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E se o Bitcoin virasse a moeda única do planeta?

Rolaria uma deflação constante – e isso não é nada bom.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 26 abr 2024, 14h34 - Publicado em 14 jul 2023, 06h38
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 (Angela Dinubila/VOCÊ S/A)
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Seu salário diminuiria conforme a economia fosse crescendo. Mas não faria diferença, porque viveríamos sob uma deflação constante. Difícil mesmo seria a economia crescer. Pronto: depois dessa empilhada de três conceitos complexos, vamos para a explicação.

A grande diferença do Bitcoin sobre as moedas comuns é o suprimento. Há 19,4 milhões de Bitcoins (BTCs) em circulação hoje e mais 1,6 milhão de unidades esperando para ser mineradas das profundezas do sistema de blockchain que controla a coisa. Depois que minerarem a última unidade, acabou. A quantidade total será, para sempre, de 21 milhões de BTCs.  

Com as moedas comuns não é assim. O suprimento de dinheiro novo cresce com o tempo. Em 2013, havia R$ 4 trilhões circulando na economia brasileira (contando dinheiro em conta corrente e aplicações financeiras). Hoje, são R$ 10 trilhões. Idem para o dólar. Há 10 anos, existiam US$ 10 trilhões. Hoje, US$ 20 trilhões*. 

É daí que vem o combustível para os aumentos de preços – se não entrasse cada vez mais moeda em circulação, um litro de gasolina, por exemplo, ainda custaria R$ 0,55 – a média de 1994, ano da implantação do real, e que dá um décimo do valor atual. Por outro lado, o salário mínimo era de R$ 64 lá atrás, contra R$ 1.320 de hoje. Ou seja: o mínimo de 1994 equivalia a 116 litros de gasolina. O de 2023, a 240 litros. Isso é uma amostra de que a economia cresceu. Pelo parâmetro salário mínimo/gasolina, o brasileiro é hoje duas vezes mais rico que em 1994. 

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A economia cresce com o aumento da produtividade. Mas o que estimula esse acréscimo contínuo é justamente a produção de dinheiro novo. Grosso modo, o Banco Central imprime reais, empresta aos bancos, e os bancos dão crédito na praça. Algum empresário toma essa grana na forma de crédito e constrói uma refinaria. E aí temos mais gasolina no mercado – criada a partir da emissão de dinheiro novo.  

Imprimir moeda demais cria inflação, então os BCs têm mecanismos para drená-la da economia quando necessário. Mas essa é outra história. O ponto é que o suprimento de grana, no longo prazo, sempre cresce, no mundo todo. Isso aumenta a produtividade, enquanto joga preços e salários para cima (quase nunca em sincronia, já que os preços sobem antes, mas é o que temos).

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Bom, se der a louca no mundo e abandonarem esse sistema em favor do Bitcoin, nunca mais haverá emissão de dinheiro novo. E sem ele acaba o jogo do crescimento contínuo dos preços e salários. Caso a produtividade siga crescendo, os preços e salários terão de cair, já que a humanidade terá mais coisas para comprar sem que o estoque total de dinheiro mude. Daí a queda nos contracheques aliada a deflação contínua. 

Por outro lado, a emissão de moeda nova é o grande motor do aumento na produtividade. Sem ela, é provável que as economias acabassem estagnadas. Ou pior: que os PIBs de todos os países passassem a cair por conta da falta desse estímulo. E aí todos ficaríamos mais pobres. É basicamente o que aconteceu várias vezes ao longo da história da humanidade, quando vivíamos sob uma moeda única de suprimento limitado: o ouro. Voltar a essa realidade seria um retrocesso dantesco.

*Agregado monetário M3, tanto para o real como para o dólar. Fontes: BC e Fed.

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