Rodrigo Maia quer privatizar a Sabesp e faz chover no Ibovespa
Companhia liderou altas em uma sexta marcada por recuperação. Nada bombástico, mas o suficiente para terminar a semana respirando.
Isso é o que dá para chamar de plot twist. Rodrigo Maia, que até ontem era presidente da Câmara dos Deputados. Um carioca que morava em Brasília. Agora ele é secretário do Estado de São Paulo, e em seu primeiro dia no governo Doria anunciou que vai preparar a Sabesp para a privatização. E aí já sabe: falou em privatização, o mercado financeiro se atira para comprar ações da empresa.
Foi assim que a companhia de abastecimento de São Paulo terminou a sexta no pódio do Ibovespa com uma portentosa alta de 10,86%. O índice subiu modestos 0,76%, mas ao menos recuperou os 118 mil pontos – o que já é motivo de comemoração nesta semana terrível em que investidores foram assombrados pela faixa de 114 mil pontos.
Voltando à Sabesp. Não é que Rodrigo Maia tenha apresentado um plano concreto ou um cronograma para a venda da Sabesp. Ele apenas mencionou que deixar o projeto de privatização da companhia até o final da gestão seria algo positivo. Não custa lembrar, estamos a um ano da próxima eleição, o que torna o prazo exíguo para concretizar a venda.
O Credit Suisse considerou a notícia positiva. A Ativa Investimentos foi no mesmo caminho, mas citou que é impossível saber se, dessa vez, a privatização sai. Justamente por causa da dificuldade de fazer privatizações no país, ainda mais em período pré-eleitoral.
Investidores não se importaram e aproveitaram para comprar as ações, que acumulam queda de 15% no ano. Eles inclusive ignoraram que a Sabesp vive de água, um bem um tanto escasso nos tempos de crise hídrica.
O volume de água da reserva da Cantareira, a principal fonte de água da companhia para abastecer São Paulo, caiu para menos de 40% da capacidade, nível considerado de alerta pela Agência Nacional de Águas. O episódio remonta 2014, quando a Sabesp usou o chamado volume morto da represa e reduziu a pressão da água nas tubulações, uma espécie de racionamento branco. A companhia negou, nesta semana, risco de um novo racionamento neste ano.
Ibovespa na semana
A Sabesp não é Vale. A companhia de abastecimento responde por 0,532% do Ibovespa, contra 12% da Vale, então é óbvio que não foi ela sozinha a levar a bolsa nas costas. Foi uma sexta de recuperação em geral, com ganhos para 67 das 84 ações do índice.
O Ibovespa terminou com ganho de 0,76%, a 118.052,77 pontos. Só que a alta foi modesta demais para apagar o pesadelo do começo da semana. O índice acumulou baixa de 2,59% e continua com prejuízo no ano.
Quem passou por maus bocados nesta sexta foi a Renner. A varejista sofreu um ataque hacker do tipo ransomware na quinta-feira. O e-commerce está fora do ar desde então. Tipicamente, os ataques desse tipo não envolvem roubos de dados, mas uma reportagem da Agência Estado aponta para vazamento de dados dos cartões da rede varejista. Nós explicamos os ataques a empresas nesta reportagem aqui.
A esperança vem de fora
Por sinal, a coisa só melhorou porque investidores estrangeiros acalmaram o coração. Vamos combinar, não foi uma semana fácil para ninguém. Teve a tomada do Afeganistão pelo Taleban, o aumento dos casos de covid mundo afora causados pela variante delta e ainda a sinalização clara do Fed (o banco central americano) para reduzir o volume de água na fonte que jorra dinheiro na economia global há mais de um ano.
Isso também tragou as bolsas americanas para o vermelho nesta semana. O S&P 500 fechou com baixa de 0,59% apesar de ter subido 0,81% nesta sexta-feira (esse sim, puxando junto o nosso amigo Ibov). A diferença é que eles continuam com uma valorização de 20% no ano. Já para que a gente volte ao azul, vamos precisar fazer a lição de casa.
Bom dia, Faria Lima
O mercado financeiro acordou nesta semana para o risco fiscal causado por um governo inábil politicamente, mas que deseja (como qualquer governo) a reeleição. A reforma tributária foi tão deformada que, no fim, até aumentava a transferência de recursos a municípios. Foi preciso tirá-la da pauta de votação da Câmara.
Agora, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que prefere não fazer uma reforma a piorar o nó tributário do país. Já o presidente Jair Bolsonaro disse querer a “reforma possível”. É que a votação da última semana tinha como objetivo principal elevar a faixa de isenção do Imposto de Renda, uma promessa de campanha de Bolsonaro.
Mas não é só. Guedes passou a semana defendendo a PEC dos precatórios, a proposta de adiar dívidas que a união têm com a população para abrir espaço no orçamento a outras despesas. A conta é realmente impagável com as travas orçamentárias que existem, mas a manobra do governo é vista, no mínimo, como uma pedalada.
A situação é tão caótica que a Faria Lima finalmente entendeu que não há compromisso algum com o equilíbrio das contas públicas. O resultado é que investidores passaram a apostar que os juros do país vão subir ainda mais. A Selic, hoje em 5,25%, pode superar os 8% ainda neste ano.
Os juros de longo prazo ultrapassaram os 10% no meio da semana e o dólar disparou lá para a faixa de R$ 5,45. A moeda fechou em queda de 0,70%, a R$ 5,3848. Na semana, a alta foi de brutais 2,66%.
Apesar de terminar a semana em um tom melhor, a turbulência segue entre nós. Quando o mercado estava prestes a fechar, a agência de notícias AP publicou uma notícia dizendo que Bolsonaro se arrependeu de ter assinado a lei que criou a autonomia do Banco Central.
Bolsonaro teria dito ontem, em um voo do Mato Grosso para Brasília, que gostaria de poder substituir Campos Neto com uma “canetada”. Com a autonomia do BC, não rola.
A fala veio após o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, associar a alta da inflação e a disparada dos juros ao “ruído fiscal”. Em português: ao aumento de gastos do governo. Quer dizer, bora descansar porque nada indica que a próxima semana da bolsa será mais fácil do que a que acaba hoje. Até segunda.
MAIORES ALTAS
MAIORES QUEDAS
Ibovespa: alta de 0,76%, a 118.052,77 pontos
Nova York
Dow Jones: +0,65%, a 35.120,08 pontos
S&P 500: +0,81%, a 4.441,67 pontos
Nasdaq: +1,19%, a 14.714,66 pontos
Dólar: queda de 0,70%, a R$ 5,3848
Petróleo
WTI: queda de 2,15%, a US$ 62,32
Brent: queda de 2,08%, a US$ 65,07
Minério de ferro
alta de 5,86%, a US$ 140,44 a tonelada no porto de Qingdao