Petróleo segue seu rali, e derruba as bolsas
Medo de uma estagflação global deixa S&P 500 no vermelho. Ibovespa segue: queda de 0,58%, aos 112.180 pontos.
Quando as bolsas começam a subir num cenário obviamente negativo, o noticiário econômico entra em modo esquizofrenia. Foi o que aconteceu hoje.
No início do dia, as bolsas americanas engataram uma alta. Isso no mesmo momento em que o petróleo não parava de subir. O problema: a alta no barril está causando uma inflação global – quando o petróleo sobe, e hoje foram mais 1,53%, o resto vai junto.
Essa inflação global cria uma pressão pelo fim dos estímulos econômicos (como os juros baixos, que seguem em voga no mundo desenvolvido). Sem os tais estímulos, a economia definha.
Num cenário normal, esse encolhimento da economia faria baixar o preço do petróleo. Mas o cenário não é normal. O petróleo sobe porque a oferta hoje é baixa. Investe-se menos em novos poços, por conta das políticas de descarbonização. E essa situação não vai mudar. Logo, o petróleo tem tudo para continuar sua trajetória ascendente, independentemente da retirada dos estímulos.
E o que se desenha é um cenário de “estagflação”: economia travada + preços que não param de subir. O Brasil conhece bem isso. Em 1990, por exemplo, tivemos recessão, com queda de 4% no PIB, mais 1.400% de inflação. Mas lá fora inflação é, historicamente, um fenômeno ligado a economias aquecidas. Não é o que está acontecendo agora.
De volta à esquizofrenia. Quando as bolsas abriram em alta, o noticiário gringo saiu interpretando que “o mercado perdeu o medo da estagflação”. Não. Ninguém tinha perdido o medo de nada. A alta era só uma flutuação normal. No início da tarde, os índices passaram a apontar para a direção natural de mais um dia com o petróleo em alta: para baixo. E ficaram assim até o fim do dia: baixa de 0,69% no S&P 500.
O Ibovespa seguiu fielmente: abriu em alta e fechou numa queda de 0,58%, aos 112.180 pontos. E olha que houve uma bela notícia para a gente: o minério de ferro deu um repique forte hoje. Salto de 9,44%, que deu um fôlego para Vale (2,22%) e Bradespar, que controla a mineradora (2,64%).
Com isso, o minério já apresenta uma alta de 40% em menos de um mês. No dia 17 de setembro, ele tinha fechado a US$ 97 a tonelada. Agora está em US$ 135. Ainda é bem menos que o pico histórico (atingido em maio), de US$ 235. Só que é mais do que o suficiente para garantir uma operação saudável aos países que exportam a commodity, caso do nosso.
Selic a 8,75%, dólar a R$ 5,25
O Comitê de Política Monetária já avisou que vai subir a Selic em um ponto percentual em sua próxima reunião, que acontece nos dias 26 e 27 de outubro. A taxa básica de juros da economia, então, vai saltar dos atuais 6,25% para 7,25% logo mais.
No mercado, a expectativa para o início de 2022 era de uma Selic em 8,50%, de acordo com a pesquisa semanal do Boletim Focus, que o BC realiza junto a economistas. Não mais. Na edição de hoje do boletim, a média das expectativas saltou para 8,75%.
A perspectiva para a inflação no ano que vem segue otimista. Nos últimos 12 meses (que é o que conta) ela está em 10,25%. No Boletim Focus, apostam em 4% para o final de 2022 (4,17%, na verdade, mas não faz sentido reproduzir a futurologia dos economistas em números exatos – inflação é algo terrivelmente menos previsível que a Selic).
O fato é: acredita-se que a alta na Selic vá fazer efeito logo, e derrubar a inflação para menos da metade. A ver.
Para o dólar, estimam R$ 5,25. Um número também otimista, dados os fatores que pesam contra para o ano que vem: o aumento da “Selic” dos EUA, que faz o dólar valorizar (pois os juros dos títulos públicos americanos passam a pagar mais) e a eleição presidencial – que só não geraria calafrios no mercado financeiro caso houvesse uma candidatura forte da “terceira via”. Não há, sabe-se.
Embraer: mais 4,89% para a conta
A fabricante de aviões bem que poderia aproveitar o feriado desta terça e deixar um manche ou um flap na Sala dos Milagres do Santuário de Aparecida – o lugar onde os romeiros depositam objetos em retribuição a graças alcançadas.
É que 2021 está sendo o grande ano da companhia na bolsa: alta de 193% desde o início do ano – já contando os 4,89% de hoje. É a maior do Ibovespa, de longe.
Boa parte do desempenho está ligado à Eve Urban Air Mobility, uma subsidiária da Embraer voltada ao desenvolvimento de um eVTOL – basicamente um drone gigante, capaz de levar passageiros. A Eve já fechou diversos acordos para o fornecimento desses veículos no futuro (2025 em diante), e tem tanto potencial que, se abrir o capital, deve ser avaliada por um preço ainda maior que o da empresa-mãe.
Mas a notícia que propiciou a alta de hoje veio da Embraer tradicional mesmo. Ela acertou a venda de 100 jatinhos Phenom 300E para a NetJets, a empresa de compartilhamento de aviões executivos controlada pela Berkshire Hathaway. O negócio deve colocar US$ 1,2 bilhão no caixa da empresa ao longo dos próximos anos.
A NetJets tem mais de 700 aeronaves. 100 delas já eram Phenom (no caso, toda a linha de jatos “leves”, para curtas distâncias e com capacidade para até 7 passageiros). Agora essa frota será dobrada. Isso indica uma tendência: a da substituição de jatos executivos de grande porte por aeronaves menores e mais baratas – setor em que a Embraer nada de braçada, já que o Phenom 300E é o avião mais vendido do mundo nessa categoria.
E isso é tudo, pessoal. Bom feriado!
Maiores altas
Pão de Açucar (PCAR3): 5,28%
Embraer (EMBR3): 4,89%
CMIG (CMIG4): 3,18%
Petrorio (PRIO3): 2,85%
Bradespar (BRAP4): 2,64%
Maiores baixas
Banco Inter Unit (BIDI11): -10,22 %
Banco Inter PN (BIDI4): -9,82%
Banco Pan (BPAN4): -8,07%
Petz (PETZ3): -6,03%
BTG Pactual (BPAC11): -5,75%
Ibovespa: -0,58%, aos 112.180 pontos
Em Nova York
S&P 500: -0,69%, aos 4.361 pontos
Nasdaq: -0,64%, aos 14.486 pontos
Dow Jones -0,72%, aos 34.496 pontos
Dólar: 0,38%, a R$ 5,5396
Petróleo
Brent: 1,53%, a US$ 83,65
WTI: 1,47%, a US$ 80,52
Minério de ferro: 9,44%, a US$ 135,03 a tonelada, no porto de Qingdao (China).