A diversão para hoje é ver como a Americanas vai abrir no pregão. Mas aí é puro ludismo mesmo. AMER3, antes da derrocada de 77%, representava só 0,36% do Ibovespa – e agora são apenas 0,084%. Fora a remota possibilidade de um efeito dominó sobre os papéis de outras empresas do varejo e dos bancos, não é o destino da empresa que vai mover o mercado.
Mais relevante é o primeiro pacote de medidas de Haddad, anunciado na tarde de ontem. O ministro da economia lançou um plano que busca converter o déficit previsto para este ano em superávit.
Parte dele é um programa de refinanciamento de dívidas com a Receita, a ser chamado de “Litígio Zero”. A ideia é abater multas de devedores para ampliar a arrecadação de 2023 com receitas que não estavam previstas.
Outra medida é cortar R$ 30 bilhões em créditos tributários. Em português mais claro, aumentar impostos.
E, sim, ele também falou em cortes de gastos. A ideia seria reduzir em R$ 50 bilhões certas despesas do governo. Uma das possibilidades é passar um pente fino no cadastro do Bolsa Família – uma medida racional depois de Bolsonaro ter convertido o então Auxílio Brasil em uma bomba atômica eleitoreira, ampliando a base de beneficiários sem critério.
All in all, o plano é converter um déficit primário previsto em R$ 232 bilhões para um superávit de R$ 11 bilhões. Mas, como a teoria costuma ser outra na prática, o próprio Haddad contemporizou: “Se tudo acontecer, eliminamos o déficit. Mas sabemos que a meta não deve ser atingida”. Para o ministro, é mais realista imaginar um déficit de até 1% do PIB (em torno de R$ 100 bilhões).
Desconfianças à parte, não há percepção de “baderna fiscal”. Tanto que os juros dos títulos públicos deram uma amansada. O IPCA+2035 fechou ontem em 6,01%, vindo de 6,15% no dia anterior, e de grossos 6,31% em 4 de janeiro.
O pregão de hoje ganha uma forcinha lá da China. As importações do país caíram 7,5% em dezembro na comparação anual. Ruim? Claro. Mas ainda assim é uma desaceleração. Em novembro a queda tinha sido de 10,6%. E as previsões apontavam para 9,8%. Ou seja: o velho “tudo errado, mas tudo bem”.
Nisso, o minério amanheceu disposto: alta de 3,40%. Bom para a Vale, que representa 16% do Ibovespa – 190 vezes a pequena Americanas.
EUA
A inflação nos EUA caiu para 6,5% em dezembro – uma queda de 0,1% sobre novembro. Isso amplia as expectativas para que o próximo aumento dos juros do Fed, a ser anunciado em fevereiro, seja de apenas 0,25 pp (elevando a “Selic” deles a 4,75%). O último aumento tinha sido de 0,50 pp; os quatro anteriores, de 0,75 pp.
O alívio ajudou as bolsas dos EUA a fecharem no positivo ontem, e segue impulsionando as da Europa. Mesmo assim, o mercado americano acordou de ovo virado, com os futuros em baixa à espera dos balanços dos grandes bancos. Veja lá embaixo.
E bons negócios!
Futuros S&P 500: 0,81%
Futuros Nasdaq: 0,97%
Futuros Dow: 0,74%
*às 8h22
Twitter procura renda extra
O Twitter de Elon Musk continua em sua cruzada em busca de novas fontes de receita que consigam tirar a empresa do vermelho. Começou com o botão de verificado para assinantes – que quase matou alguns UX Designers do coração porque, de início, não diferenciava os verificados-porque-pagam dos verificados-porque-merecem. Além disso, a empresa também entrou com um pedido ao Tesouro americano para processar pagamentos em sua plataforma. Agora, o Twitter está considerando leiloar nomes de usuários. Tipo, pagar pra conseguir o nome @Ana no aplicativo.
A busca por alternativas vem no momento em que a empresa, agora de capital fechado, tem perdido receita de anúncios na plataforma.
EUA, antes da abertura do mercado: Balanços de Bank of America, BlackRock, Citigroup, JPMorgan, UnitedHealth Group e Wells Fargo,
9h: Banco Central divulga IBC-BR, indicador de atividade econômica, de novembro. Expectativa é de queda de 0,20%
–Índice europeu (EuroStoxx 50): 0,45%
Bolsa de Londres (FTSE 100): 0,41%
Bolsa de Frankfurt (Dax): 0,24%
Bolsa de Paris (CAC): 0,38%
*às 9h03
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): 1,41%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): -1,25%
Hong Kong (Hang Seng): 1,04%
Brent: 0,69%, a US$ 84,61 o barril
*às 9h02
Minério de ferro: 3,40%, a US$ 131,29 a tonelada, em Dalian
Crise no casamento
Um número incomum de empresas tem visto o ambiente de trabalho se transformar em um campo de batalha semi-silencioso entre subordinados e superiores. De um lado, os funcionários não conseguem mais esquecer que a vida não é só trabalho. Do outro, os chefes estão cada vez mais pressionados por aumento de produtividade e eficiência, em meio a um cenário de inflação e possível recessão. No começo, a treta era só entre trabalho presencial vs. remoto. Agora, se estendeu para pagamento, expectativa de produtividade e engajamento com a empresa. O Wall Street Journal explica aqui.
Só observa
Entre 1977 e 2003, a ExxonMobil, maior petroleira dos EUA, produziu uma série de estudos científicos que previam o aquecimento global. E ainda assim, não mexeu um dedo para frear a própria emissão de gases do efeito estufa. As projeções eram de aumento de 0,2°C a cada década – próximo da estimativa de 0,19°C feita tempos depois pelos principais pesquisadores do clima. A ExxonMobil cravou mais do que a própria Nasa: o índice de acerto das pesquisas da petroleira é de 70% (em um dos estudos, 99%), enquanto, na mesma época, a agência espacial americana acertou de 38% a 66%. A Folha conta essa história.