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Minério, Focus e indefinição em Brasília regem dia lento, com feriado em NY

RDOR3 ainda sobe na inércia das notícias da semana passada, enquanto projeções de inflação e Selic mais altas no futuro pressionaram o dólar e os juros futuros para cima – e o Ibovespa para baixo.

Por Bruno Vaiano
Atualizado em 26 dez 2022, 19h03 - Publicado em 26 dez 2022, 18h58

Hoje foi um dia daqueles na Bolsa. Daqueles em que não acontece nada. Os mercados dos EUA e da Europa permaneceram fechados – é o tal “feriado do feriado”, aquela indenização (rs) pelo Natal ter caído em um domingo. Não rolou no Brasil, mas o feriadão artificial foi o presente do Papai Noel para os traders exaustos de outros países. Sem noticiário e indicadores no exterior, o Ibovespa flutuou ao sabor de forças mais corriqueiras, como a alta do minério na China apesar da Covid-19, um Boletim Focus tristonho e a indefinição em torno de quem ocupará a pasta do Planejamento. 

O Focus trouxe notícias ruins: a previsão para a Selic ao final de 2023 subiu de 11,75% para 12%. A expectativa para o IPCA de 2022 caiu de 5,76% para 5,64%, mas subiu de 5,17% para 5,23% em 2023 e de 3,50% para 3,60% em 2024. Esses números  – mais um reflexo do receio com os gastos do novo governo – fizeram o dólar subir 0,83%, causaram uma alta nos juros futuros e tiveram seu quinhão de culpa na melancolia na B3 (queda 0,87% no Ibovespa). 

Não foram os únicos culpados, porém. Em Brasília, os dramas que sobraram para a última semana do governo Bolsonaro não caminharam grande coisa. Tebet ainda não tem endereço: falou que topa pegar a pasta do Planejamento se a Caixa e o Banco do Brasil ficarem sob sua alçada, bem como as parcerias público-privadas (PPP). As negociações continuam – a composição final da esplanada, com os 16 nomes finais, deve sair até quarta. 

Por ora, as dúvidas restantes sobre a equipe de Lula a dias de distância da posse ajudam a renda variável a cair, especialmente em um pregão com baixo volume de negócios, em que não há poucas forças em jogo. 

RRRP3 chegou a ser a maior alta do dia às 15h – puxada pela notícia da aquisição do campo de extração de petróleo Papa-Terra, na Bacia de Campos, que saiu na sexta –, mas fechou em queda de -0,14%. No mundo da saúde privada, a Rede D’Or (RDOR3) subiu 2,19%, ainda no fôlego da aquisição da SulAmérica anunciada semana passada (o ticker SULA11 saiu de circulação hoje, oficialmente). 

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China e Vale

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Hoje, a Comissão de Segurança Nacional da China anunciou que vai reduzir o grau de ameaça oficial do coronavírus da categoria A para a categoria B. Cada categoria, claro, prevê um conjunto diferente de medidas, e a B é menos restritiva que a A. Por exemplo: pessoas recém-chegadas de outros países não precisarão mais fazer quarentena: basta apresentar um teste negativo realizado nas últimas 48 horas. 

Ou seja: Xi Jinping permanece fiel ao plano de reabertura do país após três anos de restrições contra a covid-19. E o problema é que não havia… bem, um plano. 

É fato que a China organizou alguns dos lockdowns mais eficazes do mundo, e teve desempenhos exemplares na testagem e no rastreamento de infectados. O problema é que evitar a contaminação por meio do isolamento linha-dura não é uma técnica viável para sempre. Uma hora, as pessoas precisam sair de casa. Para mantê-las em segurança, a melhor solução disponível são as vacinas – que reduzem muito a letalidade do vírus e a gravidade dos casos, especialmente quando já estão atualizadas contra as variantes mais recentes. Com menos gente internada na UTI, a rede hospitalar pode evitar o terror da superlotação. Um risco particularmente grave no país mais populoso do mundo. 

O problema é que o Partido Comunista não foi tão zeloso com a reabertura quanto foi com o fechamento. Os idosos resistem à vacinação, e as vacinas disponíveis – que são de vírus inativado, não de mRNA, como as da Pfizer e da Moderna – não são as mais eficazes. 

Nas farmácias, faltam testes rápidos e remédios para dor e febre. Nos hospitais, não há leitos ou insumos suficientes para atender à demanda (o diretor de um pronto-socorro em Chaoyang, no nordeste do país, afirmou à mídia estatal que o número de pacientes por dia quadruplicou – um raro dado numérico sobre o caos em meio à censura do regime). Essas eram necessidades fáceis de prever dada a velocidade com que o vírus se multiplica numa população de mais de um bilhão de pessoas. 

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Enquanto isso, Biden assinou um documento que libera US$ 10 bilhões para Taiwan adquirir equipamento militar, e também prevê que os EUA colaborem com o treinamento das forças locais. A China respondeu com os exercícios militares nababescos já usuais – pelo menos 70 caças já sobrevoaram os mares ao redor da ilha para dar um recadinho silencioso. 

A China só sacode o mercado brasileiro para valer pela via do minério de ferro – e por ora, os números ainda refletem a fé de que a reabertura será boa para a construção civil chinesa (ainda que a alta nos casos, na prática, tenha tanto potencial para paralisar o país quanto os lockdowns distópicos de antes). A cotação da commodity subiu 1,35% na bolsa de Dalian e trouxe consigo a Vale e algumas das siderúrgicas, que fecharam o dia em alta. Caso de VALE3 (0,92%) e CSNA3 (1,65%).

A CSN também anunciou um pagamento de proventos de R$ 0,52 por ação (na forma de juros sobre capital próprio), o que ajudou no pregão. 

A notícia do fim dos lockdowns na China – somada às medidas recentes do governo de Xi Jinping para salvar o setor da construção civil de sua dívida impagável –, fez a Vale recuperar uma parte razoável de suas perdas ao longo do segundo semestre, quando o pessimismo com o país asiático arrastou para baixo as ações de companhia e a cotação do minério. Os papéis subiram 38,4% desde o ponto mais baixo do ano, em setembro. 

Até amanhã!

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Maiores altas

Rede D’Or (RDOR3): 2,19%
Americanas (AMER3): 1,74%
CSN (CSNA3): 1,65%
SLC Agrícola (SLCE3): 1,58%
Yduqs (YDUQ3): 1,39%

Maiores baixas

Renner (LREN3): -5,35%
Totvs (TOTS3): -4,59%
Dix (DXCO3): -4,24%
Eneva (ENEV3): -4,20%
Ultrapar (UGPA3): -3,82%

Ibovespa: 0,87%, a 108.737 pontos

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Em NY:
Bolsas fechadas para feriado prolongado de Natal nos outros países.

 

Dólar: 0,83%, a R$ 5,20

 

Petróleo
Bolsas fechadas para feriado prolongado de Natal nos outros países.

 

Minério de ferro:  1,35%, a US$ 118,46 a tonelada na bolsa de Dalian

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