Payroll forte reaquece aposta de aumento dos juros nos EUA
Mercado de trabalho aquecido dificulta a vida na luta contra a inflação. Bolsas voltam do feriado sem definir humor.

Bom dia!
Enquanto investidores descansavam no feriado da sexta-feira, um importante dado saiu nos EUA: o payroll de março, relatório oficial sobre o mercado de trabalho americano. E ele reaqueceu o debate dos juros por lá.
O payroll mostrou que, em março, o país criou 236 mil vagas, perto do esperado pelos analistas (240 mil). É uma desaceleração relevante em relação a janeiro (472 mil vagas) e fevereiro (326 mil), mas ainda assim um número considerado alto. O desemprego, por sua vez, caiu de 3,6% para 3,5%.
Um mercado de trabalho ainda muito aquecido é um desafio para o Fed atingir sua meta de inflação, de 2%. Nisso, investidores voltam a apostar que o banco central americano vai subir os juros novamente na sua próxima reunião, em 0,25 ponto percentual. No CME Group, essa opção é a aposta majoritária, com 65%; os outros 35% acreditam na manutenção da taxa atual.
A ideia de que o Fed poderia pausar seu ciclo de aumentos ganhou força com a quebra do banco SVB e a mini crise que atingiu o sistema financeiro global, mas parece já ter sido deixada para trás, já que os preços seguem teimosamente altos.
Essa semana ainda reserva um outro dado muito importante nessa discussão: a inflação em si. Na quarta-feira sai o CPI, índice de preços ao consumidor americano, que deve mostrar ainda um problema persistente. No mesmo dia também é divulgada a ata do Fomc, que detalha a última decisão do Fed e deve trazer insights sobre o real impacto do estresse no sistema financeiro mundial.
E as bolsas, como reagiram? Não reagiram: na volta do feriado, os futuros americanos acordam preguiçosos, rondando a estabilidade e sem direção definida (veja abaixo). O petróleo também começa a segunda-feira estável, após subir 6% na semana passada. O dia como um todo é xoxo: a agenda é fraca e na Europa não há pregão porque o feriado é estendido.
Por aqui, o foco da semana é a viagem de Lula à China, nosso mais importante parceiro comercial. O presidente e sua comitiva embarcam na terça-feira. O efeito colateral negativo é que o envio do novo arcabouço fiscal ao Congresso é adiado por conta disso – e há desconfiança no mercado de que o texto possa sofrer alterações até lá.
Ainda hoje o presidente se reúne com ministros para discutir os primeiros 100 dias de governo. A reunião será fechada, mas a fala inicial do presidente com um balanço do início da gestão será transmitida. Alguns anúncios também serão feitos.
Bons negócios.
Futuros do S&P 500: 0,01%
Futuros do Dow Jones: 0,08%
Futuros do Nasdaq: -0,19%
*às 8h15
Assaí considera venda de ativos
Na semana passada, o Assaí anunciou que pode vender algumas lojas entre 2023 e 2024. De acordo com o CEO Belmiro Gomes, esta é a melhor estratégia para captar dinheiro e reduzir o endividamento da companhia, já que a Selic nas alturas tem encarecido a captação de crédito. Ele também descartou a possibilidade de fazer uma nova oferta de ações – rumor que corria pelo mercado alguns dias antes. Em comunicado divulgado alguns dias depois, o Assaí explica que a opção que está sendo considerada é de uma operação de “Sale and Lease back”, ou seja, vender imóveis para automaticamente alugá-los depois. “Dessa forma, o Assaí consegue capital para investimento e ampliação de negócios, se dedicando a sua atividade, que é a venda no comércio atacadista de produtos alimentares, não implicando em hipótese alguma no encerramento de nossas lojas”, diz a empresa.
O mercado interpretou o anúncio com desconfiança: as ações ASAI3 caíram 6,3% na quarta e 1,3% na quinta. No acumulado do ano, os papéis da companhia caem 28,2%.
Essa nota foi atualizada para incluir o comunicado da empresa.
10h Lula se reúne com ministros para reunião de balanço dos 100 primeiros dias de governo.
As bolsas europeias seguem fechadas nesta segunda-feira por conta do feriado.
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): -0,45%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): 0,47%
Hong Kong (Hang Seng): feriado, sem pregão
Brent*: 0,01%, a US$ 85,13
Minério de ferro: -1,83%, a US$ 113,03 por tonelada em Dalian (China)
*às 8h03
Americanos menos workaholics
Os americanos estão trabalhando em média meia hora menos do que costumavam fazer antes da pandemia, de acordo com uma pesquisa da Universidade de Maryland. É uma escolha pessoal: com o tempo livre extra, eles têm focado mais em hobbies e lazer. Ótimo para eles. Mas ruim para o Fed, que vê o mercado de trabalho superaquecido dos EUA como o principal desafio para conter a inflação.
Segundo o estudo, esses minutinhos não trabalhados tiveram um efeito significativo na produtividade americana nos últimos três anos – equivalente à perda de 2,4 milhões de funcionários. Para compensar esse déficit de mão de obra, as empresas precisam contratar mais. E aí o mercado de trabalho continua aquecido. Esta reportagem da Bloomberg explica o estudo.