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E se o dólar voltar a R$ 1?

Uma moeda hipervalorizada tem dois lados: o bom e o ruim. Entenda as consequências desse cenário hipotético.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 26 abr 2024, 14h34 - Publicado em 14 jul 2023, 06h24

Para quem não lembra: o real e o dólar viveram em regime de paridade entre julho de 1994 e dezembro de 1998. Eram os anos de implantação do Plano Real – que não foi simplesmente um corte de zeros na moeda antiga, o cruzeiro. Foi também um longo processo para solidificar a confiança na moeda nova. O Banco Central não podia deixar o dólar subir demais – isso encareceria as importações, e poderia trazer de volta uma inflação fora do controle. 

O Brasil, então, pedia dólares emprestados ao FMI e o BC soltava no mercado para suprir a demanda por moeda americana. Desse jeito, foram mantendo o dólar sempre próximo de R$ 1. Às vezes menos. Em 1995, a cotação chegou a R$ 0,83.

Sob um câmbio desses, hoje, você compraria um iPhone 14 nos EUA por R$ 663 (já que lá o aparelho começa em US$ 799). A passagem de avião sairia por R$ 330 – ida e volta (as mais baratas custam uns US$ 400; vezes 0,83, a cotação mágica lá de 1995, dá R$ 330). Pois é: R$ 1 mil por um iPhone 14 mais um bate e volta na Flórida. 

Esse é o óbvio lado bom de uma moeda hipervalorizada. Mas há o ruim. Se qualquer coisa do exterior parece ridiculamente barata para um brasileiro, isso significa que qualquer coisa produzida aqui está absurdamente cara para os estrangeiros. E aí começa a faltar cliente para os exportadores. 

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Entre 1995 e 1998, o país acumulou déficits na balança comercial – ou seja, gastou mais com importações do que ganhou com exportações. Isso não é um problema em si. Os EUA não registram um superávit desde 1975 e seguem firmes. A diferença é que a gente depende mais de exportações do que eles – a receita das vendas para o exterior correspondem a 20% do nosso PIB; a deles, 10%. 

Não só. O que mais garante o valor de uma moeda é o PIB como um todo, sustentado pela economia interna. O dos EUA é de US$ 26,8 trilhões. O da União Europeia, US$ 17,8 tri. O do Brasil, US$ 2,0 tri*. Nesse quesito, não dá nem para o começo. O que sustenta o real é outro pilar: nossas exportações, que trazem moeda forte para o país.

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De volta ao passado. Em 1998 a dívida externa chegou à sua máxima histórica, US$ 241 bilhões. O BC, então, decidiu parar de intervir no câmbio, e o dólar foi assumindo valores realistas de 1999 em diante. Mesmo assim, se manteve em patamares terráqueos. Cortesia das exportações. Na virada do século, o Brasil exportava US$ 60 bilhões por ano. Em 2022, foram US$ 335 bi, com superávit de US$ 62 bi – o maior da história. Foi esse progresso que consolidou o real através das décadas, e nos livrou da necessidade de fazer dívida externa para segurar a cotação do dólar.

*projeções para 2023, de acordo com o FMI

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