Ômicron reinfecta o mercado: bolsas e petróleo em queda
Incerteza sobre a nova variante causa mais volatilidade nesta terça. Futuros nos EUA caem 1%; petróleo, 3%.
A previsão para hoje é de chuvas, trovoadas, furacão. Os índices futuros dos EUA amanheceram numa queda feia, com S&P 500 e Dow Jones abaixo de -1%. Nas bolsas europeias, idem: todo mundo no vermelho.
O clima turbulento veio após uma entrevista de um dos executivos da Moderna para o Financial Times. “O número de mutações nesse vírus é surpreendente”, disse Noubar Afeyan, co-fundador da a fabricante de vacinas. “Ele representa uma ameaça séria”.
O problema todo é o seguinte: a bioquímica é uma ciência exata. Precisa de dados e de tempo para construir suas certezas. O mercado financeiro é o oposto: uma entidade terrivelmente humana, esquizofrênica.
Uma criptomoeda chamada Ômicron, por exemplo, subiu 900% entre sexta e segunda. Ela já existia antes da nova mutação, e só subiu porque o nome da 15a letra do alfabeto grego ficou famoso da noite para a dia. Malucos passaram a comprar a tal cripto na esperança de poder vender a um valor maior depois para gente ainda mais insana. Pelo jeito, deu certo – nesta manhã, a cotação da coisa já tinha caído de US$ 700 para US$ 380. Ainda assim segue bem acima do preço pelo qual ela era oferecida até a semana passada, US$ 65.
O caso é anedótico, mas dá uma amostra do quanto o mercado conversa mal com a realidade.
A ciência ainda vai levar um certo tempo para ter como avaliar o tamanho do risco que a Ômicron representa. Albert Bourla, CEO, da Pfizer, deixa claro. Diz que precisamos de pelo menos duas ou três semanas para avaliar se o vírus é mesmo resistente às vacinas atuais. Na África do Sul, onde a Ômicron multiplicou-se até se tornar a variante mais presente, a porcentagem de pessoas com duas doses é relativamente baixa: 24% da população, versus 42% da média mundial (no Brasil, são 63%). Falta um certo chão, então, para entender qual é a transmissibilidade do Ômicron em lugares onde a cobertura vacinal é mais alta. Também vale notar que o número de mortes na África do Sul segue em baixa: 34 na média móvel dos últimos 7 dias, contra mais de 500 no auge da pandemia por lá. Em mortes por milhão de habitantes, o índice é de 0,63. Menor que o do Brasil, que, com 228 mortes/dia está em 1,08.
Ou seja: não há razões concretas para pânico neste momento. Mas não dá para combinar isso com o mercado.
Boa terça.
Futuros S&P 500: -1,03%
Futuros Nasdaq: -0,48%
Futuros Dow: -1,27%
*às 7h52
Índice europeu (EuroStoxx 50): -1,67%
Bolsa de Londres (FTSE 100): -1,44%
Bolsa de Frankfurt (Dax): -1,53%
Bolsa de Paris (CAC): -1,47%
*às 7h48
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): -0,40%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): -1,63%
Hong Kong (Hang Seng): -1,58%
Brent: -3,10%, a US$ 71,16*
Minério de ferro: -0,85%, a US$ 102,39, no porto de Qingdao na China
*às 7h52
– A Comissão de Constituição e Justiça do Senado vota hoje a PEC dos precatórios. Se aprovada, segue para o plenário e deve ser votada na quinta-feira.
9h- O IBGE divulga a taxa de desemprego de setembro, com expectativa de recuo para 12,7% (ante 13,2% em agosto).
12h- Nos EUA, o presidente do banco central americano (Fed), Jerome Powell, e a secretária do Tesouro, Janet Yellen, falam ao Comitê Bancário do Senado.
15h30- O Ministério do Trabalho divulga os dados do Caged, com expectativa de criação líquida de 260 mil vagas de emprego formal em outubro.
Correios à venda a preço de Black Friday
Até setembro deste ano, os Correios tiveram R$ 1,9 bilhão de lucro líquido, de acordo com o Valor Econômico. A cifra já é maior que a de 2020, quando o registro foi de R$ 1,53 bi. E ambos são menores que o valor mínimo previsto para a venda da estatal, em caso de privatização: R$ 1,3 bi. Para comparar: o valor de mercado da FedEx, outra empresa de entregas, equivale 12 anos de seus lucros. Os correios podem ir a venda por menos de um – estima-se que possa chegar a R$ 3 bilhões, ainda assim, não daria bnem dois anos do lucro.
Ainda assim, o plano de privatização está mantido, já que a equipe econômica estima ser necessário R$ 2 bi em aportes anuais para modernização da companhia, além de recursos para quitar as dívidas trabalhistas.
Só vai ser preciso combinar com o Senado, onde o projeto está, depois de ter passado pela Câmara dos Deputados. Segundo o senador Otto Alencar, que preside a Comissão de Assuntos Econômicos, a votação não deve sair neste ano. Para ele, os números colocam em xeque os motivos do governo.
Saída de Jack Dorsey do Twitter
O Twitter informou que Jack Dorsey, um dos seus fundadores, deixará o cargo de CEO da companhia. Ele também é presidente da Square – empresa de pagamentos digitais que, como a rede do passarinho azul, está listada na Nyse.
Um dos motivos para a saída, aliás, foi esse: liderar ambas. Desde 2020, o Elliott Management, grupo de investidores liderado pelo bilionário Paul Singer, tem pedido a cabeça dele. Isso porque, quando assumiu de volta a posição de CEO, em 2015, Dorsey deveria se comprometer em tempo integral com o Twitter.
Outro motivo, apontado pela Bloomberg, é a dificuldade da rede social de monetizar seus produtos, se comparada com outras, como a Meta (ex-Facebook). Enquanto a rede de Zuckerberg teve lucro líquido de US$ 9,1 bilhões no terceiro trimestre deste ano, o Twitter ficou no vermelho, com prejuízo líquido de R$ 537 milhões. As ações da rede social de Dorsey chegaram a subir 10% ontem após o anúncio de sua saída. Mas fecharam o dia em baixa: -2,74%.
A geração de investidores guiada pelas redes
Uma pesquisa do Datafolha com 950 adolescentes apontou que 70% deles têm por hábito guardar algum dinheiro. Mais: embora a maior parte (68%) não tenha nenhum conhecimento sobre a Bolsa de Valores, mais de 60% acredita que pode lucrar se guiando apenas por dicas de como investir que pegam nas redes socias. Enquanto isso, são 44% os que, de fato, buscam informações sobre como gerir o dinheiro e os investimentos. O resultado foi detalhado pela Folha, que também ouviu adolescentes que viraram influenciadores do tema nas redes. Leia aqui.
Ameaça sobre as commodities
Ômicron à parte, uma eventual retirada dos estímulos nos EUA e uma desaceleração na China podem causar uma baixa nas commodities equivalente à que foi vista em meados da última década, quando a injeção de dinheiro para aliviar a crise de 2008 freou nos EUA, e quando o crescimento Chinês desceu um degrau.
Em 2022, por exemplo, a China deve anotar o menor crescimento desde 1990 (5,6%).Para o Brasil, o maior perigo é que as mesmas commodities que suavizaram os prejuízos econômicos durante a pandemia podem agora agravá-los. Na The Economist.