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Quinta-feira sangrenta: Apple perde uma Petrobras e meia em valor de mercado

S&P 500 cai 2,11%. Mau humor generalizado faz a maior empresa da galáxia perder US$ 117 bilhões em valor de mercado num dia só. Ibovespa sofre menos: -0,73%.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 29 set 2022, 22h58 - Publicado em 29 set 2022, 17h40

A Apple está para o momento do mercado financeiro global assim como Rita Lee, de acordo com Caetano Veloso, está para a cidade de São Paulo: é a sua mais completa tradução.

Tradução do humor depressivo que tomou conta das bolsas. Só nesta quinta, a empresa mais valiosa do mundo perdeu uma Petrobras e meia em valor de mercado. A queda de 4,91% nas ações da companhia fez com que o preço somado de todos os papéis (o “valor de mercado”) caísse em US$ 117 bilhões – a Petrobras, maior empresa do Ibovespa, vale US$ 74 bilhões.

Desde o seu pico histórico, em janeiro de 2022, a companhia mais valiosa do S&P 500 perdeu US$ 650 bilhões em valor de mercado. Dá dois JP Morgans – o maior banco dos EUA. Foram 22% de queda até aqui – o que coloca a dona do iPhone em território de bear market, tal como o S&P 500 como um todo. 

Não é algo trivial para uma empresa que bate ano após ano a performance média do mercado. E mostra que a crise atual não poupa ninguém. A queda da Apple começou na quarta – terça à noite, a Bloomberg deu que empresa estava abandonando o plano de aumentar a produção de iPhones, diante de uma demanda mais fraca que o esperado. Mesmo assim, a queda foi branda, de 1,26%. Motivo: ontem foi um dia de recuperação para a bolsa americana – um daqueles em que a mola que existe no fundo dos poços acaba acionada. O S&P 500 subiu 1,97% – não deixando o mal humor se alastrar tanto sobre as ações da Apple. 

Mas hoje a história foi outra: foi um daqueles dias em que uma boa notícia para a economia vira uma péssima nova para o mercado: o número de pedidos de seguro desemprego caiu para 193 mil nos EUA na semana passada (dado divulgado hoje). É o menor índice desde abril, e substancialmente mais baixo do que o esperado pela média do mercado: 215 mil.

Lindo para os EUA, já que desemprego em queda é basicamente o melhor dado que um país pode apresentar (mais importante do que PIB, do que tudo). Mas feio para as bolsas, seja as de lá, seja as de qualquer outro lugar. 

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É que a manutenção do pleno emprego nos EUA dá carta branca para o Fed seguir firme e forte na alta de juros para matar a inflação corrente. Se o desemprego estivesse em alta, o BC americano teria de pensar duas vezes, já que juros altos combatem inflação a golpes de recessão. Para dar uma ideia melhor: o índice de desemprego nos EUA está em ótimos 3,7%, com viés de baixa, ante uma média histórica de 5,74 (entre 1948 e 2022).

Como a certeza de juros cada vez mais indigestos, pois sugam dinheiro do mercado de ações para a renda fixa, o S&P 500 sangrou 2,11%. Mas poderia ter sido pior: ao longo da tarde, a queda beirou os 3%. O Ibovespa, que acompanhou o movimento lá de fora com números negativos mais brandos fechou o dia com uma queda mais leve, de 0,73%. Mesmo assim, foi um dia gelado. Das 92 ações do Ibovespa, só quatro tiveram alta de 1% ou mais.  

De volta à Apple: vale lembrar que, mesmo após o tombo de hoje, a Apple ainda vale mais do que todo o PIB brasileiro de 2021: Apple US$ 2,27 bi X US$ 2,15 PIB. 

Significa que a Apple tem muito chão ainda para cair? Não. O índice P/L dela já voltou para 23 – ou seja, um valor de mercado equivalente a 23 anos do lucro anual. É algo próximo da média histórica da empresa. E bem abaixo do final do bull market de 2021, quando o P/L dela estava em 35.

Ou seja: o fato de o valor de mercado de uma empresa de 80 mil funcionários ser equivalente ao Produto Interno Bruto de um país com 215 milhões de habitantes só significa que o nosso PIB está para o dos países desenvolvidos assim como o salário do Professor Raimundo está para o bônus anual de Tim Cook.

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Até amanhã.

 

Maiores altas

Itaú (ITUB4): 1,49%

Eneva (ENEV3): 1,33%

Itaúsa (ITSA4): 1,26%

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Bradesco ON (BBDC3): 1,06%

Bradesco PN (BBDC4): 0,76%

 

Maiores baixas

Gol (GOLL4): -8,79%

Azul (AZUL4): -8,17%

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Americanas (AMER3): -7,41% 

Embraer (EMBR3): -6,93%

Magalu (MGLU3): -6,47%

Ibovespa:  – 0,73%, a 107.664 pontos

Em NY:

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S&P 500: – 2,11%, a 3.640 pontos

Nasdaq: -2,84%, a 10.737 pontos

Dow Jones: – 1,54%, a 29.227 pontos

 

Dólar: 0,86%, a R$ 5,39

 

Petróleo

Brent: -0,99%, a US$ 87,18

WTI: -1,12%, a US$ 81,23

 

Minério de ferro: 0,81%, a US$ 95,95 a tonelada na bolsa de Singapura

 

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