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Edwiges Parra

É psicóloga organizacional, especialista em recursos humanos e fundadora da EMIND Mente Emocional
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Por que as empresas precisam cuidar da saúde mental dos funcionários

O tema está ganhando forças e as lideranças têm um papel fundamental na prevenção. Veja quais são os principais problemas de saúde mental e suas soluções

Por Edwiges Parra, colunista de VOCÊ RH
Atualizado em 29 set 2020, 15h00 - Publicado em 29 set 2020, 15h00
 (Zac Durant/Unsplash)
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A coluna deste mês tem por objetivo fazer reflexões, conexões para que vocês possam “fosforilar os neurônios” a partir dos elementos e informações que trago neste texto.

Faço um convite para esta leitura com estado psicológico de curiosidade sobre este tema que tantos de nós, amigos e familiares estamos vivenciando na atual conjuntura.

O mês de setembro traz uma menção muito importante no contexto da saúde mental:  dia 10 é a data mundial para a prevenção ao suicídio. Segundo a OMS, 90% dos casos de suicídio no Brasil e no mundo todo poderiam ter sido evitados.

Durante a pandemia, a plataforma digital da agência nova ComunicaQueMuda (CQM) monitora as redes brasileiras durante 29 dias em maio de 2020 e contabilizou 103.923 menções ao tema. Além das menções, os relatos e depoimentos cresceram, passando de 6,3% em 2017  para 23,65% em 2020.

As preocupações sobre a saúde mental se aprofundaram no Brasil a partir da crise econômica que acometeu nosso país de forma intensa e contundente em 2014 e que trouxe, nos anos seguintes, aumento do número de desempregados. Este contexto levou a população brasileira ser acometida por um excesso de preocupação, ansiedade e medo com relação a sua sobrevivência e de seus familiares.

Comunidades científicas de vários países, profissionais da saúde e órgãos como OMS (Organização Mundial da Saúde), Fóruns como o de Davos em suas edições de 2016 e 2019 levantaram suas preocupações quanto ao cenário mundial das doenças mentais e sua crescente evolução.

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Uma divulgação do Atlas de Saúde Mental 2017 (Mental Health Atlas 2017) da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que, embora alguns países tenham feito progressos na formulação e no planejamento de políticas de saúde mental, ainda há uma escassez global de profissionais de saúde treinados nessa área e falta de instalações voltadas para a saúde mental.

De acordo com Shekhar Saxena, diretor do Departamento de Saúde Mental e Abuso de Substâncias da OMS, o aumento de recursos para a saúde mental não está acontecendo com rapidez suficiente. Ainda há falta de investimentos em saúde mental e que é preciso olhar para ela como questão de urgência, pois terá custos de saúde, sociais e econômicos em uma escala que raramente vimos antes.

O fator coronavírus

Se isso já era preocupante, imaginem como esses números estão agora durante o contexto de pandemia o qual estamos vivenciando. Se não bastasse a luta pela sobrevivência de uma saúde financeira em meio a uma crise econômica, imaginem ter que lidar com algo tão inesperado, invisível, incerto que tem sido covid-19, que nos colocou diante da luta pela preservação da nossa saúde física e mental.

Some-se a isso ao rápido avanço da doença e o excesso de informações disponíveis, algumas vezes discordantes, e temos um cenário favorável para alterações comportamentais impulsionadoras de adoecimento psicológico, que podem gerar consequências graves na Saúde Mental e do indivíduo (C. K. T. Lima et al., 2020).

Tudo isso impacta o mundo do trabalho em todas as suas estruturas, desde a gestão de negócios, processos, mercados, tecnologias, logísticas, comercial até chegar às pessoas. Afinal tivemos que nos adaptar para driblar adversidades e mudanças nos relacionamentos pessoais e profissionais para tentar sair “ilesos“ (dentro do possível) das consequências negativas.

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Qual o papel das empresas?

As empresas deverão atuar para reduzir o impacto do estresse no trabalho, já que promover um ambiente laboral saudável influencia diretamente a sustentabilidade dos negócios.

O ser humano está no centro disso tudo e não podemos esquecer que outras variáveis também foram impulsionadas e aceleradas por conta da pandemia, como o avanço das tecnologias de convergência 4.0, a inteligência artificial, a internet das coisas e por aí vai. Tudo para dar conta dessas mudanças que também influenciaram o modus operandi do mercado em atuar e se reinventar.

Nem todos os trabalhadores estão preparados para atuar nesse ritmo, imaginem agora com essa aceleração no contexto novo? Tudo isso gera muito desgaste físico e mental, que muitas vezes podem causar doenças para aqueles que não se adaptam ao novo mundo.

Outro ponto, diz respeito ao quanto estamos vivendo no modo online. É preciso atentar ao excesso de informações, horas excessivas de trabalho, maior tempo conectado por meio de dispositivos eletrônicos, interações em demasia em redes sociais.

A ausência de cuidados pode gerar um grande impacto nos negócios. Conforme divulgado pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, mais de 80% dos pacientes com depressão associaram a doença às dificuldades no trabalho. No Brasil, a realidade é bem semelhante, visto que o índice de absenteísmo e de abandono de emprego por questões de ordem mental é bem significativo.

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Como cuidar da saúde dos funcionários

 Divido aqui os principais problemas que impactam a saúde mental dos funcionários e como as empresas podem atuar para combatê-los.

Problemas

Estresse excessivo

Profissionais que exercem funções que exigem muita responsabilidade podem sofrer mais com episódios de ansiedade, estresse ou depressão. Ao passo que traz o adoecimento mental, esse cenário traz consequências como a redução da produtividade, o que tende a colocar em risco a sustentabilidade dos negócios.

Síndrome de burnout

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Um estudo que foi amplamente divulgado pela mídia mostrou que 72% dos trabalhadores brasileiros sofrem com estresse, e desses, o percentual dos que vinculam o estresse à síndrome de burnout chega a 30%. Esse transtorno é um dos que mais atingem os ambientes organizacionais, sobretudo pessoas com cargos hierárquicos mais altos. Nesses casos, a pressão e o estresse do trabalho levam ao esgotamento mental e físico, o que caracteriza o burnout.

Síndrome de Boreout

É uma variante da síndrome de burnout. Seus principais sintomas são: exaustão emocional, perda do interesse pelo trabalho e esgotamento causado pelas situações de estresse nos ambientes laborais. O boreout é conhecido como presenteísmo, condição em que o profissional está apenas de corpo presente na empresa, mas com a mente totalmente afastada de sua função no trabalho.

Nessas condições, há perdas para ambas as partes: o trabalhador fica preso ao trabalho e não busca ajuda, por vários motivos, seja por medo ou vergonha; enquanto o empregador incorre no risco dos prejuízos gerados pela baixa ou nenhuma produtividade.

Soluções

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Para melhorar o bem-estar mental, o RH pode investir nas seis ações abaixo. Mas não pode ser algo isolado, é preciso ter gestão sobre os programas para que eles se tornem efetivos e consistente.

  • Criar um projeto de psicoeducação preventiva, que ajuda a reverter casos de faltas recorrentes provocadas pelo presenteísmo e até minimiza o risco do envolvimento com drogas no trabalho.
  • Promover programas sobre saúde mental que contemplem informações sobre o tema
  • Proporcionar ciclos de palestras que ensinem técnicas de relaxamento para controle dos problemas que causam instabilidade mental nos funcionários. Os profissionais da área da saúde são os habilitados e especializados para isso.
  • Organizar roda de conversas para empregados tirarem dúvidas e compartilharem suas experiências (mas atenção: isso não é terapia de grupo).
  • Incentivar roda de conversas para os líderes falarem sobre as dificuldades do dia a dia e para orientá-los com informações sobre os sinais de alerta em termos de saúde mental, ao quais precisam atentar em suas equipes.
  • Oferecer rede apoio, serviços de terapia on-line e fazer gestão sobre a qualidade de vida e bem-estar são importantes.

Vale ressaltar que é preciso investir em profissionais qualificados (como médicos e psicólogos) que desenvolvem atividades de promoção e de prevenção da saúde dentro das empresas. Eles são mais aptos à identificação de sintomas de ansiedade, estresse ou depressão – e ter esse diagnóstico é essencial para o acompanhamento ou o tratamento precoce, o que evita a evolução para quadros mais graves.

Espero que essas reflexões tragam uma melhor amplitude de pensamento e ações sustentáveis sobre a saúde mental. É um tema que veio para ficar e que influencia a longevidade e saúde de todos nós.

Afinal, só temos capital intelectual com saúde mental, não é mesmo?

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Edwiges-Parra
(Divulgação/VOCÊ S/A)

 

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