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Mercados tombam no dia do meme: que semana, hein? Capitão, é quarta-feira

Nova York indica tombo de mais de 1%, bolsas da Europa chegam a cair mais de 2%. O problema é a inflação e como contornar a alta dos combustíveis.

Por Tássia Kastner, Bruno Carbinatto
Atualizado em 6 out 2021, 08h50 - Publicado em 6 out 2021, 08h23

Bom dia! 

Existe um meme que volta à internet toda santa quarta-feira. “What a week, huh?” “Captain, it’s Wednesday.” Cai como uma luva hoje. As bolsas americanas, que ontem ensaiaram uma recuperação das perdas da segunda, estão posicionadas para um tombo de mais de 1%. Na Europa, os índices chegam a tombar mais de 2%.

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Investidores seguem apavorados com a disparada nos preços do petróleo e do gás natural, e temem que essa alta funcione como gasolina na inflação. Os preços do brent e do WTI até começaram o dia mais mansos, em leve queda após terem renovado máximas em três e sete anos, respectivamente. O problema é que o gás natural, responsável por boa parte da geração de energia na Europa, não dá trégua. A crise se repete nos EUA e até na China, cujas bolsas estão fechadas nesta semana por feriado nacional.

Lá, o governo mandou importadores darem um jeito de comprar gás mais barato para tentar reduzir a crise energética do país. Segundo a Bloomberg, o governo tem deixado empresas à míngua e não manteve o nível de subsídios necessários para enfrentar a alta de custos dos combustíveis. O mercado, que já vinha com medo da desaceleração chinesa por causa da crise imobiliária, agora tem mais um motivo para se preocupar: falta de luz para manter a produção na segunda maior economia do mundo.

Enquanto isso, Brasília quer resolver a crise energética com cloroquina, mexendo nos impostos estaduais sobre a gasolina. Ontem, o presidente da Câmara, Arthur Lira, abraçou a proposta de Jair Bolsonaro de avançar sobre os estados – ignorando que a causa da disparada de preços é de outra esfera: 1) o petróleo subiu, 2) o dólar não para de subir, 3) a Petrobras tem por política repassar os preços integralmente ao consumidor.

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E a coisa tá tão feia, que na verdade ela até desacelerou os repasses, mas não suaviza o rombo que faz no bolso da população. Depois das altas recentes do petróleo (brent acima de US$ 80 o barril) e do dólar beirar os R$ 5,50, cálculos do mercado apontam para uma defasagem de mais de 20% na comparação com a paridade internacional. No período mais agudo de controle de preços dos combustíveis, sob o governo Dilma Rousseff, a defasagem chegou a 25%.

Voltando aos EUA, às 9h15 sai o relatório da criação de vagas no setor privado dos EUA (o ADP), uma espécie de aquecimento para o dado oficial de desemprego do país, na sexta. Ele é crucial para investidores ajudarem as expectativas sobre a corda-bamba em que caminha o Fed: reduzir estímulos para conter a inflação, mas desacelerar a economia e arriscar o mercado de trabalho; ou manter a geração de empregos e perder o controle da alta de preço.

Já que o dia realmente tem tudo para ser difícil, o AM de hoje tem uma dica de leitura extra: o Globo contou a origem do meme que ilustra o dia de hoje, e todas as quartas-feiras dessa redação. Aqui

Humorômetro - dia com tendência de baixa

Futuros S&P 500: -1,23%

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Futuros Nasdaq: -1,43%

Futuros Dow: -1,06%

*às 7h55

Europa

Índice europeu (EuroStoxx 50): -2,31%

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Bolsa de Londres (FTSE 100): -1,82%

Bolsa de Frankfurt (Dax): -2,32%

Bolsa de Paris (CAC): -2,22%

*às 7h50

Fechamento na Ásia

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Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): feriado

Bolsa de Tóquio (Nikkei): -1,05%

Hong Kong (Hang Seng): -0,57%

Commodities

Brent*: -0,42%, a US$ 82,21 

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Minério de ferro: estável, a US$ 116,58 por tonelada no porto de Qingdao (China)

*às 7h40

Agenda

9h: IBGE libera o número de vendas no varejo de agosto; a expectativa é de um crescimento de 0,60% para o varejo restrito (sem automóveis e material de construção) e uma queda de 0,50% no varejo ampliado (que inclui tudo).

9h15: ADP, empresa que administra a folha de pagamentos de boa parte das empresas americanas, libera relatório sobre criação de empregos no setor privado dos EUA em setembro

market facts

Bancos x Apple

Quando a Apple lançou o Apple Pay, que permite a donos de iPhone pagarem por suas compras usando o celular, bancos americanos abraçaram a tecnologia. Foram tão entusiastas que não se importaram em pagar uma taxa extra para Apple, o que, obviamente, reduziu as suas receitas. Agora, eles estão tentando desfazer ao menos uma parte do estrago. Quem manda no esquema dos cartões de crédito são as bandeiras, como Mastercard e Visa. No caso da Apple, quem coordena esse arranjo é a Visa. A ideia é que pelo menos pagamentos recorrentes no cartão, aqueles de cobrança automática como Netflix, academia ou Uber, não gerem receita para a Apple. Quem revelou a história foi o The Wall Street Journal.

Não é o primeiro revés que a Apple sofre. O caso mais recente foi a disputa com a Epic Games, dona do jogo Fortnite, que processou a empresa da maçã por cobrar uma taxa de 30% em toda transação, incluindo a de itens no jogo (como roupas dos personagens), o que inflava os seus preços. A justiça decidiu que os apps podem oferecer diretamente aos usuários meios alternativos de pagamento que não envolvam a Apple. 

No Brasil, os bancos foram mais cautelosos e demoraram para oferecer a opção. O Santander até hoje não permite que seus clientes paguem com Apple Pay – não quer socializar o lucro da operação com a big tech.

Racismo custa caro

Um tribunal federal dos Estados Unidos condenou a montadora de carros elétricos Tesla a pagar US$ 137 milhões para um ex-funcionário que foi vítima de racismo enquanto trabalhava em uma fábrica na Califórnia em 2015. Owen Diaz, que é negro, alega ter sido chamado de nomes racistas por colegas frequentemente e que a Tesla nada fez para impedir, apesar das reclamações feitas aos seus supervisores. Após o veredito, a Tesla se pronunciou em um comunicado. Reconheceu o problema, mas questionou parte das alegações de Diaz e a própria decisão da justiça. E ressaltou que a Tesla não é mais a mesma de 2015 e que novas políticas de diversidade foram e estão sendo implementadas na companhia.

Vale a pena ler:

“É totalmente insensato dizer que falta dinheiro para dar aos pobres”

A frase é de Ricardo Paes de Barros, economista e professor do Insper. Em entrevista à Folha, ele argumenta que recursos há – só falta melhorar sua distribuição. Defende que o Bolsa Família é um instrumento essencial para combater a pobreza, mas que precisa ser atualizado – e é contra aumentar o número de beneficiários do programa: “O melhor seria elevar o benefício para quem mais precisa e melhorar a sua focalização”. Leia aqui

Zuckerberg contra-ataca

A semana não tem sido boa para o Facebook. Além do apagão na segunda-feira, a rede social também ganhou as manchetes com o depoimento de Frances Haugen, uma ex-funcionária que denunciou a empresa ao Senado americano. Segundo ela, o Facebook escolheria priorizar seu próprio lucro, e não os interesses do público. Agora, Zuckerberg decidiu se pronunciar. O dono da empresa que lucra US$ 9,5 bi respondeu que as alegações simplesmente “não são verdade” e que se preocupa muito com o bem-estar e segurança de seus usuários, especialmente crianças e adolescentes. A Bloomberg conta essa história aqui (em inglês).

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