Milagre de superquarta: Fed e Evergrande garantem alta de 1,84%

O mercado já acordou satisfeito com a Evergrande disposta a pagar juros que vencem amanhã. E a notícia de que o Federal Reserve vai demorar mais um pouco para fechar sua torneira de dinheiro manteve os ânimos lá no alto.

Por Juliana Américo, Alexandre Versignassi
22 set 2021, 18h08
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 (Laís Zanocco/VOCÊ S/A)
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O evento místico da superquarta, quando as agendas do Banco Central e do Federal Reserve se encontram, é sempre um momento de surpresas. Desta vez, porém, não foi só a política monetária quem ditou o ritmo do mercado. Também foi a novela da China.  

O preço do minério de ferro voltou a subir depois de nove dias de queda (mais um de estabilidade) – e foi uma bela alta de 16,84%. Um repique impressionante para uma baixa não menos surrealista. Só nesse período, a commodity tinha desvalorizado quase 40%, e a tonelada chegou a ficar abaixo dos US$ 100.

O que levou a essa mudança foi a notícia de que a construtora chinesa Evergrande vai pagar o pedaço de sua dívida que vence amanhã. Trata-se de um “cupom” de juros sobre uma debênture (título privado) que ela lançou no mercado há um tempo – uma que paga 5,8% anuais e vence em 2025. Só o cupom de amanhã já dá um total de US$ 36 milhões. E eles avisaram que vão pagar. 

Menos mal. Por outro lado, a empresa não se pronunciou sobre um outro cupom de juros, que também vence na quinta-feira. Esse totaliza US$ 83 milhões.  

Esses valores são liliputianos perto da dívida total da empresa, de US$ 300 bilhões. Mas o pagamento de parte deles dá algum sinal de segurança para o mercado. E já é um alívio para mineradoras e siderúrgicas, que são as mais afetadas pela crise da Evergrande. O colapso da empresa pode travar o setor de construção chinês, responsável por 35% do consumo de aço deles. 

Por aqui, os investidores aproveitaram para apostar nas companhias do setor (note que todas as nossas siderúrgicas também exportam minério de ferro cru – igual a Vale, que só faz isso). O destaque ficou com a Usiminas, que disparou 8,20%. Em seguida, estão Metalúrgica Gerdau (5,90%), Gerdau (5,34%), Vale (4,02%) e CSN (1,84%). 

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A Bradespar também entrou na onda. A empresa é uma das acionistas controladoras da Vale – detém 5,73% da mineradora. Suas ações, então, acompanharam as da mineradora: alta de 4,22%. 

O clima positivo acabou contagiando o mercado todo. Das 91 ações que compõem o Ibovespa, 66 fecharam no positivo, e o índice retomou os 112 mil pontos, após uma alta de 1,84%. 

Política monetária americana

Também teve a divulgação do Federal Reserve (o banco central americano), que foi recebida sem grandes sustos pelo mercado. O Fed manteve as taxas de juros entre 0% e 0,25% ao ano, assim como já era previsto. No entanto, essas taxas podem mudar um pouco mais cedo do que o planejado. 

Na última reunião, que aconteceu em junho, a projeção era de alta a partir de 2023. Agora, o relatório já indica que as taxas básicas fiquem entre 0,50% e 0,75% já no ano que vem. 

O mais importante foi outro anúncio: o de que a compra de US$ 120 bilhões mensais de títulos para estimular a economia vai se manter por mais um tempinho. Mas já é para o mercado começar a se preparar. O Fed indicou que vai sim começar o “tapering”, que é a retirada dos estímulos.

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Segundo o presidente do Fed, Jerome Powell, o anúncio sobre o início da redução gradual deve acontecer na próxima reunião de novembro. 

Ele também comentou que a retirada será gradual. Que “é razoável” imaginar que a torneira de dinheiro só feche completamente em meados de 2022. 

O ponto é que não houve nenhuma surpresa negativa com as falas – isso aconteceria se Powell anunciasse o início do tapering para já. E no fim das bolsas americanas fecharam em alta: o índice Nasdaq subiu 1,02%, aos 14.896 pontos. E o S&P 500 avançou 0,95%, aos 4.395 pontos. 

Taxa Selic

Assim que o Fed divulgou os rumos de sua política monetária, foi a vez do Banco Central entrar em cena. O comitê do Banco Central ainda está em reunião e só deve divulgar a sua decisão sobre a nova taxa básica de juros a partir das 18h30. 

A expectativa é de que a Selic seja elevada em 1 ponto percentual, passando de 5,25% para 6,25% ao ano. Caso se confirme, essa será a segunda alta consecutiva nesse nível – não são triviais altas de mais de 0,75 pp, mesmo em tempos de alta nos juros. 

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O avanço na taxa básica faz parte do movimento de retirada de estímulos do BC e forma de controlar a inflação, que entrou em modo desenfreado. A meta do Conselho Monetário Nacional é de uma inflação de 3,75% para 2021, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, entre 2,25% e 5,25%. O problema é que a inflação já ultrapassou bem esse limite. No IPCA de agosto (que é o índice de preço ao consumidor), a inflação acumulada dos últimos 12 meses foi de 9,68%.

Por essas, as previsões do mercado para as altas da Selic não para de subir. Há um mês, a média dos economistas ouvidos pelo Banco Central (no Boletim Focus) imaginava a taxa em 7,50% para o fim do ano. Há uma semana, essa previsão já era para 8%. E hoje está em 8,25%.

Até amanhã!  

Maiores altas

Usiminas (USIM5): 8,20%

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Azul (AZUL4): 8,19%

PetroRio (PRIO3): 8,15%

Cielo (CIEL3): 7,79%

TOTVS (TOTS3): 5,34%

Maiores baixas

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Hapvida (HAPV3): -3,89%

Intermédica (GNDI3): -3,88%

Via (VIIA3): -2,39%

Braskem (BRKM5): -2,07%

Qualicorp (QUAL3): -1,63%

Ibovespa: +1,84%, aos 112.282 pontos

Em NY:

S&P 500: +0,95%, aos 4.395 pontos

Nasdaq: +1,02%, aos 14.896 pontos

Dow Jones: +1%, aos 34.258 pontos

Dólar: +0,34%, a R$ 5,3041

Petróleo

Brent: +2,46%, a US$ 76,19

WTI: +2,47%, a US$ 72,23

Minério de ferro: +16,84%, US$ 108,70 no porto de Qingdao (China)

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