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Tesla desmorona com tensões sobre o pico da Covid na China

Ações da montadora seguem em queda no pré-market após anúncio de freada na produção em Shanghai. Já o minério segue em alta, ainda que num ritmo mais reduzido: 0,7%. Por aqui, aguarda-se o impacto da nomeação de Tebet para o Planejamento.

Por Bruno Vaiano
28 dez 2022, 08h41

 

Nas primeira das sete Crônicas de Nárnia, C. S. Lewis descreve um limbo que conecta os mundos. Trata-se de um bosque idílico, na mesma pegada do Éden, com várias pequenas lagoas – distribuídas pelo chão em intervalos regulares, como se fossem portas ao longo de uma parede. A semelhança não é coincidência: cada um de fato é uma porta, que dá acesso a um universo paralelo diferente do nosso. Ali é um não-lugar; nada acontece.

É nesse limbo que o mercado financeiro e o Brasil como um todo digerem 2022: saímos da lagoa de Bolsonaro – e ele próprio também, a julgar por seu silêncio sepulcral e sua agenda esvaziada no Planalto –, mas ainda estamos molhando os pés na lagoa de Lula. 

Haddad ligou para Guedes ontem e pediu que seu Ministério se abstivesse de tomar quaisquer decisões que afetem o novo governo em seus dias derradeiros no comando da pasta. Guedes topou. Uma dessas decisões era prorrogar o corte de impostos sobre a gasolina, que vence no sábado.

Ontem, na reta final do pregão, a Faria Lima conseguiu a última informação que queria sobre a composição da Esplanada – sim, Tebet vai assumir o Planejamento. Os jornalistas ainda não sabem se a pasta virá turbinada: ela queria as parcerias público-privadas sob sua alçada, bem como o Banco do Brasil e a Caixa, mas Padilha já disse que não. (Ontem, diga-se, os papéis do BB caíram com a indefinição em torno do destino do banco: ele ainda não tem um novo presidente.)

A nova ministra sabe que precisará negociar suas posições mais ortodoxas com a pauta de centro-esquerda de Haddad, e Lula já tem seus critérios para navegar a relação entre os dois: “Sei das diferenças de visão sobre a economia e isso pra mim não é um problema. Sei que você é equilibrada e qualquer divergência eu decido”, disse ele ontem, sobre as regras de desempate (rs). O PT deve anunciar os quinze ministros remanescentes entre hoje e quinta.

Enquanto isso, em Nova York, os mercados não sabem o que fazer com as notícias que chegam do outro lado do Pacífico. A reabertura da China pode até reaquecer a economia asiática, o problema é sobrar alguma economia para aquecer. O fim dos lockdows sem a vacinação adequada da população idosa ou insumos e leitos extras nos hospitais pode degringolar na maior tragédia humanitária da pandemia, já que o vírus está se multiplicando em um ritmo devastador pelo país de 1,4 bilhão de habitantes. 

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Um pico de Covid-19 em janeiro pode acabar com o Ano-Novo chinês e com a perspectiva de que o país asiático sirva de colchão para aliviar os efeitos da recessão no Ocidente no começo de 2023. As ações da Tesla – que caíram 11,4% ontem com o anúncio de que a montadora vai diminuir a produção na fábrica de Shanghai –, são um prenúncio do que está por vir (e um retrato da insatisfação dos investidores com a vida dupla de Musk no comando do Twitter: os papéis alcançaram o menor preço desde agosto de 2020). E as ações da montadora mais valiosa do mundo seguem caindo: -3% no pré-market. 

Apesar de tudo, os futuros vem subindo na reta final antes da abertura, após uma madrugada de idas e vindas. Às 8h20, S&P 500 subia 0,22%, Nasdaq, 0,15%. A ver se a tendência de alta contagia o pregão em si. 

Há um setor que não tem dúvida sobre o que espera da reabertura da China: o minério de ferro amanheceu em alta de novo (subiu 0,72% da bolsa de Dalian), dado que prenuncia mais um dia bom para Vale e as siderúrgicas.

O jeito é se fiar no número que estampa a capa da Folha hoje: 60% dos brasileiros acreditam que 2023 será melhor que 2022. Estamos a três pregões de pular com os dois pés na lagoa de Lula – descanse nessa semana e aguarde o universo paralelo que aguarda do outro lado. 

Bons negócios!

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humorômetro: o dia começou com tendência de alta

Futuros S&P 500: 0,22%

Futuros Nasdaq: 0,15%

Futuros Dow: 0,26%

*às 8h20

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market facts

Unicórnios: ranking de demissões

Um levantamento do Estadão mostrou que os unicórnios (startups que valem mais de R$ 1 bilhão) brasileiros demitiram pelo menos 3,9 mil funcionários em 2022. Das 24 empresas nacionais que recebem o título de unicórnios, 16 realizaram grandes cortes este ano. 

A líder do ranking foi a Loft, plataforma de compra e venda de imóveis. Ela cortou 855 vagas em três rodadas de demissão em massa ao longo do ano – uma em abril, outra em junho e a última em dezembro. Em segundo vem a Loggi, de serviços de entrega, que demitiu 540 pessoas (15% do quadro de funcionários da época). Para fechar o top 3, o Ebank, uma fintech de pagamentos internacionais. Em junho, ela cortou 340 vagas (20% do quadro). 

Agenda

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Dia de agenda esvaziada.

Europa

Índice europeu (EuroStoxx 50): -0,05%

Bolsa de Londres (FTSE 100): 0,81%

Bolsa de Frankfurt (Dax): -0,07%

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Bolsa de Paris (CAC): 0,02%

*às 8h06

Fechamento na Ásia

Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): -0,43%

Bolsa de Tóquio (Nikkei): -0,06%

Hong Kong (Hang Seng): 1,56%

Commodities

Brent: -0,47%, a US$ 79,27 o barril

*às 7h28

Minério de ferro: 0,72%, a US$ 119,53 a tonelada, na bolsa de Dalian

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Artistas de NFT retornam ao analógico

Quando NFT virou moda, teve artista que viu ali uma oportunidade para enriquecer. É que, no auge do surto coletivo, alguns tokens chegaram a custar milhões de dólares. Justin Bieber, por exemplo, comprou um Bored Ape por US$ 1,3 milhões. Mas aí o mercado de criptomoedas entrou em crise – e todos os ativos ligados a ele derraparam drasticamente. Não foi diferente com as NFTs. Hoje, o token de Bieber vale uns US$ 70 mil. No meio da avalanche, os artistas de NFT precisaram voltar ao analógico: começaram a vender arte física para complementar o orçamento. O Financial Times conta essa história aqui

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