Continua após publicidade

Juros altos a perder de vista nos EUA deprimem o mercado global

Bolsas operam em baixa, com os futuros do S&P 500 em -0,6%. Minério e petróleo também caem: péssimo sinal para o Ibovespa.

Por Alexandre Versignassi e Sofia Kercher
Atualizado em 21 set 2023, 08h33 - Publicado em 21 set 2023, 08h26

O anúncio de que os dirigentes do Fed antevêem os juros acima de 5% em 2024, e perto de 4% em 2025 (mais sobre isso adiante), veio como um balde de gelo. Os futuros do S&P 500 operam em baixa de 0,6% – queda robusta para esse tipo de índice. 

Hong Kong fechou -1,29%. Tóquio, -1,37%. O índice Stoxx 50, que mede as principais bolsas da Europa, trabalha em -1,44%. 

E as commodities também acordaram em ritmo de recessão, claro. O barril cai 1% e o minério de ferro, 1,90% no mercado à vista da bolsa de Dalian. No mercado futuro de Singapura, pior ainda: -3,81%. Péssimas notícias para o Ibovespa. 

Agora, vamos ao Copom.

Selic a 12,75%

A economia gosta de previsibilidade. E o BC buscou entregar justamente isso. Conforme cantado lááá em 2 de agosto, cortaram mais uma vez a Selic, em 0,50 pp, e agora o juro básico está em 12,75%.

Fora o período entre maio e junho de 2022, quando a Selic passou pela casa dos 12,75% durante a última trajetória de alta, essa é a maior taxa desde o início de 2017. Não há uma crítica aqui: é só uma estatística mesmo.

Continua após a publicidade

Mas sempre vale olhar estatísticas com carinho. Entre 2017 e 2019 os juros cairiam de 13% para 4,5% – tudo em condições normais de temperatura e pressão (CNTP, lembra?), ou seja, ainda sem pandemia para bagunçar o coreto. 

O clima hoje, porém, não tem nada de CNTP. O Relatório Focus prevê a Selic de 2026 em adiposos 8,5%. Não que essa pesquisa do BC junto às instituições financeiras tenha qualquer utilidade para de fato prever o futuro. Ele é só um termômetro de como o mercado vê as condições macro hoje. E hoje a questão do (des)controle das contas públicas pesa, pois gastos do governo puxam a inflação para cima no longo prazo.  

Para dar uma ideia: em janeiro de 2020, com o teto de gastos operante, o Focus projetava uma Selic a 6,25% em 2021 – um patamar alto pelos padrões daquele momento, para compensar a baixa relativamente ríspida entre 2017 e 2019. 

Mas aí veio a pandemia, absolutamente imprevisível, e trouxe o inverso. A Selic adentrou 2021 em 2% – ou seja: juro real negativo, já que a inflação em 12 meses em janeiro daquele ano era de 4,5%. 

E o resto é história: entre março de 2021 e o final de 2022, fomos de juro real negativo para maior juro real do mundo. Há um mês, o BC começou a agir para mudar essa realidade. E ontem deu mais um passo.     

Continua após a publicidade

Fed: juros lá no alto por mais dois anos            

Nos EUA, o Fed só começou a subir seus juros um ano depois da gente. O BC americano acreditava que a inflação era “transitória”. Ao ver que não era, passou a aumentar sua “Selic” a partir de março de 2022, até chegar aos atuais 5,5% – a maior por lá desde 2001. 

O Fomc (Copom dos EUA) decidiu em sua reunião de ontem manter a taxa, exatamente como o mercado previa. 

O que o mercado não tem como antever é o tom do discurso pós-reunião. E quem esperava um Jerome Powell mais mole decepcionou-se. O presidente do Fed disse estar preparado para voltar a subir os juros se for preciso. 

E mais importante: que vai, sim, manter a taxa na estratosfera até “garantir o retorno da inflação à meta” – de 2%, ante 4,2% do núcleo do PCE, o índice que o Fed acompanha mais de perto.  

O Fed também soltou uma espécie de “Boletim Focus” de luxo: o dot spot, relatório trimestral no qual os próprios diretores da entidade dão seus pitacos sobre o amanhã dos juros. 

Continua após a publicidade

E veio o seguinte: previsão de juros acima de 5% 2024 adentro. Em 2025, cairia para 3,9% (o número é quebrado por que se trata de uma média dos palpites – leia 4%, então). 

Para um mercado sedento por juros mais baixos foi uma paulada: queda de 0,94% no S&P 500 e de 1,53% na Nasdaq ontem, mais os tombos nos índices futuros nesta manhã.  

E os dirigentes do Fed entendem que, mesmo após mais dois anos de juros em alta, a inflação só chegará à meta de 2% em 2026. Como diria o analista seu Zé do Açougue: não tá fácil pra ninguém. 

Seu Zé e o Copom também. Ontem, na ata da reunião, o comitê afirmou o seguinte: “Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas. O Comitê notou a elevação das taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos”.

Juros altos lá fora pressionam os daqui (o dólar tende a ficar mais caro, isso aumenta a inflação, e inflação puxa juros). Mesmo assim, renovaram os votos de que os cortes da Selic seguirão “na mesma magnitude” (0,50 pp) ao longo das próximas reuniões. 

Continua após a publicidade

Isso joga água no chope dos que esperavam uma sinalização de cortes maiores (0,75 pp) no futuro próximo. 

Mas convenhamos: é uma água bem vinda, porque esse pessoal talvez estivesse mesmo bebendo chope demais. O BC não gosta de aventar surpresas; esforça-se para se manter previsível, do jeito que a economia gosta.  

“Esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, diz o comunicado. Traduzindo: mesmo tascando cortes de 0,50 pp por diversas reuniões, o juro brasileiro seguirá alto o bastante para reduzir nossa inflação à meta – de 3%.  

As projeções do Copom, aliás, indicam inflação de 5,0% ao final de 2023. 3,5% em 2024 e 3,1% em 2025. Trata-se de uma alta em relação à última estimativa – que era de 4,9% em 2023, 3,4% em 2024 e o centro da meta, 3%, em 2025. Ainda assim, são projeções otimistas.         

Agora é combinar com os russos (e americanos e chineses…). Porque o mundo hoje pode estar qualquer coisa, menos previsível.

Continua após a publicidade

 Bons negócios!

 

Humorômetro - dia com tendência de baixa
(Laís Zanocco e Tiago Araujo/VOCÊ S/A)

Futuros do S&P 500: -0,63%

Futuros do Nasdaq: -0,84%

Futuros do Dow Jones: -0,46%

*às 8h13

Compartilhe essa matéria via:
market facts
(Laís Zanocco e Tiago Araujo/VOCÊ S/A)

Shein vai subsidiar ICMS de compras de até R$ 250

Nesta terça-feira (20), a Shein anunciou que compras de até US$ 50 (cerca de R$ 250) não serão taxadas, já que a empresa vai arcar com os 17% de ICMS que recaem sob essas compras. 

Na prática, quem fizer compras na Shein até esse valor só vai pagar o imposto de operação de câmbio (cujo valor é variável, e visível ao consumidor no próprio aplicativo da empresa).

O anúncio ocorreu após a varejista aderir ao Remessa Conforme, da Receita Federal. O programa zera a alíquota de importação para compras de até US$ 50, mas cobra alíquota de 17% de ICMS — justamente o valor que a Shein vai arcar. Para valores acima, a tributação é de 60% do imposto de importação e 17% de ICMS.

Vale dizer que o objetivo do Ministério da Fazenda com o programa é regulamentar as compras importadas e cobrar impostos na origem, antes do envio das mercadorias para o país. Assim, o transporte dos produtos fica mais fácil — e a evasão fiscal, mais difícil.

Agenda
(Laís Zanocco e Tiago Araujo/VOCÊ S/A)

▪️ 9h30, EUA: Pedidos de entrada no seguro desemprego na semana passada.

▪️ 10h30: Arrecadação da Receita Federal em agosto.

Europa
(Laís Zanocco e Tiago Araujo/VOCÊ S/A)
    • Índice europeu (Euro Stoxx 50): -1,44%
    • Londres (FTSE 100): -0,70%
    • Frankfurt (Dax): -1,19%
    • Paris (CAC): -1,53%

    *às 8h09

    Fechamento na Ásia
    (Laís Zanocco e Tiago Araujo/VOCÊ S/A)
    • Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): -0,90%
    • Hong Kong (Hang Seng): -1,29%
    • Bolsa de Tóquio (Nikkei): -1,37%
    Commodities
    (Laís Zanocco e Tiago Araujo/VOCÊ S/A)
      • Brent: -1,03%, a US$ 92,57
      • Minério de ferro:  –1,90%, a US$ 115,66 por tonelada em Dalian

      *às 7h58

      Vale a pena ler:
      (Laís Zanocco e Tiago Araujo/VOCÊ S/A)

      Starbucks tem 383 bilhões de cafés diferentes. E esse é o problema

      Se você é ávido frequentador da Starbucks, já sabe: na hora de fazer o pedido, o céu é o limite. É possível fazer pedidos com dezenas de ingredientes e combinações — 383 bilhões delas, para sermos mais precisos. 

      As complexidades são um bom negócio, porque a empresa cobra mais por acréscimos, que geram mais de US$ 1 bilhão em receitas por ano. Mas os pedidos mirabolantes estão atrasando os baristas e gerando filas quilométricas, que afastam a clientela. Entenda a estratégia da empresa para tentar otimizar o modelo de negócio nesta reportagem da Bloomberg.

      Publicidade