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Trabalhar demais faz você tomar decisões burras, diz estudo

Cuidado: decisões importantes tomadas sob fadiga podem custar caro lá na frente.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 20 ago 2021, 12h50 - Publicado em 12 jul 2021, 17h29

Exagerar nas horas extras traz uma série de problemas que você já conhece: ansiedade, estresse, síndrome de burnout… Mas se isso não é o suficiente para repensar a rotina de trabalho, saiba: trabalhar demais diminui a qualidade da sua produção – e faz você tomar decisões não muito brilhantes, que podem custar caro lá na frente.

Foi o que concluiu um novo estudo feito por psicólogos da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e publicado no periódico científico Royal Society Open Finance. Os pesquisadores acompanharam profissionais de um banco cuja função principal era analisar pedidos de renegociação de dívidas – de gente que tinha feito algum empréstimo no banco e não conseguia pagar. Cada funcionário teve de analisar, em média, 46 casos por dia, e decidir se valia ou não a pena renegociar a dívida com o cliente. Nos casos em que não vale a pena, espera-se que o tomador do empréstimo tenha condições de quitar mesmo sem uma renegociação, o que potencializa o lucro do banco. O pior cenário é sempre o de inadimplência, com ou sem renegociação. No total, analisaram mais de 26 mil solicitações.

Os pedidos eram distribuídos aleatoriamente para os profissionais ao longo do dia, por um software. Em geral, só 40% das solicitações de renegociação eram aceitam pelos analistas – mas esse número variava bastante ao longo do dia. No início do expediente, as taxas de aprovação dos pedidos eram maiores, e diminuíam quando o horário do almoço se aproximava. Após o break, elas voltavam a subir – mas caíam bastante nas últimas duas horas de trabalho, quando o pessoal já estava mais exausto.

E aí entra o pulo do gato do estudo. Os pesquisadores foram capazes de descobrir se, depois, aquelas mesmas dívidas foram pagas ao banco. Resultado: os casos em que a renegociação tinha sido aprovada pelos analistas resultaram em um maior número de dívidas quitadas, enquanto os casos em que a renegociação não foi para frente acabaram com mais frequência em calote.

Ou seja: aprovar a maioria dos pedidos de renegociação teria sido melhor para o banco. E, de fato, os profissionais tendiam a aprovar mais quando estavam descansados e com a barriga cheia, mas passavam a negar uma quantidade maior de pedidos no final do expediente ou quando estavam com fome – não por incompetência, mas porque a fadiga os impedia de analisar a situação com a clareza necessária.

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A equipe do estudo foi além e estimou que, se todas as decisões de todos os analistas fossem tomadas somente nos períodos em que suas produtividades estivessem no topo, o banco teria economizado mais de US$ 500 mil em um só mês.

Este não é o único estudo nessa linha. Uma pesquisa de 2011 mostrou que juízes de Israel concediam menos decisões de liberdade provisória à medida que o tempo de seus expedientes ia passando. Em um outro artigo, cientistas descobriram que médicos tendem a prescrever mais antibióticos nas fases finais de seus cansativos plantões – mesmo quando os medicamentos eram desnecessários.

Em suma, o pessoal “toca o f*da-se” quando está cansado. E, ao contrário do que certos livros de auto-ajuda pregam, isso tende a dar ruim. A solução mais óbvia para evitar esses tilts é adotar intervalos durante o expediente – nem que sejam quinze minutos para tomar um café, conversar com os colegas, dar uma alongada.

Mas o artigo também sugere uma outra medida importante: tarefas que exigem muita atenção e análise de casos complexos devem ficar para os horários em que você esteja mais descansado. Para os momentos mais indigestos do expediente vale deixar as tarefas mecânicas, que não exigem grande coisa do cérebro.

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