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Lula diz que meta fiscal não precisa ser “zero” e Ibovespa cai 1,29%

Presidente joga trabalho de Haddad por terra, afirma que não cortará investimentos e que não fará diferença se o resultado for -0,25% ou -0,50%.

Por Jasmine Olga
27 out 2023, 18h01

Uma meta só funciona quando todo mundo acredita nela. Vale para sua decisão de fazer sobrar dinheiro no fim do mês, vale para a meta de inflação do BC e vale também para os gastos do governo. 

Estamos no fim de outubro, quase 11 meses de governo Lula. Ao longo do ano, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ficou rouco de tanto repetir à Faria Lima que o governo perseguiria o déficit fiscal zero em 2024, tentando convencer investidores de que todos estavam alinhados com um único objetivo. Hoje, o presidente Lula chutou a meta fiscal para o lado.

Ele afirmou que a meta fiscal do país não precisa ser zero, até porque esse é um número que dificilmente será atingido — e que se o país chegasse em -0,25% ou -0,5% não faria grande diferença. E ainda seria melhor para o país. A razão, segundo o chefe do executivo, é não sacrificar investimentos e obras prioritárias apenas para forçar a barra pelo número mágico – o zero. 

“Tudo o que a gente puder fazer para cumprir a meta fiscal, a gente vai cumprir. O que eu posso te dizer é que ela não precisa ser zero.”

Até aí, é do jogo. Só que Lula foi mais longe: “eu acho que muitas vezes o mercado é ganancioso demais e fica cobrando uma meta que eles sabem que não vai ser cumprida. Então eu sei, conversando com o Haddad, sei da vontade do Haddad, sei da minha disposição e quero dizer para vocês que nós dificilmente chegaremos à meta zero, até porque eu não quero fazer cortes em investimentos de obras”.

A conversa com os jornalistas aconteceu pela manhã, mas o teor do encontro só foi divulgado pela tarde. E foi instantâneo: a notícia pipocou, a bolsa para o vermelho e o dólar virou para o positivo, fechando em alta de 0,46%, a R$ 5,01. 

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A Faria Lima até concorda com o presidente em uma parte: o mercado, em sua maioria, não acredita que o governo de fato consiga chegar ao déficit zero em 2024. O que valia era continuar perseguindo o alvo, para ficar só um pouquinho longe dele, em vez de largar de vez a meta e correr o risco de ter um déficit muito maior. 

A afirmação do chefe do Executivo esbarra diretamente no trabalho de Haddad, que já havia até comprado briga com outros ministros que não seguiam o mesmo discurso, como Simone Tebet. Além da aprovação do arcabouço fiscal, a Fazenda tem se empenhado em levar ao Congresso pacote de medidas que possam engordar o caixa da União sem que haja cortes maiores nos gastos. 

Sem o apoio do presidente da República para zerar o déficit fiscal e o flerte com eventuais gastos ainda maiores, o temor com as contas públicas falou mais alto por aqui. E deve continuar repercutindo pelos próximos pregões. A queda do Ibovespa nesta sexta foi de 1,29%, aos 113.301 pontos. 

Isso depois de um dia em que a bolsa brasileira havia desviado das atribulações em Wall Street, justamente celebrando o avanço de reformas no Congresso. E não havia como contar com Nova York hoje também.

Em Nova York 

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Um dia após a economia americana surpreender com a maior alta do PIB desde 2021, a inflação foi o grande destaque nos corredores de Wall Street. O PCE, indicador de inflação usado pelo Fed, apresentou uma alta de 0,4% em setembro. Apesar de ter vindo dentro do esperado pelo mercado, o núcleo (métrica que exclui os preços mais voláteis) subiu 0,3% — o maior avanço dos últimos quatro meses e acima do consenso de 0,1%. 

No fim, o número e as tendências mostradas pelo PCE não alteram de forma significativa a distribuição das peças no tabuleiro do BC americano para a reunião da semana que vem. Apenas reforçam o tamanho do problema que Jerome Powell e cia possuem nas mãos — uma economia forte, com um mercado de trabalho robusto e uma inflação resiliente e acima da meta de 2% ao ano. 

Do outro lado do mundo, a intensificação das atividades do exército de Israel em Gaza também não ajudaram no sentimento geral. A sombra de um conflito maior e generalizado ainda paira no ar e pressiona o petróleo — hoje o barril do Brent fechou em alta de 2,56%. 

Investidores chegaram a flertar com os balanços da Amazon e da Intel e usaram as companhias para impulsionar o Nasdaq durante boa parte do dia. O índice chegou a subir mais de 1%, mas não segurou a onda até o fim do pregão. A alta da bolsa de tecnologia foi bem mais tímida: 0,38%. O S&P 500 e o Dow Jones no negativo, em quedas de 0,44% e 1,12%, respectivamente. 

VALE3 (3,48%) e USIM5 (4,18%)

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O mal estar generalizado que tomou conta da B3 após as falas do presidente Lula não poupou quase ninguém. Apenas oito empresas escaparam da sangria e fecharam o dia em alta — quase todas ligadas aos setores de mineração e siderurgia. 

Na semana em que a China anunciou novos estímulos à economia, os investidores também observaram uma alta de 11,9% no lucro industrial chinês em setembro. Esse é o segundo mês consecutivo de alta, aliviando os temores de uma queda brusca na demanda por matérias primas, por mais que o acumulado do ano ainda seja negativo. O resultado levou o minério de ferro a subir mais 2,12%, a US$ 121,57 em Dalian durante a madrugada. 

O avanço da commodity sozinho já seria uma boa notícia para as nossas mineradoras e siderúrgicas, mas a temporada de balanços também fez a sua parte. 

A lucro da Vale (VALE3) caiu 26,3% no 3TRI quando comparado com o mesmo período do ano passado, a US$ 2,8 bilhões, mas o resultado foi eclipsado pelo plano de pagamento de R$ 10 bilhões em dividendos extraordinários e o seu novo programa de recompra de ações. Os investidores ficaram com a grana extra na conta e ignoraram o dado ruim.

Já as ações da Usiminas tiveram um desempenho positivo após a empresa anunciar ter retomado a operação de um dos seus principais alto-fornos e apresentar um número “menos pior” do que os analistas vinham esperando. A empresa registrou um prejuízo de R$ 166 milhões no terceiro trimestre. Segundo o Broadcast, o mercado esperava por um prejuízo de R$ 277 milhões. Tudo é questão de perspectiva.

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Usiminas (USIM5) e Vale (VALE3) fecharam o dia com as maiores altas do Ibovespa : 4,18% e 3,48%, respectivamente. 

Agora é esperar para ver se o governo irá se alinhar ao novo discurso ou colocará bombeiros em campo nos próximos dias. Até a próxima! 

 

 

 

MAIORES ALTAS

Usiminas (USIM5): 4,18%

Vale (VALE3): 3,48%

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Bradespar (BRAP4): 2,24%

CSN (CSNA3): 0,71%

CSN Mineração (CMIN3): 0,41%

MAIORES BAIXAS

Hypera (HYPE3): -8,25%

Grupo Soma (SOMA3): -6,89%

Gol (GOLL4): -5,59%

Assaí (ASAI3): -4,87%

Natura (NTCO3): -4,66%

Ibovespa: -1,29%, aos 113.301 pontos. Na semana, a alta foi de 0,13%

Em Nova York

Dow Jones: -1,12%, aos 32.417 pontos

S&P 500: -0,48%, aos 4.117 pontos

Nasdaq: 0,38%, aos 12.643 pontos

Dólar:  0,46%, a R$ 5,01. Na semana, a queda foi de 0,36

Petróleo 

Brent: 2,41%, a US$ 89,20 por barril. Na semana, a queda foi de 1,86%

WTI:  2,80%, a US$ 85,54 por barril. Na semana, a queda foi de 2,88%

Minério de ferro: 2,12%, a US$ 121,57 por tonelada em Dalian, na China

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