Juros altos a perder de vista nos EUA deprimem o mercado global
Bolsas operam em baixa, com os futuros do S&P 500 em -0,6%. Minério e petróleo também caem: péssimo sinal para o Ibovespa.
O anúncio de que os dirigentes do Fed antevêem os juros acima de 5% em 2024, e perto de 4% em 2025 (mais sobre isso adiante), veio como um balde de gelo. Os futuros do S&P 500 operam em baixa de 0,6% – queda robusta para esse tipo de índice.
Hong Kong fechou -1,29%. Tóquio, -1,37%. O índice Stoxx 50, que mede as principais bolsas da Europa, trabalha em -1,44%.
E as commodities também acordaram em ritmo de recessão, claro. O barril cai 1% e o minério de ferro, 1,90% no mercado à vista da bolsa de Dalian. No mercado futuro de Singapura, pior ainda: -3,81%. Péssimas notícias para o Ibovespa.
Agora, vamos ao Copom.
Selic a 12,75%
A economia gosta de previsibilidade. E o BC buscou entregar justamente isso. Conforme cantado lááá em 2 de agosto, cortaram mais uma vez a Selic, em 0,50 pp, e agora o juro básico está em 12,75%.
Fora o período entre maio e junho de 2022, quando a Selic passou pela casa dos 12,75% durante a última trajetória de alta, essa é a maior taxa desde o início de 2017. Não há uma crítica aqui: é só uma estatística mesmo.
Mas sempre vale olhar estatísticas com carinho. Entre 2017 e 2019 os juros cairiam de 13% para 4,5% – tudo em condições normais de temperatura e pressão (CNTP, lembra?), ou seja, ainda sem pandemia para bagunçar o coreto.
O clima hoje, porém, não tem nada de CNTP. O Relatório Focus prevê a Selic de 2026 em adiposos 8,5%. Não que essa pesquisa do BC junto às instituições financeiras tenha qualquer utilidade para de fato prever o futuro. Ele é só um termômetro de como o mercado vê as condições macro hoje. E hoje a questão do (des)controle das contas públicas pesa, pois gastos do governo puxam a inflação para cima no longo prazo.
Para dar uma ideia: em janeiro de 2020, com o teto de gastos operante, o Focus projetava uma Selic a 6,25% em 2021 – um patamar alto pelos padrões daquele momento, para compensar a baixa relativamente ríspida entre 2017 e 2019.
Mas aí veio a pandemia, absolutamente imprevisível, e trouxe o inverso. A Selic adentrou 2021 em 2% – ou seja: juro real negativo, já que a inflação em 12 meses em janeiro daquele ano era de 4,5%.
E o resto é história: entre março de 2021 e o final de 2022, fomos de juro real negativo para maior juro real do mundo. Há um mês, o BC começou a agir para mudar essa realidade. E ontem deu mais um passo.
Fed: juros lá no alto por mais dois anos
Nos EUA, o Fed só começou a subir seus juros um ano depois da gente. O BC americano acreditava que a inflação era “transitória”. Ao ver que não era, passou a aumentar sua “Selic” a partir de março de 2022, até chegar aos atuais 5,5% – a maior por lá desde 2001.
O Fomc (Copom dos EUA) decidiu em sua reunião de ontem manter a taxa, exatamente como o mercado previa.
O que o mercado não tem como antever é o tom do discurso pós-reunião. E quem esperava um Jerome Powell mais mole decepcionou-se. O presidente do Fed disse estar preparado para voltar a subir os juros se for preciso.
E mais importante: que vai, sim, manter a taxa na estratosfera até “garantir o retorno da inflação à meta” – de 2%, ante 4,2% do núcleo do PCE, o índice que o Fed acompanha mais de perto.
O Fed também soltou uma espécie de “Boletim Focus” de luxo: o dot spot, relatório trimestral no qual os próprios diretores da entidade dão seus pitacos sobre o amanhã dos juros.
E veio o seguinte: previsão de juros acima de 5% 2024 adentro. Em 2025, cairia para 3,9% (o número é quebrado por que se trata de uma média dos palpites – leia 4%, então).
Para um mercado sedento por juros mais baixos foi uma paulada: queda de 0,94% no S&P 500 e de 1,53% na Nasdaq ontem, mais os tombos nos índices futuros nesta manhã.
E os dirigentes do Fed entendem que, mesmo após mais dois anos de juros em alta, a inflação só chegará à meta de 2% em 2026. Como diria o analista seu Zé do Açougue: não tá fácil pra ninguém.
Seu Zé e o Copom também. Ontem, na ata da reunião, o comitê afirmou o seguinte: “Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas. O Comitê notou a elevação das taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos”.
Juros altos lá fora pressionam os daqui (o dólar tende a ficar mais caro, isso aumenta a inflação, e inflação puxa juros). Mesmo assim, renovaram os votos de que os cortes da Selic seguirão “na mesma magnitude” (0,50 pp) ao longo das próximas reuniões.
Isso joga água no chope dos que esperavam uma sinalização de cortes maiores (0,75 pp) no futuro próximo.
Mas convenhamos: é uma água bem vinda, porque esse pessoal talvez estivesse mesmo bebendo chope demais. O BC não gosta de aventar surpresas; esforça-se para se manter previsível, do jeito que a economia gosta.
“Esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, diz o comunicado. Traduzindo: mesmo tascando cortes de 0,50 pp por diversas reuniões, o juro brasileiro seguirá alto o bastante para reduzir nossa inflação à meta – de 3%.
As projeções do Copom, aliás, indicam inflação de 5,0% ao final de 2023. 3,5% em 2024 e 3,1% em 2025. Trata-se de uma alta em relação à última estimativa – que era de 4,9% em 2023, 3,4% em 2024 e o centro da meta, 3%, em 2025. Ainda assim, são projeções otimistas.
Agora é combinar com os russos (e americanos e chineses…). Porque o mundo hoje pode estar qualquer coisa, menos previsível.
Bons negócios!
Futuros do S&P 500: -0,63%
Futuros do Nasdaq: -0,84%
Futuros do Dow Jones: -0,46%
*às 8h13
Shein vai subsidiar ICMS de compras de até R$ 250
Nesta terça-feira (20), a Shein anunciou que compras de até US$ 50 (cerca de R$ 250) não serão taxadas, já que a empresa vai arcar com os 17% de ICMS que recaem sob essas compras.
Na prática, quem fizer compras na Shein até esse valor só vai pagar o imposto de operação de câmbio (cujo valor é variável, e visível ao consumidor no próprio aplicativo da empresa).
O anúncio ocorreu após a varejista aderir ao Remessa Conforme, da Receita Federal. O programa zera a alíquota de importação para compras de até US$ 50, mas cobra alíquota de 17% de ICMS — justamente o valor que a Shein vai arcar. Para valores acima, a tributação é de 60% do imposto de importação e 17% de ICMS.
Vale dizer que o objetivo do Ministério da Fazenda com o programa é regulamentar as compras importadas e cobrar impostos na origem, antes do envio das mercadorias para o país. Assim, o transporte dos produtos fica mais fácil — e a evasão fiscal, mais difícil.
▪️ 9h30, EUA: Pedidos de entrada no seguro desemprego na semana passada.
▪️ 10h30: Arrecadação da Receita Federal em agosto.
- Índice europeu (Euro Stoxx 50): -1,44%
- Londres (FTSE 100): -0,70%
- Frankfurt (Dax): -1,19%
- Paris (CAC): -1,53%
*às 8h09
- Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): -0,90%
- Hong Kong (Hang Seng): -1,29%
- Bolsa de Tóquio (Nikkei): -1,37%
- Brent: -1,03%, a US$ 92,57
- Minério de ferro: –1,90%, a US$ 115,66 por tonelada em Dalian
*às 7h58
Starbucks tem 383 bilhões de cafés diferentes. E esse é o problema
Se você é ávido frequentador da Starbucks, já sabe: na hora de fazer o pedido, o céu é o limite. É possível fazer pedidos com dezenas de ingredientes e combinações — 383 bilhões delas, para sermos mais precisos.
As complexidades são um bom negócio, porque a empresa cobra mais por acréscimos, que geram mais de US$ 1 bilhão em receitas por ano. Mas os pedidos mirabolantes estão atrasando os baristas e gerando filas quilométricas, que afastam a clientela. Entenda a estratégia da empresa para tentar otimizar o modelo de negócio nesta reportagem da Bloomberg.