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O que foi o confisco da poupança?

Não foi só “da poupança”: o Plano Collor sequestrou também CDBs, fundos de renda fixa, dinheiro em conta corrente e no overnight. Só as ações escaparam.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 9 set 2022, 08h57 - Publicado em 9 set 2022, 05h49
Ilustração de um homem de terno, com traços remetendo ao Fernando Collor, amarrando com correntes e prendendo com cadeado um cofre de porquinho, representando a poupança.
 (Taíssa Maia/VOCÊ S/A)
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Não foi só “da poupança” o confisco. O Plano Collor, de 1990, sequestrou também CDBs, fundos de renda fixa, dinheiro em conta corrente e no overnight – uma espécie de CDB que pagava juros e correção monetária a cada 24 horas, e que não existe mais. Dos investimentos tradicionais, só ações ficaram de fora (a bolsa era pouco relevante: o valor de mercado somado de todas as companhias de capital aberto ficava em 5% do PIB, contra 50% hoje).

Na poupança (ainda mais popular na época do que agora) e nas contas correntes fizeram assim: você só poderia sacar o equivalente a R$ 12.250 em dinheiro atual (50 mil cruzados novos na moeda de então). E pronto. O resto ficaria congelado por 18 meses rendendo a inflação mais 6% ao ano. O choque pegou também as contas Pessoa Jurídica, vale lembrar.  

No overnight, nos CDBs e nos fundos o saque ficou limitado a R$ 6.125 (NCz$ 25 mil) ou 20% do valor – aquilo que fosse maior. 

O governo Collor fez isso, no dia 16 de março de 1990, como uma tentativa atabalhoada de frear a inflação. O IPCA tinha fechado o ano anterior em 1.972%. Em fevereiro, o mês anterior ao anúncio do confisco, os preços tinham quase dobrado em quatro semanas (inflação mensal de 75%, algo nunca antes visto no Brasil, e que em termos anualizados daria 82.000%).

Para matar uma inflação, tira-se dinheiro de circulação. Hoje, governos fazem isso subindo os juros e segurando gastos públicos. Collor e sua equipe econômica entenderam que era preciso algo mais violento. E praticamente secaram o estoque de dinheiro em circulação. A quantidade de moeda na praça caiu de algo equivalente a 30% do PIB para 9%. 

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A inflação caiu mesmo. Em um mês, desacelerou daqueles 75% ao mês para 7%. Mas custou caro. Sem moeda ou crédito fluindo nas artérias da economia, o PIB caiu 7,8% no segundo trimestre de 1990. 

Para evitar uma recessão catastrófica, o governo passou a liberar dinheiro imobilizado a toque de caixa. 45 dias após o confisco, a quantidade de moeda em circulação tinha subido para 14% do PIB. O desbloqueio fez o PIB subir 7,3% no terceiro trimestre. Mas também acelerou o IPCA, que passou a flutuar entre 15% e 20% ao mês. Em termos anuais, a inflação fecharia 1990 em 1.620%, e 1991 em 472%. Ou seja: alguma eficácia o plano teve. A hiperinflação, porém, só morreria mesmo com o Plano Real, mas essa é outra história. 

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