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Nepo babies? Nos EUA, 30% dos jovens têm ou tiveram cargos arranjados pelos pais

E seus salários são 19% superiores à média de seus pares em início de carreira. Isso não acontece só com CEOs ou filhos de famosos (como Lenny e Zoe Kravitz aí na foto): trata-se de um fenômeno disseminado por todas as classes sociais. 

Por Bruno Vaiano
Atualizado em 29 mar 2023, 17h43 - Publicado em 29 mar 2023, 17h36

Já ouviu falar no termo nepo baby? É a versão abreviada de nepotism baby, “bebê do nepotismo”. A expressão se popularizou em inglês como um cutucão em filhos de celebridades que, ao que tudo indica, usam a fama de seus pais para dar aquela alavancada na carreira. Tipo a filha do Steven Spielberg, Destry Spielberg, que dirigiu um curta-metragem roteirizado por Owen King, filho de Stephen King, e protagonizado por Hopper Penn, filho de Sean Penn. Me vê o combo, por favor. 

Mas é claro que não é só a classe artística que usa dos privilégios de berço. Uma pesquisa realizada pela Opportunity Insights – um centro de pesquisa em ciências sociais incorporado à Universidade Harvard que pesquisa desigualdade e acesso ao trabalho nos EUA – revelou que 30% dos americanos serão contratados pelos pais ou trabalharão na mesma empresa que os pais em algum momento até os 30 anos de idade, e que isso aumenta o primeiro salário em 19%, em média. 

Não estamos falando de cargos de colarinho branco nem de filhos mimados de CEOs, ao melhor estilo da série Succession. De fato, a amostra utilizada na pesquisa excluiu os 1% mais ricos da população – o que elimina a distorção causada pelos clãs de nepo babies da elite cultural ou financeira (bem como o problema de que o grosso da renda dessas pessoas vem de bens e investimentos, e não de salário, o que complicaria desnecessariamente o levantamento).

Os 10% mais pobres também ficaram de fora, porque a base de dados usada na pesquisa (um dataset com informações sobre 26 milhões de americanos, gerado pelo IBGE deles, o Census Bureau) não registra bem trabalho informal e outras fontes de renda dos mais pobres. Se você é um vendedor ambulante e trabalha com seu filho, essa informação evidentemente não vai constar de nenhum sistema de governo que registre laços entre empregados e empregadores. 

Os 89% restantes, portanto, ilustram um fenômeno de classe média: os pais em questão geralmente são funcionários, que recomendam seus filhos aos patrões – ou pequenos empreendedores que recebem ajuda em um negócio familiar. “São jovens que (…) acabariam ganhando um salário mínimo em um fast food, mas que, com a ajuda de seus pais, conseguem acesso a uma construtora ou a uma fábrica”, explica Matthew Staiger, autor da pesquisa, no site de notícias de Harvard.

É claro que a riqueza permanece uma variável importante, mesmo com o recorte que exclui os extremos de renda. Quanto mais dinheiro têm os pais, mais provável é que os filhos trabalhem para as empresas deles (ou nas mesmas empresas que eles). Também há um recorte de gênero: filhas têm duas vezes mais chances de serem contratadas pelos negócios de suas mães, enquanto os filhos têm 1,5 mais chances de trabalharem com seus pais. 

Por fim, há o racismo: cerca de 4% da desigualdade salarial média entre homens negros e brancos é oriunda dos cargos conseguidos pelos pais dos homens brancos. Curiosamente, porém, esse efeito não se aplica às mulheres negras, que – pelo menos nos EUA – são nepo babies com a mesma frequência que as brancas. Eis uma observação que pode pautar novos estudos – e, eventualmente, políticas públicas melhores no campo do emprego. 

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