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Por dentro da mente de Warren Buffett

À frente da Berkshire Hathaway há 57 anos, Buffett entrega aos acionistas uma rentabilidade média de 20% ao ano. Em novo livro, o autor Robert G. Hagstrom examina a filosofia responsável por isso.

Por Camila Barros
11 nov 2022, 06h07
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 (CSA Images/Getty Images)
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Imagine que, a partir deste momento, você está proibido de acessar a sua conta na corretora por tempo indeterminado – pode durar 5 meses, um ano ou uma década. Você não pode comprar ou vender nenhum ativo. Tem de manter aqueles que já tinha na mão, aconteça o que acontecer com o mercado. Como você se sentiria? Se a resposta for qualquer coisa diferente de “ué, tô nem aí”, você não faz parte do time de discípulos de Warren Buffett.

À frente do conglomerado Berkshire Hathaway desde 1965, Buffett fez carreira no mercado financeiro aplicando o método value investing, criado na década de 1940 por seu mentor intelectual e primeiro empregador, Benjamin Graham. A ideia é investir com foco total no longo prazo, selecionando ações de empresas tradicionais, já lucrativas e com boa margem para continuar crescendo. Para isso, os sobes-e-desces diários da bolsa pouco importam na formação de valor da carteira. Aliás, quanto mais as ações caírem, melhor, porque aí dá para comprar mais.

É essa a filosofia responsável pela rentabilidade anual média de 20% da Berkshire Hathaway nestes 57 anos – praticamente o dobro do que o S&P 500 retornou no mesmo período. Não por acaso, o bom velhinho do mercado financeiro acumulou uma legião de fãs ávidos por absorver um pedacinho de sua visão estratégica.

O investidor e autor Robert G. Hagstrom é um deles. Em Por dentro da mente de Warren Buffett, ele explora o que é preciso para ser o que Buffett uma vez chamou de uma “Mente Monetária” – alguém capaz de tomar decisões inteligentes dentro do mercado de capitais. No trecho a seguir, o autor explica alguns princípios que Buffett usa para decidir em quais empresas vai investir. A ideia central seria focar naquilo que ele chama de zona de investimento. Veja aqui.

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(Arte/VOCÊ S/A)

Capítulo 4 – Investimento dirigido para os negócios

A zona de investimento
Quando Warren compra ações para a Berkshire, não pensa em termos de preço. Para ele, ações são uma abstração. “Abordamos uma transação”, diz ele, “como se estivéssemos comprando um negócio particular” – o negócio inteiro. Além disso, uma vez tendo comprado cotas de uma empresa, Warren não tem em mente alguma data futura ou um preço mais alto pelo qual as venderia. “Estamos dispostos a segurar uma ação indefinidamente enquanto esperamos que o negócio cresça em valor intrínseco num índice satisfatório.” (…)

Ao investir, Warren vê um negócio. A maioria dos investidores enxerga apenas o preço da ação. Gastam tempo e esforço demais observando, predizendo e antecipando mudanças de preços, e tempo de menos compreendendo o empreendimento do qual agora possuem uma parte. Warren acredita que o investidor e a pessoa de negócios devem olhar para a empresa da mesma maneira, porque ambos querem essencialmente o mesmo. O investidor quer parte da companhia, enquanto o homem de negócios a quer inteira. Ambos lucrarão com o crescimento do valor intrínseco do que detêm.

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(…)

O objetivo deste capítulo é fornecer a estrutura mental para investir num negócio como Warren. (…) A base para construir uma Mente Monetária é um desligamento proposital do mercado de ações. É preciso usar antolhos mentais para que ele não absorva a sua atenção enquanto você está acordado. Ele não é mais o seu foco principal. No máximo, um foco secundário, para ser observado apenas quando os preços oscilarem loucamente. Esse é o único momento sensato em que o proprietário de um negócio com Mente Monetária deve voltar sua atenção ao mercado e avaliar se é uma oportunidade lucrativa de comprar ou vender participações de seus empreendimentos. No restante do tempo, as notícias diárias, semanais e mensais têm pouco interesse.

(…)

 

 

Princípios de negócios

Na visão de Warren, o sucesso de um investidor tem relação direta com o quanto ele entende do negócio. (…) Aqueles que têm Mente Monetária leem os relatórios anuais ou trimestrais das empresas que possuem, artigos escritos sobre elas e seus concorrentes, além de observar a indústria. Na zona de investimento, a única informação que você tem é sobre a companhia. Não há preços variando todo dia. Esse entendimento é um traço distintivo que separa investidores com orientação para negócios de especuladores de primeira hora que meramente compram ações.

Warren é capaz de manter um alto nível de conhecimento sobre os negócios que adquire, tanto públicos quanto privados, porque intencionalmente limita suas escolhas a companhias que estão dentro da sua área de compreensão intelectual. “Invista no seu círculo de competência”, aconselha ele. “Não é o tamanho do círculo que conta, é quão bem você define os parâmetros.” Warren nos diz que o sucesso em um investimento não é uma questão de quanto você sabe, mas do quanto define realisticamente aquilo que sabe. “Um investidor precisa fazer poucas coisas direito, contanto que evite grandes erros.” Resultados acima da média, explica ele, são muitas vezes produzidos fazendo coisas comuns. A chave é executá-las excepcionalmente bem.

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Warren evita o complexo e não adquire empresas que estão tentando resolver problemas difíceis ou mudando de direção. Em relação a este último aspecto, ele sabe por experiência própria que os melhores rendimentos são obtidos por companhias que vêm ofertando o mesmo produto ou serviço há vários anos – pense na Coca-Cola ou na Apple. Ele acredita que “mudanças radicais e rendimentos excepcionais em geral não se misturam”. Em relação a problemas maiores, sua vivência em operações de negócios e investimentos lhe ensinou que “reviravoltas” raramente desviram.

Ser dono de um negócio bem-sucedido não requer que você se torne um expert em tudo que estiver disponível para investir, mas que compreenda uma companhia. Você sabe que produtos e serviços ela vende, quem são seus clientes? Melhor ainda, conhece os concorrentes e se eles estão fazendo um trabalho melhor ou pior do que o seu? Por fim, como investidor dono de um negócio você deve evitar histórias de “volta por cima”, não importa quão emocionantes elas pareçam.

Warren nos diz que o melhor negócio é aquele que tem perspectivas de longo prazo favoráveis. “A definição de grande companhia é aquela que será grande por 25 a 30 anos.” Ele as chama de franquias. Elas vendem produtos ou serviços que são necessários ou desejados e não têm substitutos. Esses traços, explica Warren, permitem que a franquia aumente os preços regularmente sem medo de perder sua fatia de mercado ou seu volume unitário.

Negócios com perspectivas de longo prazo favoráveis operam, de modo geral, em mercados grandes e crescentes. Quanto maior a fatia deles que a empresa obtiver, mais valor terá criado para seus acionistas. É bom lembrar que, desde 1960, cerca de um terço do aumento em valor do índice S&P 500 tem resultado do retorno a partir de investimento futuro [da própria companhia nela mesma]. Então, para entender criação de valor, não podemos deixar de observar o potencial de reinvestimento de uma companhia e o cenário de mercado.

Outro benefício que provém de se possuir uma franquia é a capacidade de suportar contratempos econômicos e ainda assim sobreviver. É reconfortante, diz Warren, estar num negócio onde se podem cometer erros e ainda obter rendimentos acima da média. “Franquias”, nos diz ele, “podem tolerar erros de gestão. Gestores ineptos podem diminuir a rentabilidade da franquia, mas não podem infligir danos mortais”.

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Eis aqui uma recapitulação sucinta, nas palavras do próprio Warren: “Gosto mesmo é de vigor econômico numa área que eu entenda e sobre a qual penso que vai durar”.

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Princípios financeiros

(…)

Se você perguntar ao dono de um negócio qual é o seu principal objetivo, ele dirá que é gerar lucro. Ele entende e aprecia a importância do dinheiro em caixa, que todo mês, ou no fim do ano, é sacado para pagar obrigações pessoais, custear alguma atividade de lazer, ou para investir na aposentadoria. Na Berkshire, Warren faz diferente: pega o lucro e aplica de volta nos negócios ou o realoca em oportunidades de investimento melhores. Mas ele só pode fazer isso se tiver dinheiro em caixa.

Precisamos nos lembrar de que os ganhos por ação que uma empresa relata nem sempre são iguais aos ganhos em dinheiro que o dono de um negócio esperaria receber. Warren adverte os investidores que os lucros contábeis por ação são o ponto de partida para determinar o valor econômico do negócio, e não o final. “O primeiro ponto é entender”, explica ele, “que nem todos os ganhos são criados da mesma maneira”. Companhias com ativos altos em relação aos lucros tendem a reportar ganhos inferiores, que assumem uma característica de miragem. Os ganhos por ação informados pela companhia só são úteis para o investidor caso se aproximem do fluxo de caixa esperado.

Até mesmo o conceito de “fluxo de caixa”, na forma como esse termo é popularmente usado, não é uma ferramenta perfeita para obter o dinheiro que o dono do negócio espera. É uma maneira adequada de mensurar negócios que requerem grandes investimentos no começo e desembolsos menores depois, diz Warren. (…)

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O fluxo de caixa reportado de uma empresa é costumeiramente definido como a renda líquida após impostos mais depreciação, depleção e amortização. O problema com essa definição, explica Warren, é que ela deixa de fora um elemento econômico crítico – as despesas de capital. Quanto dos ganhos anuais da companhia precisa ser usado para novos equipamentos, melhorias em fábrica e outros aprimoramentos necessários para manter sua posição econômica e volume unitário?

Warren estima que 95% dos negócios industrial-manufatureiros dos Estados Unidos requerem gastos que se aproximam de suas taxas de depreciação. Podem-se adiar desembolsos de capital por mais ou menos um ano, diz ele, mas se durante um período longo não forem feitas as despesas necessárias, o negócio decairá. O dono precisa pensar que esses custos são necessários, da mesma forma que os custos trabalhistas e de instalação.

(…)

Em vez de fluxo de caixa, Warren prefere usar o que chama de “ganhos do proprietário” – a renda líquida da empresa mais depreciação e amortização, menos a quantidade de despesas de capital e o capital de trabalho adicional necessário para operar o negócio como preocupação contínua. Os “ganhos do proprietário” de Warren são equivalentes ao dinheiro que os donos de negócio lucram com suas empresas.

(…)

O que não se deve perder de vista é o seguinte: ganhos do proprietário são o combustível que permite a uma companhia expandir seus negócios no mercado endereçável total. Então, uma Mente Monetária que opera na zona de investimento tem superfoco nos ganhos do proprietário de uma empresa.

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(Arte/VOCÊ S/A)
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