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Quem inventou o dinheiro?

O que conhecemos hoje como "dinheiro" é produto de uma evolução de 12 mil anos. Veja as inovações desse processo.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 17 nov 2023, 16h06 - Publicado em 10 nov 2023, 05h54

Ninguém. O dinheiro foi uma ideia que brotou naturalmente com a ascensão do comércio, há mais ou menos 12 mil anos, e evoluiu ao longo do tempo. 

O mais comum é dizer que, antes do dinheiro, era tudo na base do escambo. Se eu tivesse um sapato e precisasse de trigo, tinha de achar quem possuísse trigo e estivesse a fim de um sapato. Mas nunca foi assim. 

Sempre houve mercadorias que todo mundo queria ou precisava o tempo todo, e coisas com baixo poder de troca. Trigo pertencia ao primeiro time (temos de nos alimentar todos os dias afinal); sapatos, ao segundo. Logo, sapatos eram só um produto. Trigo, além de ser um produto, também era dinheiro. Animais de criação também. O normal era comprar calçados usando trigo ou bodes como moeda, não o contrário. 

Os babilônios, na Mesopotâmia do segundo milênio antes de Cristo, sofisticaram esse sistema. Se você depositasse, vamos dizer, 100 sacas de grãos em algum armazém do governo, recebia um tablete de argila com gravações em escrita cuneiforme. Ali vinha sinalizado que o detentor do tablete tinha direito a resgatar 100 sacas nos depósitos do Estado.

Se você quisesse comprar uma vaca, não precisaria encher carroças de sacas e levar até o fazendeiro. Bastava dar seu tablete de argila em troca. E se você tivesse muitos tabletes em casa poderia comer, beber e vestir o que quisesse. Seria rico, sem o inconveniente de manter um estoque de grãos. 

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O sistema babilônico mereceria um Nobel de Economia do mundo antigo, caso existisse um. Mas não foi esse que vingou. 

Comida não era a única mercadoria que servia como “meio universal de troca”. Já havia outra, mais prática até: metais. O primeiro a ser usado em larga escala foi o cobre. Ele derrete a uma temperatura relativamente baixa (1.000 ºC), o que facilita a confecção de artefatos. Por volta de 5000 a.C., o cobre tinha substituído as pedras no papel de matéria-prima para a confecção de armas.

Armas eram tão importantes quanto comida no mundo antigo. Grupos bem armados tomavam terras e monopolizavam a produção de grãos em suas vizinhanças. Constituíram assim aquilo que viríamos a chamar de “reinos” – e os primeiros surgiram justamente na Mesopotâmia (atual sul do Iraque), o berço das primeiras cidades-Estado. 

E as cidades-Estado precisavam de armas novas o tempo todo, para se proteger da invasão de outros reinos. Isso garantia a demanda por cobre. A produção de panelas, ferramentas e enfeites de metal também.          

O cobre, então, era usado como moeda no comércio entre os reinos nos tempos de paz, na forma de lingotes. E com o tempo ganhou o status de unidade monetária. Um documento do Egito Antigo, outra incubadora da civilização, mostra que um boi custava 4,5 quilos (50 débens) de cobre por volta de 1000 a.C.

O hábito de usar cobre transformou metais mais raros em moeda também. Foi o caso do ouro e da prata. O problema: não era simples determinar a pureza de uma pepita numa transação comercial. Para acabar com esse problema, o reino da Lídia (na atual Turquia) lançou outra criação digna de Nobel, por volta de 600 a.C.: peças com o grau de pureza garantido pelo Estado. 

O reino fundia metais preciosos na forma de pepitas artificiais, com grau de pureza predeterminado, e imprimia ali uma gravura (a cabeça de um leão) para fazer o papel de selo de autenticidade. Era a primeira moeda estatal da história. As cidades-Estado da Grécia Antiga copiaram a ideia, e o formato de pepita evoluiu para o circular, mais padronizável.  

As notas de papel surgiriam na China do século 7 – na Europa, só no século 17. Mas eram como os tabletes da Babilônia. Só valiam alguma coisa porque davam ao portador o direito de trocá-las por moedas na boca do caixa. As moedas de metal precioso eram o lastro delas. Os EUA produziram sua última moeda de prata em 1935. E só em 1971 o dólar (e todas as outras unidades monetárias) deixariam de ter lastro em ouro. Mas essa é uma história para outro texto.

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(Maria Laura Farinha/ARTE/VOCÊ S/A)
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