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Marfrig aposta em tática de guerrilha para poder chamar a BRF de sua

Ações da dona das marcas Sadia e Perdigão na bolsa dispararam 16% nesta sexta e quase 30% na semana. O motivo? As compras de caminhão da Marfrig.

Por Tássia Kastner e Guilherme Eler
Atualizado em 24 Maio 2021, 18h26 - Publicado em 21 Maio 2021, 18h53
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 (Tiago Araujo/VOCÊ S/A)
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As definições de tática de guerrilha foram atualizadas. A Marfrig foi à bolsa, tal qual um investidor comum (como você ou a gente), em busca de ações da BRF – dona das marcas Sadia e Perdigão. Só que ela não é um pequeno investidor. Estamos falando de duas companhias que estão entre as maiores processadoras de carne do país (do mundo, na verdade), e que há anos ensaiaram um fracassado acordo de fusão. O resultado é que as ações da BRF dispararam 16,28% nesta sexta (21), enquanto as da Marfrig caíram 5,20%.

A compra das ações foi divulgada por diversos veículos de comunicação, como Valor, Brazil Journal e Reuters. Ao que tudo indica, a Marfrig, comandada por Marcos Molina, decidiu tomar a companhia de assalto. Segundo o Brazil Journal, o executivo quer alcançar 20% das ações da BRF, tudo com a compra dos papéis na bolsa. 

Isso tem a ver com as características das duas empresas: elas são complementares e, vamos dizer assim, semi concorrentes. A Marfrig é uma empresa de carne de boi. Já a BRF é especializada em frango e suínos. Normalmente elas não competem diretamente, mas quando a carne vermelha fica mais cara, o consumidor tende a trocar pelas variedades mais baratas, que estão no guarda-chuva da BRF. 

Seria uma fusão perfeita, exceto que há dois anos elas tentaram um acordo, sem sucesso. Um dos motivos apontados à época era justamente uma discussão de quem teria voz ativa nas decisões da nova empresa. Molina teria se recusado a perder o controle, enquanto que a BRF tem gestão oposta, de controle disperso, e queria se manter assim. Com a compra de uma participação relevante na BRF, o executivo resolveria a “crise” que viveu em 2019: continuaria a comandar a Marfrig e passaria a ter poder de influência na empresa que antes pretendia unir a sua. Nesta sexta, as duas empresas negaram que estejam de volta às mesas de negociação.

“A gente sabe que a Marfrig tinha interesse [na compra] há algum tempo. As empresas buscaram unir os negócios tempos atrás, mas a negociação não teve andamento”, lembra Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos. “Faz bastante sentido, à medida que a perspectiva da Marfrig é diversificar sua exposição a outros tipos de proteína”. 

“A estratégia de não unir negócios me parece ser uma indicação clara de que o [Marcos] Molina [CEO da Marfrig] não quer perder o controle”, completa Esteter. “Se ele já tem o controle da Marfrig e compra os 20% que dão o controle da BRF, ele indiretamente tem controle das duas empresas”. O empresário controla, hoje, 50% das ações da Marfrig.

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Na marra

A Marfrig começou as compras de ações da BRF há alguns dias e, segundo o Brazil Journal, havia chegado à participação de  4,9% das ações via ADRs – recibos de ações negociados nos Estados Unidos. Como a compra foi em Nova York, passou ao largo do radar dos investidores brasileiros. Na bolsa brasileira, empresas precisam avisar ao mercado (via CVM) quando um acionista ultrapassa a marca de 5% de participação.

Foi nessa semana que as operações chegaram à B3. Além da compra das ações, que levou à disparada na cotação da BRF, subiu o aluguel de papéis (que serve, entre outras coisas, para o inquilino aumentar seu poder de voto em assembleias).

Só nesta sexta, foram movimentados quase R$ 800 milhões em ações da BRF, quando o volume médio diário dos últimos dez dias está em R$ 200 milhões. Na semana, a valorização foi de 28,79%, a maior alta percentual desde 2004, segundo a Reuters.

Em um primeiro momento, a própria Marfrig tentou pular nesse bonde: por volta das 15h, quando estourou a notícia de que ela era a compradora de papéis da BRF, as ações chegaram a ser negociadas com alta acima dos 3%. Só que a empolgação não durou muito e a empresa terminou no negativo – a queda foi de 5,20%.

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Tem um motivo. Uma coisa é Molina comprar os papéis, outra é conseguir o que deseja – se é que esse é o plano, claro. Seja numa fusão negociada ou na compra a mercado, ele ainda pode ter seu poder de influência barrado pelo Cade (o órgão de defesa da concorrência). Ao Valor, uma fonte lembrou que Benjamin Steinbruch, da CSN, tentou fazer uma jogada parecida com a concorrente Usiminas, mas foi impedido de ocupar um lugar no conselho de administração da empresa.

Após o fechamento do mercado, o jornal O Globo noticiou que a CVM abriria processo para investigar compra maciça de ações da BRF pela Marfrig.

Bolsas

No fim, a alta da BRF ajudou a amenizar as perdas do Ibovespa. Um segundo apoio veio dos bancões. Bradesco e Itaú, que passaram o dia no vermelho, terminaram o último pregão da semana com altas de 0,46% e 0,48%, respectivamente.

No fim, o Ibovespa cedeu só 0,09%, a 122.592 pontos. 

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Em Nova York, o dia tampouco foi positivo. O mercado financeiro está um tanto confuso sobre a real perspectiva do Fed para redução de estímulos à economia. Patrick Harker, presidente do Fed da Filadélfia, sinalizou que o órgão precisa reduzir a compra de títulos, algo dito pela primeira vez no dia anterior. O S&P 500 ficou praticamente estável (-0,08%), enquanto o Nasdaq caiu 0,48%.

Bitcoin

E não ajuda no humor do mercado a nova queda do bitcoin. Nesta sexta, o governo chinês voltou a dizer que deve limitar as atividades de mineração e transações com bitcoins. Ao final do dia, a criptomoeda caía 10%, de volta aos US$ 35 mil. É fato que ela não está ligada ao mercado “formal” de investimentos, mas azeda os ânimos. Se você é um investidor de bitcoin, melhor não acompanhar a cotação no final de semana. Pode estragar a sua folga. 

MAIORES ALTAS
BRF: 16,28%
Embraer: 3,16%
Suzano: 2,64%
Carrefour: 2,51%
Assaí: 2,51%

MAIORES BAIXAS
Cyrela: 5,39%
Marfrig: 5,20%
MRV: 5,12%
Eztec: 4,11%
YDUQS: 4,02%

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Em NY:

S&P 500: -0,08%, aos 4.156,00 pontos

Dow Jones: +0,37%, aos 34.208,96 pontos

Nasdaq: -0,48%, aos 13.470,99 pontos

Dólar: 1,44%, a R$ 5,35 

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Petróleo:

Brent: 2,04%, a US$ 66,44

WTI: 2,65%, a US$ 63,58

Minério de ferro:– 5,25%, para US$ 200,72 a tonelada no porto de Qingdao (China) 

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