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IPCA-15 sobe 0,35% em setembro e vai a 5% em 12 meses

Resultado foi um pouco abaixo da projeção de 0,37%. Ata do Copom mostra que diretores do BC também não sabem por que o PIB brasileiro está mais forte que o antecipado.

Por Camila Barros, Tássia Kastner e Sofia Kercher
26 set 2023, 09h23

Bom dia!

O IPCA-15, uma prévia do índice oficial de preços, subiu 0,35% em setembro. Foi um pouco abaixo da previsão do mercado, que projetava 0,37% no mês. Em agosto, o resultado foi de 0,28%. Em 12 meses, o índice sobe para 5%, contra 4,24% no mês passado. 

Quem puxou a inflação para cima foi o grupo “transportes”, com uma subida de 2,02% no mês, reflexo da alta nos preços dos combustíveis. A gasolina deu a maior contribuição, mas houve também alta nos preços do diesel e também nas passagens aéreas.

Por outro lado, o segmento alimentação e bebidas recuou 0,77%, reflexo de preços mais baixos no subgrupo alimentação em casa, o que representa um alívio no bolso da população mais pobre – a que mais sofreu com o repique da inflação acima de dois dígitos.

Por sinal, o alívio nas despesas básicas entrou no radar do Copom como uma das explicações para as surpresas que os diretores do BC com o PIB deste ano. Não só o BC, economistas e o mercado financeiro têm sido surpreendidos pelo crescimento maior que o esperado da economia.

A ata da mais recente reunião do Copom, divulgada nesta manhã, mostra que os dirigentes do BC atribuem o crescimento do PIB à pujança do setor agro, que se reflete em outros setores. De qualquer forma, eles afirmam que esse não é o único fator para o desempenho acima do esperado.

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A segunda hipótese é que as famílias estejam com mais renda para consumir, uma combinação de melhora nas condições de emprego, queda nos preços dos alimentos – que persiste, como mostra do IPCA-15 – e programas de transferência de renda.

Por outro lado, o Copom notou um encolhimento do crédito para empresas. Para famílias, bancos têm restringido de forma mais importante o crédito de juros menores.

O documento confirma o que havia sido dito no comunicado da reunião da semana passada, e em agosto: os juros continuarão a ser cortados em 0,50pp pelas próximas duas reuniões deste ano. Na ata do Copom divulgada hoje, a instituição disse que uma intensificação do ritmo de cortes exigiria surpresas positivas, o que não está no radar agora.

O grupo aponta o cenário de juros altos por mais tempo nos EUA e a perspectiva de crescimento menor na China são dois pontos de atenção para as economias emergentes. É que a postura hawkish dos BC americano impacta o processo de desinflação no Brasil: quando os títulos públicos de lá estão mais atrativos, o dólar tende a subir. Com a moeda americana mais forte, as compras em dólar se tornam mais caras. 

A ata também menciona a alta no preço do petróleo, guerra na Ucrânia e riscos climáticos potencialmente como fatores que pressionam os preços das commodities – e, portanto, podem ter algum efeito sobre a inflação. 

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A previsão do Copom é de inflação a 5% para 2023, 3,5% para 2024 e 3,1% para 2025.

Crise imobiliária chinesa e apagão americano

Lá fora, o mercado opera em tom de desânimo: as bolsas asiáticas fecharam em baixa e os principais índices europeus seguem na mesma toada. Os futuros americanos também caem. Mau sinal para o Ibovespa: o EWZ, ETF que acompanha o desempenho da bolsa brasileira nos EUA, caía 0,55% no pré-mercado. 

Parte do mau humor tem a ver com a China, que segue imersa numa crise imobiliária que pode comprometer a economia do país. Ontem, a Evergrande – incorporadora que desencadeou a crise no setor, lá em 2021 – atrasou novos pagamentos. Dessa vez, ela deixou de pagar US$ 547 milhões a credores. 

De olho na instabilidade do mercado imobiliário chinês, a S&P cortou essa semana a expectativa de crescimento do país de 5,2% para 4,8%.

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O setor é destino de boa parte do minério de ferro produzido no mundo. Caso a crise persista e se alastre mais imobiliárias chinesas, a demanda pela commodity deve cair. Olhando para essa possibilidade, o minério fechou em queda de 1,64% na bolsa de Dalian. 

O pessimismo do dia também conta com o fator EUA: por lá, segue o risco de paralisação do governo federal ao final desta semana. É que o Congresso precisa aprovar o orçamento para o próximo ano fiscal (que começa em 1° de outubro) ainda esta semana, mas discordâncias entre republicanos e democratas empacam o texto. 

Caso não haja acordo até lá, as agências federais ficam sem recursos para operar – e fecham. Para o mercado financeiro, significa um período de apagão de dados econômicos da maior economia do mundo. “Como resultado, o relatório de emprego de setembro e o Índice de Preços ao Consumidor não seriam divulgados”, disse um membro da administração Biden à Reuters. Dependendo da duração da paralisação, a divulgação do PIB, no final de outubro, também pode ser afetada. 

Não é primeira vez que rola esse drama fiscal nos EUA. Desde 1980, já houveram outros 10 eventos desse tipo. O mais longo começou em dezembro de 2018, durante a administração Trump. Foram 35 dias de paralisação de serviços federais. 

A agência de risco Moody´s disse que uma nova paralisação pode rebaixar a nota de crédito do país. Para a instituição, o evento mostraria que a polarização política em Washington está a enfraquecer a elaboração de políticas fiscais no país.

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Humorômetro - dia com tendência de baixa
(Laís Zanocco e Tiago Araujo/VOCÊ S/A)

Futuros do S&P 500: -0,42%

Futuros do Nasdaq: -0,44%

Futuros do Dow Jones: -0,38%

*às 9h01

market facts
(Laís Zanocco e Tiago Araujo/VOCÊ S/A)

Bares e restaurantes pedem volta de horário de verão

Os saudosistas do horário de verão acabam de ganhar um novo aliado. A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes enviou uma carta a Lula, Geraldo Alckmin e ao ministro do Turismo, Celso Sabino, para que reconsiderassem a decisão de não implementar o fuso este ano. A informação foi dada na última sexta-feira (22), pelo Valor Econômico.

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A entidade argumentou que a adoção do horário elevaria o faturamento de bares e restaurantes entre 10% e 15% — porcentagem crucial para recuperar perdas pandêmicas. Segundo eles, o setor gera renda direta para mais de 7 milhões de brasileiros, e tem cerca de 1,5 milhão de empreendimentos no país.

O horário de verão foi adotado sem interrupções entre 1985 e 2019 (nesse caso, só no início do ano). A ideia sempre foi economizar energia elétrica. O Ministério das Minas e Energia, porém, considera que o efeito da medida é neutro. Uma eventual volta do horário de verão precisaria de outra motivação. Em 2021, uma pesquisa do Datafolha apontou que 55% dos brasileiros querem a volta dos dias mais longos; 38% eram contra e os demais 7% indiferentes.

Agenda
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11h: EUA divulga confiança do consumidor de setembro

Europa
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      • Índice europeu (Euro Stoxx 50): -0,88%
      • Londres (FTSE 100): 0,11%
      • Frankfurt (Dax): -0,71%
      • Paris (CAC): -0,76%

      *às 9h09

      Fechamento na Ásia
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      • Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): -0,58%
      • Hong Kong (Hang Seng): -1,48%
      • Bolsa de Tóquio (Nikkei): -1,11%

      Commodities

      • Brent: –0,91%, a US$ 88,77
      • Minério de ferro: -1,64%, a US$ 115,06 por tonelada na bolsa de Dalian

      *às 9h10

          Vale a pena ler:
          (Laís Zanocco e Tiago Araujo/VOCÊ S/A)

          Os 10% mais pobres não conseguem comprar meia cesta básica

          Cruzando dados do IBGE e do Dieese, Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores, mostrou em novo levantamento divulgado pela Folha de S. Paulo que a renda média dos trabalhadores 10% mais pobres não é suficiente para comprar meia cesta básica por mês. 

          A renda média que essa faixa levanta com trabalho (excluindo auxílios como o Bolsa Família) ficou em apenas R$ 365 – contra R$ 762 do valor da cesta na cidade de São Paulo, por exemplo. 

          A média geral de renda com o trabalho no Brasil é de R$ 2.659. Os 10% mais ricos tiram R$ 10.497. O 1%, R$ 29.198.

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