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Claudio Lottenberg

Médico oftalmologista, é presidente do conselho do Hospital Albert Einstein e do Instituto Coalizão Saúde. Também atua como conselheiro da Unicef.
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O maior desafio da liderança em tempos de pandemia

O cuidado e o apoio do líder perante a equipe neste momento crítico pode formar gestores mais confiáveis e equipes mais motivadas para quando a crise acabar.

Por Claudio Lottenberg
Atualizado em 26 abr 2021, 15h56 - Publicado em 26 abr 2021, 15h45

Que o mundo que conhecíamos foi transformado pela covid-19 já está claro. Ainda é, óbvio, o mesmo mundo, mas já não fazemos mais uma série de coisas da forma como fazíamos – e liderança e inovação se encaixam nesse rol de conceitos transformados pela nova realidade. Inovação significa mudança, adaptação e melhoria. Em termos de criação de ferramentas tecnológicas e ganhos de eficiência, as inovações estão e estarão sempre a caminho. O que a pandemia fez foi pisar um pouco mais fundo no acelerador.

Sobre liderança, no entanto, é preciso lançar um olhar um pouco mais detido. O local de trabalho hoje não é mais o mesmo, nem as relações entre colaboradores. Nem mesmo a própria noção de trabalho, com o “novo normal” de horários flexíveis e hierarquias fluidas – que podem acabar, por exemplo, em síndrome de burnout, tanto para líderes como para liderados. Um levantamento de agosto de 2020 feito pelo site americano FlexJobs em parceria com a ONG Mental Health America mostra que, dos americanos empregados, 42% disseram estar com seu nível de stress alto ou muito alto – e entre os desempregados, 47% disseram estar na mesma situação. Entre os principais fatores apontados pelos entrevistados como causa estavam: covid-19; finanças pessoais; preocupação com a saúde da família; e compromissos de trabalho.

Quais traços o perfil da liderança terá de ter então nesses novos tempos de covid-19? Qualquer lista desse tipo terá uma seleção variada de itens, mas alguns que parecem indispensáveis são os seguintes:

Empatia
Ferramentas de comunicação e colaboração, hoje dispomos de várias – WhatsApp, Zoom, Teams etc. Servem para agilizar o fluxo de trabalho e falar com clientes, claro – mas devem servir também para não deixar que a sensação de isolamento derive para a de abandono. As pessoas podem, e em certa medida devem, manter a comunicação aberta por meio delas. Líderes saberão que uma integração maior com a equipe é salutar. Ouvir e mostrar empatia serão muito importantes. Afinal, líderes são tão humanos quanto seus liderados.

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Foco
Também será preciso, talvez como nunca antes, saber dar foco à equipe. Em home office, boa parte de todos os dias se passa diante da tela do computador. Enquanto isso, mensagens nos apps, reuniões virtuais súbitas, telefones tocando – tudo isso drena nossa atenção, paciência e vontade. Saber a o quê dar atenção, em que ordem realizar tarefas, entender as prioridades de cada coisa – tudo isso fica muito mais fácil se a liderança tem uma visão clara do projeto e sabe onde é preciso chegar.

Resolutividade
É preciso encarar, no entanto, que todos sairemos desta crise abalados – muitos profundamente. A perda de um familiar, a fragilização da economia que pode custar muitos empregos, saber conduzir uma equipe, ou uma empresa, num cenário econômico deteriorado – isso e muito mais vão exigir habilidade para tomar decisões difíceis e ao mesmo tempo inspirar confiança e segurança nos liderados.

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Espírito de equipe
Como disse, líderes são tão humanos quanto seus liderados. Fazer parte da equipe, mas não como aquele que só sobrevoa despejando ordens, e sim como um membro efetivo. Participar do desenvolvimento de um projeto, aceitar sugestões, desprender-se da hierarquia, tudo isso pode ajudar a “pensar fora da caixa” e a tornar o fluxo de trabalho mais ágil. Além de deixar a imagem de alguém em quem se pode confiar, de alguém que inspira e motiva. Em tempos sombrios como o atual, isso pode fazer uma imensa diferença.

Resiliência
O risco de tomar decisões mal informadas, movido pela pressão de curtíssimo prazo, pode custar a credibilidade da liderança. Ter a cabeça no lugar e decidir com olhos no melhor resultado é crucial.

A crise da covid-19 vai passar, e depois dela é que se verá como os líderes se portaram durante essa provação. Cuidar e apoiar agora criará equipes motivadas e coesas, e conscientes de que têm à frente uma condução segura e na qual podem confiar.

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