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Por que você tem que se importar com as vidas dos negros

A morte do americano George Floyd criou um movimento global pelo fim do racismo. Entenda por que todos precisam se engajar nesta causa, ainda mais no Brasil

Por Liliane Rocha*
5 jun 2020, 13h21

Seja pelo novo coronavírus ou pela violência policial, o racismo estrutural se mostra evidente na vulnerabilização da população negra. Recentemente, a morte de George Floyd pareceu ser a última gota d’água para a população negra norte-americana.

Em alguns estados americanos, essa população representa, não por coincidência, 70% das mortes pela covid-19, uma doença que, entre diversos outros sintomas, ataca o sistema respiratório e pulmonar.

No Brasil, país em que 55,8% da população é composta por negros, 4.353 negros foram assassinados pela polícia só em 2019. Lembro aqui algumas: a morte de João Pedro de 14 anos, em 18 de maio, dentro da sua casa, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. A de Bianca Regina, que tinha 22 anos e também foi morta dentro de casa, em 22 de maio, na Cidade de Deus, também no Rio de Janeiro.  A dos nove jovens de Paraisópolis que, durante uma ação da polícia, foram mortos em um baile funk em São Paulo.

Quando falamos da capital paulista, um dos epicentros da pandemia no Brasil, dados da prefeitura apontam que a doença é mais letal em bairros periféricos, mata até 10 vezes mais em áreas de pior inclusão social e que pretos têm 62% mais chances de morrer por covid-19 do que brancos.

 

Essa confluência de acontecimentos – pautada no racismo histórico e estrutural, expresso em última instância e de forma tão impactante pelos casos de violência policial, cujos desfechos são mortes – somada a quantidade de mortos pela pandemia está sendo impactante para a população negra, global e brasileira. Por isso a frase: “I can’t breathe”, em tradução livre “eu não posso respirar”, proferida por George Floyd em seus últimos minutos de vida, ganhou o mundo.

Segundo a ONU, a cada 23 minutos um jovem negro morre no Brasil: 75% dos jovens que morrem em homicídios são negros, que também representam 75% dos que vivem na pobreza. Não podemos respirar! Literalmente, a vida negra tem sido interrompida e o mais grave é que naturalizamos esses acontecimentos.

Momento de reflexão

Embora sempre que algum episódio de violência contra negros ocorre no Brasil, e tenha na sequência algumas manifestações pontuais, de maneira geral, não há pronunciamentos governamentais expressivos ou ações e investimentos das grandes empresas brasileiras, contra a violência sistemática a qual é subjugada a população negra.

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Mais da metade ou 55,8% da população brasileira é formada por negros. Nos Estados Unidos, 14% da população é composta por negros. Em que pese os processos de escravização terem sido diferentes, bem como a história em si de cada um dos países, destacamos, por exemplo, a luta pelos direitos civis na década de 60, que foi liderada por Malcolm X e Martin Luther King.

Claro, também tivemos lutas por direitos da população negra aqui. Uma das mais conhecidas, por exemplo, é a Balaiada. Contudo, não podemos deixar de refletir sobre o apagamento dessa história (e das lideranças negras) no ensino formal e na vida cotidiana brasileira.

Por isso, agora é um momento de importante reflexão. Não podemos mais pactuar com a morte generalizada de mais da metade da população brasileira. Esta é uma responsabilidade de cada um de nós, de todos nós, individualmente, em nossas empresas, no poder público e na sociedade em geral. Precisamos parar, revisitar nossa história e garantir os mecanismos de luta pela igualdade que são necessários. Quem sabe assim, enfim, possamos respirar. Todos em paz.

*Liliane Rocha é fundadora e CEO da consultoria Gestão Kairós e autora de Como Ser um Líder Inclusivo (Scortecci Editora, 35 reais)

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