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Petrobras e Vale desabam. Ibovespa fecha abaixo dos 100 mil pontos pela primeira vez desde 2020.

Queda de 5% no petróleo e no minério puxam as ações para baixo. Enquanto isso, Brasil e EUA ensaiam sobretaxar os lucros das petroleiras.

Por Alexandre Versignassi, Camila Barros
17 jun 2022, 17h59

O tsunami que atingiu o mercado americano na quinta (queda de 3,25% no S&P 500 e de 4,08% na Nasdaq) chegou por aqui com força total neste pós-feriado: queda de 2,90% no Ibovespa, a 99.824 pontos. Enquanto isso, lá fora, a pressão negativa dava uma amansada: alta de 0,22% no S&P, e de 1,43% na Nasdaq. 

Era natural que a queda de quinta nos EUA causasse uma correção no Ibovespa, independentemente do que acontecesse hoje no mercado americano, já que a bolsa não abriu ontem por conta do feriado de Corpus Christi. Das 92 ações que compõem o Ibovespa, só 18 fecharam em alta. 

Com isso, o Ibov fechou abaixo dos 100 mil pontos pela primeira vez desde novembro de 2020. A Petrobras, que corresponde a grossos 11,6% do índice, ficou entre as maiores quedas do dia: -7,25% para PETR3, a ON, e -6,09% para PETR4, a PN).  

Não faltaram motivos. Para começar o preço do barril caiu 5,58%, cotado a US$ 113,12, por conta do temor onipresente com uma recessão global. Claro: com o planeta inteiro jogando os juros lá em cima, a atividade econômica diminui. E a demanda por derivados cai junto. O mercado, então, antecipa-se a esse cenário (cada vez mais provável) e passa a comprar menos petróleo dos produtores. E o barril desaba. 

Isso é bom para a economia como um todo. Petróleo mais barato diminui a pressão inflacionária, e com menos pressão inflacionária, os choques nos juros podem ser menores lá na frente. Mas, obviamente, a notícia é ruim para quem vive de extrair e vender o suco de dinossauro.  

Logo, as ações das grandes petroleiras caíram em bloco mundo afora.  

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Entre as americanas:

Chevron: – 4,57%

Exxon: – 5,77%

Entre as europeias:  

Shell: – 4,71%

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BP: – 6,15%

PetroRio (-8,79%) e 3R Petrolleum (9,51%), as outras petroleiras do Ibovespa, também não escaparam da sangria. 

No caso da Petrobras, o buraco é um pouco mais embaixo. Arthur Lira (PP-AL), o presidente da Câmara, respondeu com veemência ao aumento no preço dos combustíveis que a estatal divulgou hoje (5,18% na gasolina e 14,26% no diesel). 

Pelo Twitter, pediu a cabeça de José Mauro Coelho, presidente da Petrobras (já demitido, mas que segue na ativa por enquanto): 

“Tem que renunciar imediatamente. Não por vontade pessoal minha, mas porque não representa o acionista majoritário da empresa – o Brasil – e, pior, trabalha sistematicamente contra o povo brasileiro na pior crise do país.”

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E seguiu espumando numa thread: 

“Saia!!! Pois sua gestão é um ato de terrorismo corporativo”.

De mais concreto, Lira afirmou hoje que pretende colocar o Congresso para discutir um aumento nos tributos sobre os lucros da estatal. Ele declarou numa entrevista à GloboNews:  

“A Petrobras paga de CSLL, por exemplo, x% sobre o lucro. Nós vamos por exemplo dobrar essa taxação e tentar reverter isso diretamente para a população, para que também entre no caixa do governo, não vá para o Tesouro e não esteja sujeito à lei do teto de gastos. E que a gente possa reverter isso para diminuir a compensação da diferença do custo do diesel no exterior para cá”.

A empresa paga 9% de CSLL (Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido). O valor pago em CSLL (mais IRPJ) em 2021 foi de R$ 10,4 bilhões. A ideia, então, seria passar os bilhões a mais que entrariam com um aperto na carga tributária para subsidiar os combustíveis. 

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Nos EUA, tramita algo parecido. O senador Ron Wyden, aliado de Joe Biden, quer colocar em discussão uma taxa extra sobre os “lucros excessivos” das petroleiras. Nos EUA, elas já pagam (como qualquer outra empresa) 21% sobre o lucro. A ideia é colocar uma sobretaxa de 21% sobre margens de lucro que excederem 10%.

Como as margens da petroleiras com óleo acima de US$ 100 é invariavelmente maior do que 10%, isso significaria aumentar a taxação sobre elas para 42%. Na prática, é uma tentativa de tornar menos interessante a aplicação de margens superiores a 10%.

Se vai funcionar é outra história. Mas o fato é que Biden tem tudo para apoiar uma iniciativa assim (ainda que não o tenha feito oficialmente). Na última terça, afinal, ele disse: 

“A Exxon fez mais dinheiro do que Deus no ano passado”.

A Exxon respondeu dizendo que, nos últimos 5 anos, investiu US$ 118 bilhões na exploração de novas fontes de óleo e gás, contra um lucro líquido de US$ 55 bilhões no período. E que isso fez com que a produção nos EUA crescesse 50% (fato que ajuda a conter os preços do petróleo). 

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O braço de ferro continua. E, como vemos, não é só no Brasil.

CVC

Entre as poucas altas do dia, destaque para a CVC. Os papéis da companhia de turismo subiram gloriosos 11,19%, a R$ 9,64. Esse é o segundo salto consecutivo da companhia: no último pregão, quarta-feira, as ações fecharam em alta de 13,19%.

 

A valorização veio após um anúncio de oferta primária de ações que pretende levantar até R$ 477 milhões, que serão usados para reforçar o capital de giro da empresa e pagar dívidas. Segundo a CVC, a oferta vinha sendo pensada há alguns meses, e considera a melhora no setor de turismo com o arrefecimento da pandemia.

O preço por ação será definido no dia 23 de junho, e os papéis começam a ser negociados no dia 27.

Minério

O temor de uma recessão tragou para baixo não só o preço do petróleo, mas o do minério de ferro também: tombo de 5% na cotação da commmodity. Nisso, a outra gigante do Ibov tombou feio também. Queda de 5,22% para a Vale, que responde por 16,2% do índice. 

Metalúrgica Gerdau (-8,51%), Usiminas (-6,00%) e CSN (-5,13%) acompanharam o réquiem. 

Agora resta sextar neste inverno financeiro. Recomendamos um vinho tinto para afogar as mágoas.

Bom fim de semana.

Maiores altas

CVC (CVCB3): 11,19%

Qualicorp (QUAL3): 4,56%

Alpargatas (ALPA4): 4,10%

Energisa (ENGI11): 3,25%

Hapvida (HAPV3): 3,19%

Maiores baixas

3R Petroleum (RRRP3): -9,51%

PetroRio (PRIO3): -8,79%

Gerdau (GOAU4): -8,51%

Gerdau (GGBR4): -7,89%

Braskem (BRKM5): -7,64%

Ibovespa: -2,90% aos 99.824 pontos

Em Nova York

S&P 500: 1,46%, aos 3.674 pontos

Nasdaq: 1,43%, aos 10.798 pontos

Dow Jones: -0.13%, aos 29.888 pontos

Dólar: 2,35%, a R$ 5,14

Petróleo

Brent: -5,58%, a US$ 113,12

WTI: -6,30%, a US$ 107,99 

Minério de ferro: -5,03%, a US$ 119,90 por tonelada na bolsa de Singapura.

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