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Cerveja sabor sushi, pão de mel e chimichurri: conheça a Trilha, cervejaria diferentona de SP

A marca, que começou como uma microcervejaria no bairro de Perdizes, já desenvolveu 400 sabores de cerveja e marca presença nas prateleiras de supermercados gourmet. Conheça a trajetória da Trilha.

Por Sofia Kercher | Edição: Alexandre Versignassi
Atualizado em 26 abr 2024, 14h22 - Publicado em 1 mar 2024, 16h30
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ushi. Pão de mel. Chimichurri. Pão de fermentação natural. Pode parecer uma lista hipster de supermercado, mas não: esses são alguns sabores disponíveis no site da Trilha, marca de cervejas fundada pelos amigos Daniel Bekeierman e Roberto Tempel, ambos de 41 anos.

A cervejaria conseguiu um lugar de destaque no oceano de cervejarias artesanais que o Brasil se tornou, estabelecendo-se como uma marca premium.

Em quase 2h de papo com a VCSA, Daniel navegou pela cultura cervejeira do país, explicou o modelo de negócios da companhia (que produz 4 cervejas novas a cada mês), e os planos ambiciosos que tem pela frente. Comecemos, então, pela primeira etapa da Trilha: um grupo de amigos no Whatsapp.

De consumidor a produtor

No princípio, era um hobby. Junto a um grupo de colegas entusiastas, os dois empreendedores regularmente marcavam viagens norteadas pelo desejo de experimentar diferentes tipos de cerveja mundo afora.

Os destinos mais inspiradores foram o estado de Vermont (costa leste dos EUA), um dos berços da cultura da cerveja artesanal, e a Bélgica, onde 408 cervejarias produzem mais de 1500 tipos da bebida. “[Nesses lugares] as pessoas têm uma relação muito fiel com os bares. Têm orgulho da cerveja produzida ali. Foi uma experiência diferente de tudo o que eu tinha visto até então”, conta Daniel. Ainda que já existissem várias cervejas de produção artesanal em SP, enquanto consumidor, ele não tinha essa relação afetiva com nenhuma. 

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Decidiu, então, criar sua própria cervejaria, em 2016. Bekeierman, que trabalhava há 10 anos na construtora Cyrela, largou o emprego e passou a se dedicar 100% ao projeto.  

Raio-X cervejeiro

Era um momento propício. Já havia 493 cervejarias no Brasil em 2016, com a imensa maioria disputando as migalhas de um mercado dominado por apenas três: Ambev, Heineken e Petrópolis (que respondem por 96% das vendas). Parece muita cervejaria para um nicho relativamente pequeno, mas o mercado ficaria bem mais atulhado. Em 2023, eram 1.549.      

Para se destacar num ambiente tão competitivo, é preciso fazer algo diferente. E a Trilha fez. A maior sacada da marca foi se afastar de uma certa mitologia que permeava as artesanais. Daniel percebeu que o marketing de boa parte desses produtos envolvia imagens de caveiras e seus congêneres assustadores. A ideia, então, foi ir pelo extremo oposto na identidade visual. A começar pelo logo. Em vez de alguma imagem agressiva, a figura de um anjo. 

“As marcas queriam se posicionar como parte de uma contracultura, tentando substituir cervejas que eles consideravam ‘ruins’ [as das grandes marcas]l”, diz o empreendedor. “Não tínhamos intenção alguma de convencer o consumidor a largar as marcas que já conhece. A ideia era uma coexistência pacífica”, diz.

Um cantinho para chamar de Trilha

O primeiro passo do projeto foi tímido. Produziram um primeiro lote de chopp de Melonrise para vender em um bar de São Paulo, o Âmbar. O investimento foi de cerca de R$ 30 mil. Deu certo: o produto esgotou no primeiro dia.

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Ao longo de 2017, eles firmaram mais algumas parcerias com outros bares e restaurantes da cidade, nesse esquema. Mas já tinham a visão do próximo passo: um bar e fábricas próprias.

Eles encomendaram os equipamentos, feitos sob demanda, e em agosto de 2017 surge o primeiro espaço da Trilha, em Perdizes. O investimento, feito por eles e por amigos, custou em torno de R$ 400 mil.

Em 2019, eles criaram um clube de assinatura chamado “Barrel Club”, destinado a cervejas envelhecidas em barris. Ele é disponibilizado para todo o Brasil, e custa R$ 77,33 por mês (mais o frete). Essa foi a sementinha responsável por salvar a marca em meio à pandemia. 

“Quando tudo começou, ficamos aflitos que o espaço e a marca não sobreviveriam. Mas foi justamente o contrário: muitas pessoas descobriram a Trilha justamente nesse período de confinamento, em que queriam beber com qualidade, não quantidade”, explica Daniel. No período, as vendas da marca cresceram 50%.

Uma nova cerveja por semana 

Desde o início, eles tinham se comprometido a lançar 4 cervejas novas por mês, uma por semana (modelo que permanece). Já são mais de 400 sabores produzidos, sendo 60% deles sazonais. O cardápio é extenso: os sabores variam de frutas — como romã, abacaxi, manga — até coisas mais exóticas — como hibisco, pé de moleque e umeboshi (uma ameixa de conserva japonesa).

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Cada rótulo consiste em ilustrações abstratas, geralmente feitas por diferentes ilustradores. Sem muitas inserções textuais, cada lata se assemelha a uma obra de arte. (Divulgação/Trilha/VOCÊ S/A)

Essa originalidade e rotação de sabores garantiu à marca algumas parcerias interessantes com a ala gastronômica da cidade. Eles desenvolveram produtos especiais — como a cerveja de café, feita com o restaurante Pato Rei; e a cerveja de pão de fermentação natural, em parceria com a padaria Fabrique — e também fornecem diretamente seus produtos para restaurantes estrelados, como o D.O.M, de Alex Atala.

Independente do sabor, a proposta da Trilha é oferecer uma cerveja “viva”, sem pasteurização. Esse processo elimina possíveis micro-organismos presentes que levariam à formação de aromas e sabores desagradáveis. Como consequência, o prazo de validade da cerveja se estende (por volta de 6 meses). Isso também significa que elas podem ficar sem refrigeração.

Pelos produtos da Trilha não passarem por isso, elas têm sabores mais próximos aos do chopp, e são mais agradáveis ao consumidor. Mas também tem menor durabilidade, e precisam ser refrigeradas em temperaturas específicas. Isso, claro, é mais difícil de fazer, e se traduz ao consumidor no preço: a Melonrise, carro chefe da casa, custa R$ 28 (350 ml). 

Mas aí, voltamos à mentalidade complementar. “Entendemos que nosso produto se assemelharia mais à cultura do vinho: não para todos os momentos, e sim para os momentos especiais. E tudo bem”, diz Daniel.

Imagem sem texto alternativo A cerveja mais vendida da marca, a Melonrise, hoje custa R$ 28 (350 ml). ((Divulgação/Trilha)/VOCÊ S/A)

Mesmo oferecendo um produto de nicho, a Trilha viveu uma expansão contínua. Em 2021, a marca ampliou seus canais digitais, permitindo que os produtos vendidos na fábrica também pudessem ser comprados online, separadamente e sem necessidade de assinatura. Em novembro de 2022, abriu seu segundo espaço, a Fermentaria — uma pizzaria na Barra Funda. A pizza tem a massa fermentada com as mesmas leveduras que utilizam nas cervejas.

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A empresa ainda adicionou mais dois serviços de assinaturas, exclusivos ao estado de São Paulo: o Ultrafresco (4 latas por R$ 92) e o Descoberta (2 latas por R$ 39,90).

Além disso, eles conseguiram adentrar as prateleiras de supermercado – ao menos daqueles voltados para produtos premium. Hoje, a Trilha é vendida na rede St. Marché, no Quitanda e no Empório Fasano — como parte de um projeto das três marcas de oferecer cervejas vivas. 

Imagem sem texto alternativo Espaço da Trilha no Itaim (R. Pedroso Alvarenga),  inaugurado no final de 2023. ((Divulgação/Trilha)/VOCÊ S/A)

Próximos capítulos

Há 5 meses, os dois sócios inauguraram mais um espaço, um bar no Itaim. E não pretendem parar por aí. “Nós temos ideias de abrir bares em todos os bairros de São Paulo”. Eles têm 15 projetos em desenvolvimento, mas querem fazer tudo com calma — segundo o empreendedor, cada espaço precisa ser personalizado e dialogar com o local em que está inserido. 

“Queremos construir essa memória afetiva com a cidade. Nossa ambição é que, quando um paulistano receber uma pessoa de fora em casa, ele leve ele para comer feijoada, provar coxinha e beber uma Trilha”, diz o empreendedor.

Além disso, eles estão trabalhando no desenvolvimento de novas bebidas, como drinks e produtos não alcoólicos. A cerveja vai continuar sendo a espinha dorsal da empresa, mas essa é uma demanda antiga de clientes — que a Trilha pretende atender em breve, diz o empreendedor.

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Acima de tudo, ele ressalta a importância da perenidade da marca, que ele quer passar para seus filhos e netos. “Esse não é um projeto temporário para mim. Meu sonho é que a Trilha viva 120 anos, e seja uma marca que os paulistanos tenham orgulho de consumir”.

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