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Jânyo Diniz, presidente da Ser Educacional, conta como pretende ampliar a presença da empresa para além dos cursos tradicionais

Em entrevista à Você SA, o CEO do grupo de ensino também fala sobre o impacto dos cursos online na educação.

Por Júlia Moura
12 ago 2022, 06h10

Jânyo Diniz, de 53 anos, é presidente da Ser Educacional desde quando a instituição, um dos maiores grupos de ensino do Brasil, era apenas a Faculdade Maurício Nassau, de Recife – fundada em 2003, já com Diniz no comando.
Três anos depois, em 2006, ela tinha crescido a ponto de fazer aquisições, expandindo o negócio para Alagoas, Paraíba, Bahia e Rio Grande do Norte. Em 2013 veio a abertura de capital na bolsa. E hoje a Ser está presente
em todos os estados brasileiros, mais o Distrito Federal, com 218 mil alunos. Nas regiões Nordeste e Norte, a Ser é líder no número de alunos matriculados.

No primeiro trimestre deste ano, o grupo teve um prejuízo de R$ 18,3 milhões, ante um lucro de R$ 3,5 milhões no trimestre anterior e de R$ 30,1 milhões no mesmo período do ano passado. Por conta da queda, as ações amargam um tombo de 60% nos últimos 12 meses – uma realidade pela qual também passam as concorrentes, e colegas de Ibovespa, Cogna (-35%) e Yduqs (-50%).

Um pouco antes da divulgação do resultado do segundo trimestre, Jânyo fala sobre os planos da Ser, que incluem oferecer mais cursos não regulados.

Como está a empresa neste momento, complicado para a economia?
Estamos revisitando o que é o modelo do ensino superior. Queremos entender o que fazer para participar da vida economicamente ativa do profissional como um todo, não só dos quatro anos de uma faculdade. Também estamos reavaliando um pouco qual deve ser o nosso público.
O mundo evoluiu, a tecnologia mudou, as profissões se transformaram significativamente. E as pessoas também. Costumo brincar dizendo: sou a única pessoa que conheço que só teve dois empregos. Hoje, qualquer jovem de 25 anos já teve vários, e alguns já praticaram diversas profissões. É para esse cenário que olhamos.
Passado esse período de pandemia, no qual tivemos uma evolução tecnológica muito grande, queremos participar do aprimoramento e do redirecionamento profissional. O modelo de educação precisa entender que o profissional vai ter diversos momentos em sua carreira.

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Seriam MBAs? Cursos de pós?
Estamos falando em educação continuada (after learning). A ideia é ter e manter os produtos regulados pelo Ministério da Educação, mas também oferecer toda uma série de produtos não regulados para quando o profissional precisar.
Imagina um jovem que quer trabalhar numa área de recursos humanos e que decide fazer um curso de gestão de RH. Depois ele acha que a área financeira é mais atrativa e tem melhor remuneração. Ele pode optar por um curso de gestão financeira, um curso superior, ou um tecnólogo regulado. Se ele quiser mudar da área de gestão e finanças corporativas para o mercado de capitais, basta fazer um curso livre. Não precisa de um curso superior para atender esse pequeno redirecionamento na vida profissional.
Não faz sentido uma pessoa que quer trabalhar só na área de RH de uma empresa fazer um curso de administração de quatro anos. Ela pode fazer em 18 meses e estará muito mais rápido no mercado de trabalho.
Então estamos aumentando a oferta de produtos, e alguns deles já estão com uma duração menor, dentro do padrão legal permitido pelo Ministério da Educação. Cursos de 24 meses passaram a ter 18, outros cursos que tinham 48 meses passaram a ter 36. Isso serve para tentar atender a essa demanda, desse modelo dinâmico relacionado às profissões.
Também criamos um marketplace para reunir todos os nossos produtos, sejam regulados ou não. Se alguém quiser fazer, por exemplo, um curso de estética, de mecânica de foguetes ou até um MBA em gestão empresarial, vai ter.
Eu brinco que hoje uma das profissões mais bem remuneradas do mundo é a de influencer. E nós demos entrada num projeto para um curso de gestão influencer, que será lançado em alguns meses como experimental.
Outro dia, descobri que existe a profissão piloto de drone para festa de casamento, e, nela, ganha-se até R$ 15 mil por mês. O mercado tradicional de educação não consegue acompanhar isso. Quando a profissão já está sendo exercida há muito tempo, se começam a preparar cursos. Essa velocidade de resposta é o que as instituições precisam ter para acompanhar a evolução do mercado.
Para isso, também criamos o Go Digital Edu, que é um portal onde os profissionais podem oferecer os seus próprios cursos.

A Ser fez várias aquisições recentemente, como a da Delinea, que produz conteúdos para EaD (Ensino à Distância). Vem mais por aí?
Estamos aumentando nosso portfólio para tornar cada uma das empresas mais relevante em todo nosso processo. A economia começa a fluir bem em um estado, mas em outro não. Não queremos ter um peso grande em um só lugar.
Como instituição de ensino, é difícil falar em aquisição até que ela aconteça. No geral, as instituições foram fundadas por professores, ou é um negócio de família, e isso deixa tudo mais difícil.
A maior parte dos grupos sofreu durante a pandemia, e alguns ainda continuam sofrendo. A educação demora a ser penalizada e a morrer, mas também leva um tempo para recuperar. Há uma base média de alunos de quatro anos. Para que você sinta os problemas, são necessários dois anos, pelo menos, de redução de captação e de aumento de evasão. Para que você se recupere, é um tempo parecido. As que sofreram mais vão levar mais de dois anos para repor tudo.
Nós tivemos uma boa captação agora no início do ano e a expectativa é de que ela continue assim.

A maioria dos cursos da Ser são online hoje? O quanto isso aumentou o número de alunos?
Os produtos online cresceram muito durante a pandemia e sofrem com a volta do presencial. Agora, todo curso de ensino superior a distância passa a ser híbrido. Mas os produtos completamente online cresceram bastante.
Tanto os assíncronos, nos quais a pessoa faz o curso sozinha, quantos os síncronos, que nós estamos produzindo mais, aumentaram. Para você ter ideia, são oferecidos em torno de 10 mil cursos diferentes. Essa foi uma das razões pelas quais compramos uma fábrica de conteúdo [a Delinea].
O profissional já pode fazer cursos voltados especificamente para as necessidades de sua empresa, porque o conteúdo está lá. Teremos uma massificação
da educação customizada. E o custo de oferecê-la é menor que o do formato presencial.
Por exemplo, se, dentro de um curso de jornalismo, apenas dois querem se especializar em jornalismo esportivo não tem como pagar professor, montar estrutura e sala de aula. Mas hoje, com o online, é possível. Você consegue diluir esse custo com alunos de outras regiões e viabilizá-lo.
O MEC permite que até 45% de um curso regulado seja online. Vocês estão conseguindo chegar a esse patamar?
Ainda não chegamos nesse número, mas a tendência é caminhar para atingir isso. Mas nós estamos com um modelo um pouco diferente do nosso concorrente, que deixa uma disciplina específica 100% online.
Nós, por outro lado, mantemos o aluno em sala de aula em todas as disciplinas quando ele precisa estar. Quando não é necessário, há a aula a distância.
Neste modelo, conseguimos oferecer um perfil de professor diferente do que o aluno teria normalmente. Um bom exemplo é o do diretor do nosso curso de medicina de Recife, que é um dos maiores especialistas em transplante de fígado do país.
Hoje ele é professor dessa disciplina para um aluno lá de Cacoal, em Rondônia. Esse aluno jamais teria acesso a um profissional do nível do professor Cláudio Lacerda se não fosse dessa forma. E é algo que fazemos com uma série de outros professores, alguns inclusive do exterior.

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E como é que está a inadimplência? Melhorou em relação à pandemia?
A inadimplência tem muito a ver com a evasão.
A evasão está retornando a patamares de 2018. Mas temos visto uma tendência de queda.
Outra coisa é que a base de alunos começa a ser retomada. A captação também foi muito próxima à de 2019.
Agora há uma tendência de retorno aos cursos híbridos maior do que era antes. Se não houver um desastre na economia, não acreditamos que inadimplência será o problema.

O financiamento da educação superior não foi um dos pilares deste governo, mas é conhecido por ser um dos pontos fortes de governos passados, especialmente o Fies e o Prouni. Como você vê isso hoje? E quais as perspectivas?
As instituições não querem ser dependentes de um programa do governo ou projeto de incentivo. O governo do PT foi quem transformou o Fies no que ele era, em termos de tamanho, mas também foi quem matou o programa. Ele acabou no final do primeiro governo Dilma.
Quando avaliamos o Prouni, por outro lado, é um programa muito bom e que traz muitos benefícios à sociedade. Ele funciona muito bem e foi renovado agora já no governo do Bolsonaro.
Acho que é cedo para imaginar se vai ter alguma coisa. Nos Estados Unidos, por exemplo, o financiamento estudantil no ensino superior é da ordem de um trilhão de dólares. O Brasil não chegou nem perto disso e acabou com o financiamento.

Mas por lá o financiamento é caro e demora a ser pago…
É muito caro, mas há uma série de modelos. Na Austrália, por exemplo, estabelece-se que o profissional pague com o percentual da sua renda quando ele estiver empregado. E quem tem uma renda maior acaba pagando mais depois de formado.

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