De humorista a palestrante: conheça a nova fase do ex-CQC Rafael Cortez
O jornalista agora embarca em trabalhos para o mundo corporativo, palestrando sobre um conceito que chama de “atitude transformadora”. Mas, para contrariar o cenho franzido do ambiente empresarial, ele usa de seu bom-humor e de sua experiência no stand-up para passar a mensagem de forma mais eficaz. Entenda.
eja na televisão, nas redes sociais ou nos palcos de stand-up, você provavelmente já deve ter visto a carinha de Rafael Cortez por aí. Ele ficou conhecido principalmente pelos seus anos de repórter no CQC – programa de jornalismo humorístico da Band exibido entre 2008 e 2015 –, fazendo, bom, de tudo um pouco.
Agora, sentindo que sua missão está no mundo corporativo, esse jornalista, que também é comediante, artista e empreendedor, adicionou mais uma faceta à sua carreira. Nessa nova empreitada, em primeiro momento bastante diferente de tudo que já havia feito antes, Rafa veste a camisa de palestrante, falando a funcionários de empresas sobre o poder da chamada atitude transformadora (da qual entenderemos melhor sobre logo mais).
Mas se engana quem pensou que ele deixou o passado humorístico para trás. A partir de suas experiências prévias, o que nasce é mais um híbrido dos mundos que habitou, fornecendo às empresas uma perspectiva leve e divertida sobre assuntos relacionados à carreira. E essa história começa 30 anos atrás – nos backstages de teatros São Paulo afora.
Vida de (multi)artista
Desde seus 17 anos, Rafa vem respirando a vida nos palcos. Mas não exatamente como artista, seu sonho de longa data. Por falta de oportunidades diretas, ele sempre aceitou vagas relacionadas a esse meio – seja como assessor de imprensa ou produtor de peças de teatro. Ou seja: no começo de sua carreira, o trabalho sempre aconteceu nas coxias.
“Por falta do convite artístico, eu tinha a ilusão de que estar no meio era, de alguma forma, fazer parte dele”, explica. Aguardando convites para trabalhar como artista, ele sempre se manteve entremeado no mundo do teatro, ainda que na tangente. Nesse período, ele aprendeu a fazer de tudo um pouco.
Rafa descreve sua carreira como um rio de muitos afluentes. E eles culminaram, aos seus 31 anos, em grande descontentamento profissional e pessoal. Trabalhar à margem já não era suficiente, ele queria integrar o meio de outra forma: agora como protagonista.
Eis, então, a tal da atitude transformadora. Chamado para uma vaga de produtor no CQC, o profissional decidiu questionar sobre vagas para repórter no programa. “Acho que enchi tanto a paciência deles que me deixaram fazer o teste. E não é que eu passei?”.
A virtude da atitude
No showbiz, foram sete anos de CQC, um ano e três meses na TV Cultura, tudo isso concomitante à carreira de stand-up comedy. Agora, o profissional decidiu usar suas experiências no ramo para produzir uma palestra voltada ao mundo corporativo – espaço em que, hoje, ele se sente mais valorizado.
Em linhas gerais, Rafa Cortez fala sobre como cada pessoa, “do presidente de multinacional ao chão de fábrica”, pode usar a ferramenta da atitude para catalisar sua carreira.
Digamos que você queira fazer uma transição de carreira, e voltar para a área de finanças, por exemplo. Fechar os olhos e bater os saltos do sapato três vezes só funciona em terra de Mágico de Oz: no mundo corporativo, Rafa argumenta que o primeiro passo – a primeira atitude – precisa ser sua.
“Você precisa correr atrás, mandar mensagem, bater de porta em porta. As pessoas não têm noção do quão longe elas podem chegar se apenas perguntarem”, diz o profissional.
A coluna dorsal de sua palestra é, claro, sua própria vida. Segundo Rafael, a decisão de tomar as rédeas de sua carreira (no episódio narrado acima, que culminou no seu tempo de CQC) o inspirou a comunicar essa mensagem – mas com um toque especial.
Humor, poderosa argamassa
Um dos maiores pensadores da filosofia contemporânea, Friedrich Hegel, define sua dialética a partir de três conceitos: tese, antítese e síntese. Basicamente, o alemão defendia a ideia que, a partir de dois conceitos inicialmente opostos, seria possível criar algo novo; inovador. Algo que não é um, nem outro – mas que carrega um pouco dos dois consigo.
Essa é um pouco da ideia de Rafael. Nos ambientes corporativos, que ele descreve como “sisudos”, o diferencial da palestra foi justamente seu ganha-pão durante todos esses anos: o humor.
Trazendo a estrutura de comédia do stand-up – em que as piadas chegam no fim das histórias, na forma do chamado punchline, que brinca com o inesperado –, Rafa aplica a dialética hegeliana à sua nova era. Sua palestra, que dura em torno de um hora, não segue à risca o modelo corporativo, tampouco caberia em um palco com banquinho e microfone. Nem um, nem outro: mas uma síntese de ambos, que tem agradado os colaboradores e companhias que o contratam.
Mas nem só de risadinha vive Rafa Cortez. O profissional esclarece que seu objetivo não é apenas entreter o público, mas fazer com que os conceitos da palestra sejam fixados de modo mais eficaz. “As empresas estão começando a entender que o humor é uma argamassa poderosa. Quando bem empregado, ele nos ajuda a registrar informações que nós não esqueceremos nunca mais”, explica.
Além disso, ele também entende que as empresas procuram um produto de baixo risco, que não flerte com o “politicamente incorreto” – há muito testado por seus pares humoristas no Brasil. “As companhias entendem que eu não vou ultrapassar essa linha, isso nem está no meu repertório. Mas, ao mesmo tempo que querem essa segurança, elas também querem se divertir!”, ressalta.
“No fim, comédia é o que faltava”, finaliza. Rir, afinal, é sempre o melhor remédio. Até no mundo corporativo. 😉
*Entrevista por Alexandre Carvalho. Texto por Sofia Kercher.