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Cris Kerr

Por VOCÊ S/A
Cris Kerr é CEO da CKZ Diversidade, consultoria especializada em Inclusão & Diversidade, professora da Fundação Dom Cabral, Mestra em Sustentabilidade e idealizadora do Super Fórum Diversidade & Inclusão.
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Como a cultura machista cria padrões inconscientes que precisam ser desconstruídos

80% dos homens americanos têm dificuldade de identificar ou expressar os seus próprios sentimentos. E isso pode afetar a vida profissional.

Por Cris Kerr
24 jun 2021, 16h00

A construção da masculinidade se forma quando o homem ainda é uma criança. Muitos pais e mães (ou quem cria a criança) usam frases como “isso é coisa de mulherzinha”, “homem não chora”, “seja homem”. Essas são apenas algumas das frases que podem parecer inofensivas, mas contribuem para que os meninos cresçam com a construção de estereótipos, crenças e padrões contrários à sua essência humana.

A Associação Norte Americana de Psicologia estima que 80% dos homens nos EUA sofrem de “alexitimia”, uma característica que dificulta identificar ou expressar os seus próprios sentimentos. Muitas vezes essa dificuldade em conseguir expressar o que sente ou até mesmo a questão de ter que provar a própria masculinidade a todo custo, leva muitos homens a fugir do controle, partindo para a agressividade verbal ou violência física.

Estes padrões são chamados de “masculinidade tóxica”, algo que vem permeando nossa sociedade há muitos anos, mas só há pouco tempo tivemos mais acesso e maior entendimento sobre este termo. Os homens demonstram tal toxicidade, muitas vezes, de forma inconsciente, em atitudes como agressividade excessiva, medo de ser fraco ou parecer feminino, medo de falar ou demonstrar sentimentos. Afinal, crescemos em uma sociedade patriarcal onde muitas dessas atitudes são vistas como “comuns”, já que a necessidade de provar a masculinidade é imposta de forma constante.

O termo “masculinidade tóxica” refere-se a uma construção histórica, que dita a forma como os homens devem se comportar. Tal cultura faz com que esses homens tenham dificuldade em lidar com as emoções e em falar sobre os seus sentimentos. Assim, eles se tornam pessoas emocionalmente restritas e, muitas vezes, buscam por alternativas que os façam fugir da realidade, com hábitos que levam à autodestruição, com o consumo excessivo de álcool e drogas, além do número elevado de suicídios em comparação com as mulheres.

Felizmente, esse tema tem sido mais abordado nos últimos anos e traz à tona a importância do diálogo e do despertar dos homens para todos os malefícios que a questão impõe, principalmente porque impacta a saúde emocional e o comportamento, além de refletir diretamente nas relações humanas da nossa sociedade.

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Esses padrões de comportamento envenenam os homens e suas relações pessoais e profissionais, pois reforçam a ideia de que eles precisam ser duros, agressivos, autossuficientes, competitivos, devem resolver os seus problemas sozinhos, ser o provedor principal da casa e devem ter as mulheres sob controle.

E quando falo sobre a vida profissional, reforço a ideia de que para termos líderes mais inclusivos é preciso autoconhecimento e inteligência emocional, para que eles aprendam a perceber, em primeiro lugar, suas próprias emoções, e aí sim saibam lidar com as emoções das pessoas do seu time.

Precisamos desconstruir o estereótipo de que os homens são racionais e as mulheres são emocionais. As pesquisas mostram que somos todos e todas seres emocionais e sociais.

É preciso redefinir a masculinidade, buscando uma masculinidade saudável, onde o homem possa mostrar suas emoções e vulnerabilidade, fortalecendo o diálogo sobre esse padrão de comportamento que está enraizado em nossa cultura. É necessária uma sociedade mais igualitária para que, todas as pessoas juntas, possam tornar as relações mais saudáveis.

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