Com redução de dias remotos, 77% sairiam da atual companhia
Entre quem trabalha em esquema híbrido, 96% desejam manter o modelo. O estudo mostrou que reduzir dias remotos prejudicam a retenção de talentos

Se a empresa em que você trabalha resolvesse diminuir a quantidade de dias de trabalho remotos, o que você faria? Cerca de dois em cada três colaboradores afirmam que saíram da empresa.
É o que afirma uma nova pesquisa do Insper, realizada com apoio da Robert Half, sobre o modelo de trabalho remoto no Brasil. O estudo mostra que reduções na disponibilidade de teletrabalho prejudicam a retenção de talentos nas empresas. Dos colaboradores que hoje trabalham todos os dias remotamente, 77% indicam que sairiam da atual companhia caso haja uma redução, mesmo que parcial, na disponibilidade deste arranjo de trabalho. Entre aqueles que atualmente trabalham remotamente apenas um dia por semana, essa perda também levaria a um aumento da intenção de saída da organização.
A pesquisa também destaca que a alta expectativa dos profissionais em manter a flexibilidade no trabalho é um desafio para as empresas. Entre os que hoje trabalham em regime híbrido, 96% desejam manter esse modelo; e 53% daqueles que trabalham integralmente no presencial anseiam atuar remotamente por, pelo menos, um dia da semana.
“A pandemia da COVID-19 trouxe uma transformação profunda nas formas de trabalhar, reconfigurando rotinas, hábitos e formas de interação. Agora, com mudanças importantes na escala e escopo do trabalho remoto, há novas dinâmicas e expectativas em jogo”, afirma Tatiana Iwai, professora responsável pela pesquisa e coordenadora do Centro de Estudos em Negócios do Insper. “Esse estudo busca oferecer um retrato de como as decisões sobre a disponibilidade do remoto podem afetar a capacidade das organizações de atrair e reter talentos”.
Embora haja uma percepção crescente de que o teletrabalho esteja em risco, a disponibilidade e a intensidade do modelo permanecem constantes desde 2023, ainda que com variações entre setores. De acordo com o estudo, o arranjo híbrido se estabilizou com a atuação remota em 2,32 dias por semana e 71% dos profissionais trabalhando fora dos escritórios em pelo menos um dia semanalmente.
O estudo identificou variações significativas na intensidade do trabalho remoto entre os setores:
- TI: mantém a liderança em flexibilidade, com média de 3,67 dias por semana.
- Serviços: estabilizado em níveis consistentes, com média de 2,55 dias por semana.
- Setor Financeiro: após um retorno mais acentuado ao presencial, está próximo à média nacional, com 2,32 dias por semana.
- Indústria: apresenta o retorno mais acentuado ao presencial, com média de 1,53 dias por semana, mas ainda acima dos níveis pré-pandemia.
“Esta pesquisa sinaliza que é importante reconhecer que o trabalho remoto não diz respeito apenas ao local físico de trabalho, mas ele viabiliza o acesso a recursos essenciais. A flexibilidade e a autonomia proporcionadas por esse arranjo atuam como recursos estruturantes, servindo de alicerce para um conjunto mais amplo de benefícios, como um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional”, comenta Gustavo Tavares, professor do Insper também responsável pela pesquisa.
“A copresença física não garante, por si só, que os processos funcionem. O trabalho presencial precisa entregar, de forma clara, aquilo que o remoto é menos adaptado a oferecer: interações interpessoais de alta qualidade, momentos de coaprendizagem e mentoria, bem como a construção ativa de normas e valores compartilhados de cultura”, afirma Leonardo Berto, gerente regional da Robert Half. Se não tiver nada disso, não tem motivo para querer voltar ao escritório.