham pouco em comum. Por outro, pode criar animosidade entre colegas que previamente se davam bem.
Segundo a Gallup, o impacto negativo pode ser ainda maior entre equipes que já estavam pouco engajadas no serviço. Equipes mais entrosadas podem absorver melhor o impacto de diferenças importantes entre o time. Isso significa que os trabalhadores estão mais dispostos a dar o benefício da dúvida para colegas em quem eles confiam.
Como não entrar em uma saia justa eleitoral
Vamos evitar cadeiradas, animosidades e brigas ao redor de temas políticos.
Para isso, contamos com os conselhos de Roberta Rosenburg, especialista em capacitação e desenvolvimento de liderança.
Antes de abrir a boca, melhor se perguntar: por que eu quero falar sobre política aqui e agora? Como em todas as conversas, sobretudo naquelas que abordam nossa carreira, precisamos ter um objetivo claro do que desejamos transmitir e absorver.
Quando falamos de política, há muito sobre identidade e nossa percepção de nós mesmos. Coisas que mexem com nossos valores. Muitas vezes, não é um candidato específico, mas sim sobre como nós nos identificamos com ele. Tudo para dizer que é um tema que mexe mais com as emoções do que com a razão, por mais que pareça o contrário.
Por isso, se você tiver um propósito claro do que quer dizer ao abordar a política no escritório, tudo bem. Mas se for só para provar um ponto, ou pode gerar animosidade entre colegas, melhor pensar duas vezes (ou mais).
Antes de discutir política em ambientes sensíveis, informe-se.
Também é necessário saber respeitar a opinião do outro: é necessário saber que você conseguirá lidar com a resposta que vier. Se eu sei que não conseguirei conviver em normalidade com alguém que diverge das minhas posições, levantar o tópico é uma má ideia.
Se você não consegue evitar o papo, a habilidade soberana exigida é saber separar a sua opinião da verdade. Existem infinitos pontos de vista sobre uma questão, e você não sabe tudo sobre tudo. Sem sabedoria, sem papo.
Você pode começar dizendo porque acredita em X candidato, porque a agenda dele se alinha com o que eu desejo para a sociedade, e não perder as estribeiras quando o outro desafia sua visão. Fundamentar sua opinião e deixar claro que não é a única verdade é o caminho mais provável (ainda que não garantido) para o sucesso.
Se houver um início de conflito, é melhor interromper o assunto e compartilhar que, talvez, vocês não estejam prontos para essa conversa. Ou ainda, que ela não vai levar a lugar nenhum naquele momento.
Lembrete: não esquecer de ler a política da empresa sobre manifestações políticas no ambiente corporativo. Provavelmente ela existe e, antes de tudo, você precisa estar nos conformes.
Por fim, Rosenburg destaca a importância soberana do conhecimento, em todo tipo de situação. Antes de discutir política em ambientes sensíveis, informe-se. Leia livros, artigos, veja entrevistas, reflita bem. Vídeos e opiniões em redes sociais podem ser um complemento, mas não a única fonte na hora de tomar essa decisão tão importante.
“Para que a gente faça um país melhor, é preciso fazer o dever de casa. Ter mais consciência dos políticos que estão aí, das oportunidades, para que façamos opções mais informadas”, concluiu.