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As lições do coronavírus, segundo o sociólogo italiano Domenico de Masi

O vírus nos ensinou muitas coisas, mas o aprendizado também depende do aluno, diz o sociólogo Domenico de Masi

Por da Redação
Atualizado em 29 Maio 2020, 09h50 - Publicado em 28 Maio 2020, 06h00

São Paulo – No mês de maio, o sociólogo italiano Domenico De Masi viria ao Brasil para uma série de palestras. Com a pandemia de coronavírus , seus planos não se concretizaram fisicamente, mas sua presença virtual é garantida no congresso gratuito online, nesta quinta-feira,28, e sexta 29, sobre emoções.

Antes do evento, o sociólogo conversou, de sua casa na Itália, com a equipe da Eleva Educação, e falou sobre ócio criativo, trabalho, estudo. Também compartilhou sua percepção acerca das lições da pandemia de coronavírus para o mundo. Confira a fala do sociólogo na íntegra:

“É claro que estamos passando por um momento excepcional; um momento que começou e esperamos que acabe o quanto antes. Esse momento excepcional, dominado pelo vírus e pelo medo, também foi um momento de aprendizado; o vírus nos ensinou muitas coisas.

A natureza é potente, que o Homem não conseguiu vencer ainda a natureza, que não tem toda a força que achava ter. É uma ilusão acreditar que o Homem consiga vencer a natureza; basta um morcego chinês para colocar o mundo em uma situação terrível.

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Esse vírus nos ensinou sobre a importância do espaço e a importância do tempo; antes tínhamos muito espaço, pegávamos o avião, o carro e o trem, mas tínhamos pouco tempo, não tínhamos tempo. Agora, temos o oposto; temos muito tempo, mas não temos espaço, pois estamos trancados em casa. Ainda bem que a internet nos concede espaço e permite que fale com o Brasil, ficando em casa. Porém, no mês de maio eu iria ministrar várias palestras no Brasil, no entanto, não foi possível. O espaço reduziu rapidamente e o tempo aumentou.

O vírus nos ensinou a importância das coisas essenciais; fez-nos compreender que a vida e a saúde são necessárias e que a democracia também é, assim como a economia.

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Ele nos fez entender a fragilidade das pessoas mais velhas; das pessoas mais pobres e dos sem-teto. Esta pandemia, na Itália, fez-nos compreender a importância do Estado democrático, que se torna solidário a todos. Fez-nos entender que o bem-estar social é importante, assim como a saúde pública. Na Itália, todos os que foram salvos, foram salvos pela saúde pública e não pela saúde privada. Morreram 140 médicos salvando vidas, e todos da saúde pública, nenhum médico da rede privada.

Fez-nos entender a importância do trabalho voluntário e do terceiro setor; que entendamos a importância da competência, é importante a competência dos virologistas, pois são eles quem nos dizem o que é preciso ser feito.

Fez-nos compreender a importância das decisões, como são delicadas nesse momento em que tudo está acontecendo rapidamente e sem experiência, devemos tomar decisões para os outros. Mostrou-nos também a importância da tolerância; precisa-se ser tolerante com quem erra por não ter experiência. Ensinou-nos a importância da comunicação, que é fundamental em um momento de pandemia; ela não deve ser nem excessiva nem escassa, deve ser pontual e tempestiva.

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Por fim, ensinou-nos a importância da socialdemocracia em contraponto ao neoliberalismo.  Veja, o vírus no ensinou muitas coisas, mas, isso não significa que aprendemos. O aprendizado não depende apenas do professor, mas também do aluno. É essencial que se veja ao final se o processo de aprendizado ocorreu ou não. “

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