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Vale sobe a R$ 110, mas não salva Ibovespa da bagunça em Brasília

Teve Guedes dizendo que “o chinês inventou o vírus" da Covid, debandada na equipe e começo da CPI da Pandemia. O resultado foi um tombo de 1% na bolsa brasileira.

Por Guilherme Eler, Tássia Kastner
27 abr 2021, 18h55

As ações da Vale respondem, sozinhas, por mais de 14% da carteira do Ibovespa. E isso não tem sido exatamente um problema, pelo contrário. Além do cenário de alta do minério de ferro pelo mundo – que atingiu seu valor mais alto em 13 anos –,  a mineradora divulgou na noite de segunda que seu lucro no primeiro trimestre de 2021 superou o do ano inteiro de 2020.

Estava tudo armado para o Ibovespa passar o dia no azul, portanto. Só que a Vale-dependência nem sempre é suficiente para salvar a lavoura da B3. Foi o que aconteceu nesta terça-feira (27). Pesou mais a Brasília-dependência. Hoje teve o começo da CPI da Covid e trocas no ministério da Economia. Não bastasse isso, o outrora superministro Paulo Guedes colocou uma cerejinha na torta de climão do mercado.

Guedes afirmou que “o chinês inventou o vírus” da Covid-19 e, além disso, não teria uma vacina tão eficiente quanto às desenvolvidas pelos EUA para prevenir a doença. O ministro disse isso em uma reunião do Conselho de Saúde Complementar sem saber que estava sendo gravado. Teve mais, claro. 

Nas palavras do ministro, “o Estado quebrou” [um clássico dele], e a saúde pública não deve conseguir atender à demanda atual por atendimento médico. A solução seria entregar “vouchers” à população, para serem usados em hospitais privados. “Você é pobre, você tá doente, tá aqui seu ‘voucher’. Vai no [Albert] Einsten, se você quiser. […] Se quiser, você vai no SUS”, disse.

Vá lá, a Faria Lima até pode concordar com as críticas ao SUS. O que ela não quer de jeito nenhum é mais atrasos na vacinação contra a Covid, o único jeito de reabrir a economia após um ano de estragos causados pelo coronavírus. Falar mal dos chineses, que produzem os insumos para as doses que aplicamos por aqui, é um caminho ótimo para voltar ao fim da fila na imunização.

E enquanto Guedes falava, o que restou do dream team de sua equipe econômica abandonava o barco. A troca do secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, pode ter sido decisão do ministro. Mesmo sendo o número 2 da economia, Waldery foi responsabilizado pelas desavenças entre o governo e o Congresso na negociação do Orçamento de 2021. Quem assume a pasta é o atual secretário do Tesouro Nacional, Bruno Funchal. Só que, depois dele, saíram mais três nomes. Isso porque na noite de segunda-feira a assessora Vanessa Canado, que era responsável pela Reforma Tributária dentro do Ministério da Economia, também havia pedido para sair.

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Não é a primeira e não será a última vez que Brasília fala no fim do superministério da Economia e recriação da pasta do Planejamento, mas isso sempre deixa investidores tensos. Com Guedes sem poder, fica ainda mais difícil acreditar nas reformas que o mercado tanto espera.

O resultado? O Ibovespa, que tinha tudo para se recuperar de um início de semana xoxo, ficou vermelho de vergonha. A queda foi de 1%, o que fez o índice retornar à casa dos 119 mil pontos (mais precisamente, 119,388 pontos). E isso que lá fora as bolsas americanas ficaram no zero a zero (veja abaixo).

Teve uma parcela de Petrobras nesse tombo, já que estatais sofrem diretamente com as decisões do ministério da Economia. Nesta terça-feira, a companhia cedeu 2,86%, enquanto investidores aguardam pela divulgação do relatório de produção e vendas da estatal. Esse dado é uma espécie de prévia dos resultados financeiros da empresa no primeiro trimestre.

Olha que a principal notícia do dia era para ser a instalação, pelo Senado, da Comissão da CPI da Covid-19. De fato, aconteceu: ganhou como presidente o senador Omar Aziz, e Renan Calheiros como relator. A ideia da CPI é investigar a atuação do governo no combate à pandemia, fiscalizando também a gestão de verbas por Estados e municípios. E o governo Bolsonaro anda com um medo danado do resultado dessa investigação. O mercado, menos.

A Vale

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A companhia lucrou R$ 30,5 bilhões, ante R$ 637 milhões no mesmo período de 2020. Mas tava fácil, já que no ano passado a mineradora ainda estava separando dinheiro para pagar a conta do estrago que causou com o rompimento da barragem de Brumadinho. O que surpreende é que o valor supera com folga os R$ 26,7 bilhões de lucro acumulados ao longo de todo o ano de 2020. A explicação vai além de Brumadinho, claro, está nos preços do minério de ferro. A Vale vendeu sua produção por US$ 155 a tonelada no primeiro trimestre deste ano, ante US$ 83,80, salto de 85%. 

Em ampla recuperação após um período de baixas durante a pandemia, os preços do minério (e de seus derivados, como o aço, por exemplo) não param de subir. No porto de Qingdao, na China, a tonelada do ferro de teor 62% beira os R$ 200 – um patamar que não alcançava desde 2008. Só que a Vale ganha ainda mais por sua produção. É que a maior operação da mineradora brasileira, em Carajás, no norte do país, extrai ferro ainda mais puro, com teor de 67% – o mais alto do planeta. E aí, quando ela vende a produção, recebe um prêmio por isso.

O combo de balanço positivo e nova alta do minério nesta terça fez com que as ações da companhia subissem 1,43% e superassem a marca simbólica de R$ 110. Terminaram o dia a R$ 110,12. 

Dá para dizer que Brasília tentou colocar uma pelota de ferro no caminho da mineradora – eficiente que é, ela vendeu e colocou mais um troco no caixa 🙂

Maiores altas

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CVC: 5,63%

Braskem: 3,89%

BTG Pactual: 2,73%

Suzano S.A: 2,18%

Vale: 1,43%

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Maiores quedas

BRF: -5,91%

Via Varejo:  -5,37%

Hering: -5,17%

JBS: -4,99%

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Minerva: -4,12%

Ibovespa: -1,00%, a 119.388 pontos

Dólar: +0,23%, a R$ 5,46

Nova York

Dow Jones: +0,01%, a 33,984 pontos

S&P 500: -0,02%, a 4,186 pontos

Nasdaq: -0,34% a 14,090 pontos

Petróleo

Brent: +1,45%, a US$ 66,60

WTI: +1,86%, a US$ 66,03

Minério de Ferro

+0,89%, para US$ 195,31 a tonelada no porto de Qingdao, na China.

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