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O rali de Natal chegou – e o Brasil vai junto?

Ibovespa pegou carona no otimismo, mas problemas em Brasília continuam assombrando investidores tal qual a música “Então é Natal”.

Por Tássia Kastner, Guilherme Jacques
7 dez 2021, 08h32

Depois de uma semana turbulenta, entramos em uma terça-feira recheada de otimismo global. Não tem tempo nem notícia ruim no planeta que pareçam capazes de estragar as comemorações de final de ano. Os futuros americanos sobem de 1% para mais – o índice Nasdaq, quase 2%. Na Europa, as principais bolsas têm ganhos expressivos, enquanto a Ásia fechou também com um tom bastante positivo. Tudo está no azul.

Um gás extra veio da China. As exportações do país subiram 22% em novembro, menos que os 27% de outubro, mas muito acima dos 16% esperados pelo mercado. Vendas fortes ao exterior dão suporte à recuperação da economia do país, que vinha sendo colocada em xeque durante todo o segundo semestre. Foi o período marcado pelo estouro da crise da construtora Evergrande, pela redução da atividade siderúrgica e ainda pela escassez de energia elétrica. Um segundo sinal positivo da China foi o crescimento de 32% nas importações, mostrando que a demanda doméstica do país segue robusta.  

O problema é que o Brasil vai precisar mesmo contar com o otimismo natalino se quiser entrar no quarto pregão positivo. Por aqui, depois de o mercado fazer as pazes com a PEC dos Precatórios, o noticiário voltou a mostrar riscos para a economia doméstica.

Segundo o Estadão, os R$ 100 bilhões liberados pela PEC para 2022 não foram suficientes e ainda haverá um rombo de R$ 2,6 bilhões no teto de gastos (o instrumento criado para evitar o crescimento da dívida pública). Um péssimo sinal para o mercado, que via no instrumento um jeito de limitar o estrago populista de 2022.

Além disso, a ministra do Supremo liberou o Congresso para usar as emendas de relator, o instrumento que vinha permitindo o toma lá dá cá do governo para aprovar propostas de seu interesse. A magia das emendas do relator é não contar que parlamentar recebeu o agrado – e nem o tamanho do afago para votar com o Planalto. Resumo: tá liberado o bolsolão. 

Isso sem falar nos problemas de fundo, com a alta da inflação que existe um aumento de juros. Hoje é o primeiro dia da reunião do Copom. Amanhã, após o fechamento do mercado, devemos ter uma Selic a 9,25%, que tem o potencial de carregar o país para uma estagflação. Os problemas do Brasil, afinal, sempre voltam. É como entrar no supermercado nessa época do ano e saber que em algum momento vai tocar “Então é Natal”. 

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humorômetro: o dia começou com tendência de alta

Futuros S&P 500: 1,25%

Futuros Nasdaq: 1,74%

Futuros Dow: 0,98%

*às 7h50

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Europa

Índice europeu (EuroStoxx 50): 2,46%

Bolsa de Londres (FTSE 100): 1,17%

Bolsa de Frankfurt (Dax): 2,02%

Bolsa de Paris (CAC): 2,14%

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*às 7h46

Fechamento na Ásia

Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): 0,60%

Bolsa de Tóquio (Nikkei): 1,89%

Hong Kong (Hang Seng): 2,72%

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Commodities

Brent: 2,67%, a US$ 75,03*

Minério de ferro: 8,28%, a US$ 111,34, no porto de Qingdao na China

*às 7h47

Agenda

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Hoje – Primeiro dia de reunião do Comitê de Política Monetária. A decisão sobre a nova Selic sai amanhã após o fechamento do mercado. Economistas esperam aumento de 1,5 ponto percentual, para 9,25% ao ano.

11h – Confederação das Indústrias (CNI) realiza encontro com o governo. Está prevista a participação de Bolsonaro, que ontem desmarcou compromissos.

17h30 – Paulo Guedes deve participar de evento online da Eurasia

market facts

Socorro 

As ações da Marisa (AMAR3) saltaram 15,7% no pregão da segunda-feira, depois que os controladores da varejista – a família Goldfarb – decidiram aportar R$ 89,9 milhões no negócio. Para investidores, foi um sinal de alívio, já que a companhia estava com pouco dinheiro em caixa para quitar dívidas de curto prazo. Existe a possibilidade de os minoritários injetarem dinheiro também, com o potencial de levantar quase R$ 250 milhões. As ações acumulam queda de mais de 40% no ano. É que a empresa, que já não vinha bem antes, ainda sofre com os efeitos do menor fluxo de clientes nas lojas. Antes de capitalizar a empresa, os controladores tentaram vendê-la. 

Quebrando o porquinho

Brasileiros sacaram R$ 12,3 bilhões da poupança em novembro, o quarto mês consecutivo de retirada de recursos. A queda no saldo da caderneta é uma combinação de fim do auxílio emergencial (que era pago por lá) com a alta da inflação, que força o uso das economias para pagar a conta do supermercado. O volume de retiradas no mês foi o segundo maior em 26 anos, perdendo apenas para janeiro deste ano. Ainda assim, o saldo total continua acima de R$ 1 trilhão, a marca alcançada em setembro do ano passado.

Falando em poupança, se o seu dinheiro está lá, deverá render um naco a mais a partir de quinta-feira. Se a Selic subir de fato a 9,25%, volta a valer a regra antiga de remuneração, aquela de paga 0,50% ao mês + TR (atualmente zerada). A chave muda sempre que a Selic cruza a barreira dos 8,5% ao ano. Hoje, com o juro abaixo desse patamar, poupadores ganham 70% da Selic.

Vale a pena ler:

Vigilância extrema

Em uma ditadura, como a da China, o controle do governo sempre esteve presente. Mas o atual presidente, Xi Jinping, tem apertado as amarras. Intercâmbios acadêmicos não são mais autorizados desde o início da pandemia e uma nova lei de segurança de dados, criada em setembro, impede que investidores e outros interessados obtenham informações sobre o país e suas empresas. Nem mesmo dados da atividade portuária são liberados. O motivo levantado pelo The Wall Street Journal é uma combinação de fatores: medidas de combate à Covid-19, proteção de dados e um ambiente político em que os outros atores do globo são considerados suspeitos. Leia aqui.

Sem dó nem piedade

Demitir alguém por telefone já não é uma prática louvável de liderança. Imagine fazer isso com 900 funcionários em uma videochamada no Zoom? Pois aconteceu. Vishal Garg, CEO da empresa americana de hipotecas Better.com, fez o anúncio assim: “Se você está nesta teleconferência, você faz parte do grupo azarado que está sendo demitido”. Leia no Valor Econômico – e veja o vídeo (em inglês).

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