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Canadá espera atrair 1 milhão de imigrantes até 2023. Veja como ser um deles

Para conseguir um visto, o processo é rigoroso. Conheça as exigências e saiba como alcançar o canadian way of life.

Por Texto: Juliana Américo | Ilustração: Gustavo Magalhães | Design: Brenna Oriá | Edição: Tássia Kastner
Atualizado em 17 jan 2022, 18h11 - Publicado em 14 jan 2022, 05h56

O Canadá recebeu, só nos primeiros nove meses de 2021, 1,3 milhão de pedidos de estrangeiros querendo morar no país. Bastante para uma população de apenas 38 milhões de habitantes. Não é de hoje. 22% dos canadenses atuais não nasceram no Canadá.

Faz um tempo que o país criou um plano de guerra para atrair trabalhadores qualificados. Todos os anos, o Ministério da Imigração canadense atualiza a meta de quantos imigrantes serão aceitos em programas de seleção bastante rigorosos – vamos falar deles já, já. O plano atual é receber 1,2 milhão de pessoas entre 2021 e 2023, 20% a mais do que a meta estabelecida para 2020. No ano passado, o governo também anunciou um investimento de US$ 100 milhões para os próximos três anos com o objetivo de melhorar os programas de integração de recém-chegados, que ajudam a pessoa a conseguir trabalho, aprender o idioma e encontrar um lugar para morar.

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(Brenna Oriá/VOCÊ S/A)

Aos aprovados, o Canadá concede residência permanente (ou PR), uma espécie de green card canadense. O documento permite que a pessoa viva e trabalhe no país sem precisar retornar para o seu local de origem após um determinado prazo. Com o PR, o imigrante tem acesso a serviços públicos, como saúde e educação. Depois de três anos como residente permanente, o imigrante pode entrar com o pedido de cidadania. Aí ele passa a ter os mesmos direitos de quem nasceu lá. O governo estima que 85% das pessoas que vão para o país se tornam cidadãos canadenses.

Sem os imigrantes, fica difícil encontrar trabalhadores em número suficiente para preencher as vagas disponíveis no mercado. “A imigração ajuda o Canadá a se manter competitivo e atrair talentos de todo o mundo. Também reconhecemos que os imigrantes trazem conjuntos de habilidades únicas, ideias inovadoras e experiência global, que ajudam a desenvolver o país”, afirma Sabrina Williams, porta-voz do Ministério da Imigração.
​​Tem espaço para todos os perfis, mas o foco são pessoas de até 35 anos que já tenham curso superior, dominem inglês ou francês e ainda tenham recursos financeiros. Para pedir visto para o Canadá, é exigida a comprovação financeira de CAD$ 10 mil (R$ 44.200) para um período de 12 meses.

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(Gustavo Magalhães/VOCÊ S/A)

Juntando pontos

Há 70 programas de imigração disponíveis no Canadá, cada um com sua especificidade: existem os voltados para trabalhadores rurais e até para parentes de pessoas que já moram no país. Também são lançados programas-piloto de acordo com a demanda. Entre abril e novembro, por exemplo, o governo abriu um programa para recrutar profissionais da área de saúde para ajudar no combate à Covid-19. Não à toa, existem agências de imigração especializadas em descobrir qual programa é o ideal para cada candidato – e ajudam no processo de candidatura. Mas, claro, esses serviços são pagos.

O mais importante dos programas é o Express Entry (EE) – 40% conseguem residência permanente por ele. Esse é um processo de imigração federal, baseado em um sistema de pontuação. O máximo é 1.200 pontos. A pessoa é pontuada de acordo com a sua idade, formação acadêmica, experiência profissional, proficiência nos idiomas oficiais e se tem uma oferta de emprego no país (e os pontos de cônjuges também podem ser somados). O imigrante também precisa ser elegível para um dos seguintes programas:

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– Federal Skilled Worker Program (FSWP): destinado a trabalhadores qualificados e com experiência de trabalho;
– Federal Skilled Trades Class (FSTC): para trabalhadores de ocupações técnicas, como profissionais da construção civil e operadores de máquinas industriais;
– Canadian Experience Class (CEC): pessoas com pelo menos um ano de experiência profissional no Canadá.

Quanto maior for a pontuação, maiores são as chances de receber um Invitation to Apply (ITA), que é o convite de residência permanente. A cada 15 dias, o governo determina uma nota de corte e convida um grupo de sortudos. Na última rodada de 2021, a nota mínima foi de 720 pontos e 746 pessoas receberam o ITA. Mas isso varia. Em setembro, 2 mil pessoas com pontuação mínima de 462 foram convidadas.

Em geral, as notas mais baixas de corte giram em torno dos 400 pontos. Mas, mesmo que a pessoa não consiga uma boa classificação no EE, ela pode participar dos programas de imigração de uma das dez províncias e três territórios que compõem o país. E isso ainda ajuda a ganhar mais pontos para o Express Entry.

Foi o que aconteceu com Fábio Damasceno, de 44 anos, e sua esposa Alexandra Socalschi, de 39 anos. O casal trabalhava na área de supply chain aqui no Brasil e tinha o sonho de imigrar para oferecer uma qualidade de vida melhor para a filha.

No início de 2019, a família começou a pesquisar sobre o Canadá. “Nós vimos quais eram as opções e eu decidi tentar um visto de trabalho, enquanto o dela foi por estudos”, afirma Fábio. Como ele já tinha um cargo de gerente por aqui e falta mão de obra na área de supply chain, ele foi aceito no British Columbia Provincial Nominee Program, o programa da província de Colúmbia Britânica.

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O sistema local também usa uma base de pontos, mas eles dão preferência para os profissionais que estão em falta na região, como da área de TI, logística, engenharia e saúde. Por isso, o processo do casal foi rápido. Em seis meses, eles já estavam desembarcando em Vancouver – onde estão há três anos.

E Fábio afirma que não teve problemas no quesito trabalho. “Consegui emprego na minha área uns 30 dias depois que eu comecei a procurar. Percebi que se você vier preparado do Brasil, com um inglês bom e uma experiência legal de trabalho, dá para se recolocar rápido no mercado.” A família recebeu a residência permanente em novembro.

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Estudar e trabalhar

Um dos caminhos que muitos imigrantes seguem é o Post-graduation Work Permit, mais conhecido como PGWP. Com ele, é possível estudar e ainda conseguir um visto temporário de trabalho. E esse tempo acadêmico e de experiência profissional também somam pontos preciosos no EE.
Funciona assim: a pessoa precisa fazer um curso de no mínimo oito meses em uma instituição canadense que esteja no Designated Learning Institutions, uma lista de universidades e faculdades liberadas para o programa. Depois de formada, ela entra com o pedido de PGWP e pode conseguir um visto de trabalho equivalente ao período de estudos.

Ilustração com a temática da matéria.
(Gustavo Magalhães/VOCÊ S/A)

Então, se o curso foi de dez meses, o visto também será de dez meses – totalizando um ano de oito meses no país. Agora, se o programa de estudos tiver duração de dois anos ou mais, aí o limite máximo é de três anos. Um curso de quatro anos te dá direito a mais três anos de visto de trabalho.

Leonardo Espinosa, de 34 anos, mudou-se para Toronto em 2016 para estudar Redes de Computadores. “Eu já trabalhava com TI no Brasil, mas não tinha uma formação acadêmica. Esse foi um dos motivos que me levaram a escolher estudar aqui, além de ser um processo mais rápido.” De fato, ele tomou a decisão de se mudar em julho e, em setembro, já estava com as malas prontas.

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Durante os estudos, o imigrante pode trabalhar por meio período. O cônjuge – para quem for imigrar com a família – recebe um visto de trabalho de período integral. Ter mais de uma fonte de renda é uma boa estratégia, porque a imigração via estudo exige um investimento financeiro maior. Um curso de Administração na Centennial College (uma instituição pública da província de Ontário) sai pelo equivalente a R$ 18 mil por ano para um canadense. Já um estudante de fora precisa desembolsar R$ 75 mil pelo mesmo período – a ideia é que os cidadãos já pagam boa parte dos custos em impostos, por isso o valor é menor.

E foi o que aconteceu com a esposa de Leonardo, ela recebeu o visto de trabalho. “Como eu só podia trabalhar meio período, não conseguia emprego na minha área. Então trabalhei em restaurante, farmácia. Só fui conseguir oportunidade na minha área depois que me formei.” O curso do Leonardo durou dois anos e ele recebeu um visto de trabalho de três anos. O casal já está com a residência permanente há um ano e meio, e conta os dias para entrar com o pedido de cidadania.

Mas detalhe: o PGWP só vale para cursos de ensino superior e profissionalizantes. O pessoal que vai estudar inglês ou francês não tem permissão para trabalhar por lá. Tampouco o tempo de estudo conta como experiência acadêmica para a imigração.

Um país chamado Quebec

Quebec é uma exceção nos programas regionais de atração de estrangeiros. Ela é a única província que tem o francês como língua nativa oficial e, desde 1991, é responsável por definir suas próprias regras de imigração. Por isso, não participa do Express Entry. A pessoa que trabalha ou estuda na região não ganha pontos no sistema federal.

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O que o imigrante precisa é do Certificado de Seleção de Quebec (QSC). Ele é obtido quando a pessoa é aprovada para algum programa de trabalho, estudo, investimento ou empreendedorismo da região. Os principais são o Quebec Skilled Worker Program (QSWP) e o Programme de l’expérience québécoise (PEQ). O primeiro é voltado para profissionais qualificados que nunca atuaram ou estudaram lá. Já o segundo é para quem fez um curso de formação superior na região ou já tem um visto temporário de trabalho.

O interessado precisa aplicar o seu pedido na Arrima, uma plataforma online que o governo local utiliza para controlar os processos de imigração e liberar o QSC. Com o certificado em mãos, aí, sim, dá para pedir ao governo federal um visto de residente permanente.

Marcelo Duca, de 38 anos, já saiu do Brasil com emprego garantido. Ele trabalha como scrum master – um gerente de projetos em metodologia ágil – e participou de uma missão de recrutamento para uma empresa da cidade de Quebec. “Em 2013, eu passei um ano estudando inglês em Vancouver. Mas quando decidi imigrar, optei pelo Quebec porque as outras regiões do país estão mais abertas para desenvolvedores e isso foge do que eu gosto de trabalhar.”

A empresa ajudou com todas as burocracias de visto para que Marcelo e o marido se mudassem em dezembro de 2019, já com o QSC e a residência permanente garantidos. Ele foi com o visto de trabalho e o parceiro com um visto aberto, que dava direito a estudar e trabalhar. Agora estão esperando o período mínimo para pedir a cidadania.

Apesar das diferenças, o Canadá não só apoia o sistema quebequense como tem interesse em ampliar a imigração francófona. Em 2018, foram destinados US$ 40,8 milhões para iniciativas que atraíssem esses imigrantes. O plano é que, até 2023, 4,4% dos admitidos fora do Quebec falem francês. E, em 2020, até a pontuação no EE mudou: quem domina o idioma acaba recebendo mais pontos. Só mais alguns passos do governo para a criação do canadian way of life.

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Fontes: Ana Cláudia Cardoso Braga, advogada especializada em Direito Internacional da Toledo Advogados; Daniela Mossini Miskulin, consultora educacional de imigração na INGWE Immigration; Câmara de Comércio Brasil-Canadá; e Quebec International.

 

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