Petróleo caminha para a borda dos US$ 100 com guerra na Rússia
Commodity é termômetro mais preciso dos riscos da explosão de um conflito no leste europeu. Bolsas europeias e futuros americanos indicam (quase) paz na Terra.
Bom dia!
Que o petróleo chegaria aos US$ 100 já era pedra cantada. Quem começou a prever isso foi o banco Goldman Sachs ali pela metade do mês passado. Por outro lado, o banco errou os motivos e a data em que isso deveria ocorrer.
Na época, a instituição atribuiu a escalada de preços à forte demanda, após a recuperação econômica da pandemia. Países reabriram, mas a oferta da matéria-prima continua racionada pela Opep+ (o cartel de exportadores de petróleo). Não só porque eles são maus, mas porque há menos investimentos na exploração do produto à medida que países ricos planejam uma transição energética. Procurar e furar novos poços de petróleo fica cada vez menos atrativo.
Isso levaria o petróleo à marca de US$ 100 no terceiro trimestre. Faltou combinar com os russos – literalmente.
Ontem, quando o presidente Vladimir Putin reconheceu a independência de duas regiões ucranianas – Donetski e Luhanski, na região de Donbass – e ordenou o envio de forças de paz, o mercado financeiro entendeu que era o começo de uma guerra. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, também: ele diz que o decreto de Putin apenas legaliza a ocupação ilegal do território do país pelas tropas de Putin.
A reação já havia sido mais forte nos preços do petróleo, alta que persiste nesta terça-feira. Nesta manhã, os preços do barril do brent subiam mais de 3%, acima de US$ 98 o barril.
Agora, países do Ocidente se articulam com medidas de retaliação, e isso pode significar um embargo aos russos, limitando a oferta de petróleo no mundo. A Rússia é o terceiro maior produtor e segundo maior exportador da matéria-prima do mundo.
Por enquanto, o petróleo parece ser o termômetro mais preciso do medo dos investidores da guerra. Os contratos futuros do S&P 500 até começaram o dia em queda, mas ali pelas 8h da manhã ensaiavam flertar com o positivo (que audácia!). As bolsas europeias também tentam se firmar no azul. Como comparação, quando a Meta (ex-Facebook) entregou resultados frustrantes, no começo do mês, a queda dos futuros americanos ia na casa de mais de 1% pela manhã. A gente sempre diz, aqui no AM, que futuros em queda de 0,50% já representam um tombo, mas isso em condições normais de temperatura e pressão, claro. Não é o caso hoje.
Resta saber se investidores estão calmos ou ainda brincando de avestruz. Boa terça.
Futuros S&P 500: 0,06%
Futuros Nasdaq: -0,39%
Futuros Dow: -0,06%
*às 8h02
Índice europeu (EuroStoxx 50): -0,01%
Bolsa de Londres (FTSE 100): 0,35%
Bolsa de Frankfurt (Dax): -0,18%
Bolsa de Paris (CAC): 0,07%
*às 8h04
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): -1,30%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): -1,71%
Hong Kong (Hang Seng): -2,69%
Brent: 2,82%, a US$ 98,08*
*às 8h05
9h – Ministro da Economia, Paulo Guedes, participa de evento do BTG Pactual.
15h – É a vez do presidente do BC, Roberto Campos Neto, participar do mesmo evento.
Gringos nos gramados brasileiros
O fundo americano 777 Partners fechou um acordo com o Vasco da Gama para comprar 70% do time carioca. A participação estrangeira foi negociada por R$ 700 milhões. O acordo prevê que a operação deve ser aprovada em até 90 dias pelo conselho deliberativo e pelos atuais sócios do Vasco. Além disso, segundo a Folha, especula-se que o investimento possa ser maior, com a perspectiva de uma injeção de R$ 350 milhões no Estádio São Januário e o pagamento de outros RS 700 mi em dívidas do clube.
Vale lembrar que, no ano passado, as regras para gestão de clubes de futebol mudaram. Com o Marco Legal do Clube-Empresa, criou-se a figura da SAF (Sociedade Anônima do Futebol), uma alternativa às organizações sem fins lucrativos que vigoravam até então. Essa figura jurídica permite, inclusive, abrir capital na bolsa de valores.
Neste ano, o Vasco é o segundo clube brasileiro vendido para investidores estrangeiros. O primeiro foi o Botafogo, comprado pelo empresário americano John Textor por cerca de US$ 330 milhões.
Caíram (a operação e as ações)
A operação digital da Americanas, que inclui Submarino e Shoptime, está fora do ar desde sábado por causa de um ataque hacker. Segundo a companhia, os servidores foram derrubados por motivos de segurança. Até a manhã desta terça, não há previsão para restabelecer o serviço. O incidente afundou as ações da AMER3 no pregão de ontem: -6,61%, o que representa uma queda de mais de R$ 2 bilhões em valor de mercado. É que o digital compõe 75% da receita total da empresa, e deve continuar aumentando sua participação. Segundo previsão do Goldman Sachs, as vendas online deveriam fechar 2021 em R$ 39,8 bilhões e saltar para R$ 52,9 bilhões neste ano. Isso daria ao digital uma fatia de 77% na receita da Americanas. Isso se os hackers deixarem, claro.
Visita russa
Em meio à escalada de tensão no leste europeu, o presidente russo Vladimir Putin recebeu dois chefes de estado latino-americanos: o argentino Alberto Fernandes e o brasileiro Jair Bolsonaro. Depois do encontro, ambos adotaram um tom bastante amigável em relação à Rússia. E não são os únicos. Venezuela, Nicarágua e Cuba mantêm uma relação de bastante proximidade com o Kremlin, que ainda acenou à Bolívia e ao Paraguai com o envio de doses da vacina Sputnik V em 2021. A estreita relação com a América Latina, claro, guarda interesses econômicos e geopolíticos. A BBC News Brasil ouviu especialistas e explicou quais são eles. Leia a reportagem.
Que número é esse?
Há 126 anos, os produtos da Heinz mantêm o slogan “57 varieties”. Ele resistiu ao redesign das embalagens, às trocas de comando e propriedade da empresa, além de ter sido citado em vários episódios da história americana. Só há um detalhe: a marca nunca teve esse número de variedades – o 57 foi uma invenção do fundador. Mas por quê? A CNN contou a história da frase e ouviu especialistas sobre a importância dela para a identidade da marca. Leia aqui (em inglês).
Após o fechamento do mercado, saem os balanços de Telefônica, 3R Petroleum, BRF, Localiza, Raia Drogasil e Nubank.