Mercado amanhece sem querer sair da cama
Medo de uma eventual recessão por conta das altas nos juros coloca as bolsas mundiais no vermelho, de novo.

A montanha russa segue com mais descidas do que subidas no mercado global. Depois de ensaiar alguma recuperação ontem, as bolsas abrem a terça-feira ladeira abaixo, com os futuros do S&P 500 caindo a sul dos 1%. A Ásia já fechou no negativo, e a Europa entrou na hora do almoço no mesmo pique.
Parte do mau humor vem de um comunicado que a Snap (dona do Snapchat, uma rede social) soltou na segunda, após o fechamento do mercado, dizendo que o “ambiente macroeconômico deteriorou-se de forma mais profunda e rápida do que o antecipado”, e que por conta disso deve apresentar ganhos menores do que esperava neste segundo trimestre.
A declaração derrubou as ações da empresa em 28% no pré-mercado, e tragou para baixo empresas de tecnologia bem mais relevantes, caso da Meta (Facebook, Insta, Whats), que caiu 6,4%, e da Alphabet (Google), que amanheceu com -4%.
O tal “ambiente econômico deteriorado” é consequência da alta nos juros americanos. Ela é inevitável para conter a inflação recorde, mas torna o dinheiro mais caro. O Fed começou os aumentos em março. Desde então eles subiram de 0,25% para 1%. Em antecipação a futuros aumentos, empresas passam a gastar menos (com anúncios em redes sociais, por exemplo). E isso vai jogando a economia numa espiral recessiva.
Amanhã, o BC dos EUA solta o relatório da última reunião, que rolou no dia 04 de maio e veio com um aumento de 0,50 ponto percentual. A expectativa de quem investe é buscar pistas ali sobre se o Fed pretende ou não acelerar esse ritmo.
E é isso que vai guiar as expectativas das bolsas nos próximos meses. Muitos meses.
Boa terça.

O dia começou com tendência de…baixa
Futuros S&P 500: -1,18%
Futuros Nasdaq: -1,75%
Futuros Dow: -0,79%
Índice europeu (EuroStoxx 50): -0,92%
Bolsa de Londres (FTSE 100): -0,30%
Bolsa de Frankfurt (Dax): -0,84%
Bolsa de Paris (CAC): -1,00%
*às 7h33
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): -2,34%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): -0,94%
Hong Kong (Hang Seng): -1,75%
Brent: 0,29%, a US$ 113,75
Minério de ferro: -3,77%, a US$ 128,95 por tonelada, em Singapura
*às 8h26
13h20h Jerome Powell, presidente do Fed, faz o discurso de abertura de um fórum econômico em Las Vegas (o do National Center for American Indian Enterprise Development, que fomenta o empreendedorismo entre populações nativas). A fala é pré-gravada, mas como a boca de Powell move os mercados, vale o registro.
Ao longo do dia Câmara deve votar lei que impõe um teto para a cobrança de ICMS sobre os combustíveis
Dólar: baixa de 6,6% em 13 dias
O dólar vem caindo de forma quase ininterrupta desde o dia 11 de maio, quando estava cotado a R$ 5,14. Ontem, a moeda americana fechou em R$ 4,80. Ou seja: uma substancial queda de 6,6% em pouco menos de duas semanas. O número segue razoavelmente acima da menor marca do ano (R$ 4,60, no dia 04 de abril). Mas bem abaixo do fechamento de 2021 (R$ 5,57). No ano, então, a baixa é de 14%.
Mais uma troca de presidente na Petrobras
A estatal troca de presidente no mesmo ritmo em que a Alemanha fazia gols no Brasil no primeiro tempo do 7 a 1: você acha que é replay de notícia, mas não é. Meros 39 dias após a posse de José Mauro Coelho, outro executivo foi indicado pelo governo para substituí-lo: Caio Mário Paes de Andrade. Trata-se de um dos secretários de Paulo Guedes. O primeiro caiu por conta dos novos reajustes nos combustíveis; o segundo sobe para que Guedes (e Bolsonaro) tenham mais poder para evitar novos aumentos, que podem custa a reeleição. Sem reeleição, afinal, Guedes não teria como realizar seu sonho de privatizar a Petro – já que não há clima para aprovar algo de tal magnitude no Congresso ainda este ano. Esse é o jogo.
A tensão entre China e Taiwan
Ontem, um repórter perguntou a Joe Biden se os EUA se envolveriam militarmente caso a China invadisse Taiwan, depois de ter se recusado a enviar soldados para defender a Ucrânia. A resposta: “Sim. Este é um compromisso que nós temos”. Aqui, o Wall Street Journal explica as tensões entre China e Taiwan, que podem tornar o barril de pólvora global ainda mais explosivo.