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O que são os juros futuros?

A ciranda do DI é um exercício permanente de especulação. Mas o futuro imaginário da Selic determina o futuro real de todos nós.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 26 abr 2024, 14h34 - Publicado em 12 Maio 2023, 06h12

O rumo da Selic afeta cada passo da sua vida financeira. Se o mercado acha que ela vai cair, cobram-se juros menores nos financiamentos de longo prazo neste momento. Se o mercado supõe o contrário, que ela vai subir, o governo passa a lançar títulos prefixados e de inflação que pagam juros maiores, mesmo que o BC não tenha movido uma palha da Selic. Ou seja: o futuro imaginário da taxa básica determina o futuro real de todos nós.

E de onde vêm essas opiniões do mercado? De uma ciranda financeira bem particular: a do DI futuro. DI e Selic são taxas equivalentes. Andam de mãos dadas, em patamares basicamente idênticos. Dá para tratar uma como sinônimo da outra. O DI futuro, então, tenta prever a Selic dos próximos anos, e acaba servindo como referência para taxas de financiamento e juros de títulos públicos. Vamos ver como funciona esse mercado.

DI futuro é um contrato. E esse contrato é um ativo financeiro, igual ações, títulos ou seja lá o que for. Se eu acho que os juros vão cair, posso investir num título prefixado do Tesouro Direto que paga 12% ao ano por uma década. Neste momento, com a taxa do BC em 13,75%, eu deixo de ganhar dinheiro no começo – o Tesouro Selic ou qualquer fundo DI básico pagaria melhor. Mas, se os juros do BC começarem a cair e, daqui a dez anos, eles tiverem dado uma média de 8%, me dou bem. Os investimentos simples terão rendido 8% nesse período. O meu, 12%.  

Simplificando ao máximo, um contrato de DI futuro funciona como um título prefixado: você coloca um dinheiro ali a um juro que já sabe qual é numa tentativa de bater o mercado. Mas o cardápio nessa modalidade é maior. No Tesouro Direto, só existem três opções de data de vencimento (hoje, 2026, 2029 e 2033). Na lista de contratos de DI futuro são dezenas: dezembro de 2023, janeiro de 2024, fevereiro de 2024… No momento, vai até 2038 (com menos opções de meses para os anos mais distantes). 

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*Os contratos equivalem sempre a compromissos de R$ 100 mil na data futura em questão. E são negociados em lotes de cinco. Por isso, usamos aqui o exemplo de R$ 500 mil em valor final. É o padrão. (Arte/VOCÊ S/A)

Em abril de 2023, um contrato para janeiro de 2027 pagava 11,85% ao ano. Era o “valor de mercado” dele. Caso a média da Selic daqui até o começo de 2027 for menor do que isso, tipo 10%, eu ganho do mercado. Então, se a minha fé na queda dos juros for forte o bastante, posso achar que esse é um investimento bacana.

Mas não fica nisso. Quem vende títulos prefixados normais, os do Tesouro, é o governo. Já no mercado de DI futuro não tem governo. É tudo entre pessoas. Se você achar que os juros vão é subir mais ainda, e que a Selic média daqui até janeiro de 2027 será de uns 16%, pode tentar ganhar dinheiro com DI futuro pela outra ponta: vendendo um daqueles contratos de 11,85%.

Vendendo para quem? Para mim, oras – ou para qualquer outra pessoa que esteja nesse mercado e aposte numa baixa dos juros. Vamos dizer que você coloque R$ 320 mil nessa aposta. Ao selar a venda desse contrato de 11,85%, o que você faz, na prática, é pegar R$ 320 mil emprestados neste momento com o compromisso de devolver essa grana acrescida de juros de 11,85% ao ano lá em 2027. Ou seja: um valor final de R$ 500 mil.* 

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Se a Selic média lá na frente for de 16%, seus R$ 320 mil terão se transformado em R$ 579 mil. Pronto. Você paga os R$ 500 mil que me deve, de modo a honrar o contrato de 11,85% que selamos, e embolsa a diferença. Ou seja, transforma seu “investimento” inicial, de zero reais, em R$ 79 mil.   

Importante: você nem precisa sacar os R$ 320 mil que pegou emprestado e colocar no Tesouro Selic. O ajuste do valor envolvido nos contratos rola todo dia na B3. Conforme a taxa sobe, nesse caso, seu débito final, de R$ 500 mil, vai caindo. Até se converter num crédito de R$ 79 mil. 

Já se você fizer uma aposta dessas e os juros caírem, danou-se. Se a média da Selic daqui até 2027 ficar em 10%, seus R$ 320 mil terão se transformado em R$ 450 mil, mas você terá o compromisso de me pagar R$ 500 mil. Nesse caso, tudo o que resta no final é uma dívida de R$ 50 mil. Pois é. Trata-se de um mercado de altíssimo risco –  nada recomendável para quem não é profissional. 

Mesmo assim, também trata-se de um mercado vibrante. A cada dia, as taxas dos contratos do DI futuro variam ao sabor da oferta e da demanda por cada tipo de aposta – seja em juros mais altos ou mais baixos lá na frente. E elas formam um gráfico famoso: a curva dos juros. Se num dia tal a cotação do DI futuro para 2025 estiver em 12%; para 01/2026, em 11,75% e para 01/2028 em 12% de novo, temos um gráfico prevendo baixa na Selic para os próximos três anos, seguida de uma nova alta mais tarde. É isso que vai acontecer? Ninguém sabe. Mas esses valores de mercado atuais são os juros futuros. E, como dissemos lá no início, são eles que movem os juros que você contrata hoje – seja como pagador, seja como recebedor.  

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