Inflação em queda e mudança na meta levantam Ibovespa: +1,46%
CMN confirmou que meta de inflação será contínua, o que pode dar mais flexibilidade ao BC para subir e baixar juros. PCAR sobe 13,55% com venda do Éxito.
A mudança na meta de inflação, anunciada nesta quinta-feira, foi bem mais suave do que diriam os profetas do apocalipse após seis meses de queda de braço entre governo e Banco Central.
O Conselho Monetário Nacional, formado por Fernando Haddad (ministro da Fazenda), Simone Tebet (Planejamento) e Roberto Campos Neto (o presidente do BC), decidiu por uma mudança aparentemente sutil: agora, o BC não precisa mais fechar dezembro dentro da meta de inflação. O alvo passa a ser contínuo.
O segredo dessa mudança está na flexibilidade. Acontece que os juros brasileiros escalaram de 2% a 13,75% numa janela de menos de um ano, em grande parte por causa da pressa do BC em baixar o IPCA para a meta. E óbvio que essa subida de rapel deixou estragos no caminho, com maior inadimplência e empresas em dificuldades financeiras.
Países menos aferrados ao ano-calendário, como Estados Unidos, começaram a elevar seus juros mais tarde e de forma mais lenta – lá, a “Selic” deles subiu de zero a 5,25% em 14 meses.
Logo após o fechamento do mercado, Haddad concedeu entrevista a jornalistas. Disse que o horizonte contínuo pode ser de até 24 meses, mas isso continuará a ser decidido pelo BC, que segue com autonomia para subir e baixar juros até alcançar o alvo. Por outro lado, o presidente do BC não precisará mais enviar a cartinha ajoelhando no milho no fim do ano em caso de não cumprimento da meta.
Para compensar, o CMN ainda decidiu que a meta de 2026 será de 3%, a mesma que começa a valer a partir do próximo ano, a menor da história do país e em linha com o alvo de países como Colômbia e México, nossos pares latinos em desenvolvimento. Haddad afirmou que o CMN não precisará mais refazer as reuniões de meta, como ocorria todo ano. O assunto só entrará na pauta quando houver mudança.
Há, por sinal, quem continue duvidando de que o novo alvo seja factível, como explicamos aqui.
Uma outra parte da briga, porém, continua: quando o BC vai finalmente começar a baixar os juros.
Preços em queda
Existe uma expressão de gosto duvidoso entre os economistas que acompanham índices de inflação. Eles dizem que o IPCA, a inflação oficial do país, fica “grávido” do IGP-M.
Isso porque o IGP-M pega os preços “do atacado” e o IPCA olha apenas para os preços ao consumidor. Se há uma alta nos insumos detectada pelo IGP-M, o mais provável é que logo, logo esse aumento chegue aos supermercados.
Dessa vez, a barriga está negativa. A FGV (que calcula o IGP-M) anunciou nesta quinta que a inflação do aluguel recuou 1,93% em junho, ainda maior que o tombo de 1,84% registrado em maio. Agora, há uma deflação de 6,86% em 12 meses.
O IPCA ainda está em 3,94% ao ano, o que é bastante baixo para um país – aqui a inflação média desde o plano real ronda os 7%. Mas ainda está acima dos 3,25% da meta de inflação para este ano.
O que o IGP-M está dizendo é que existem sinais de que os preços podem cair ainda mais do que se previam. E isso ajudou a empurrar o Ibovespa de volta ao positivo, depois de três pregões de baixa. Hoje, a alta foi de 1,46%.
Essa alta, claro, é porque a economia está gritando para o Banco Central que os preços estão caindo – e que é hora de soltar o torniquete que asfixia o crédito. Nesta semana, a ata do Copom foi em linha com as expectativas e apontou um primeiro corte de juros na próxima reunião, em agosto. Deu a lógica.
PCAR3: +13,55%
No topo da lista de maiores altas do dia, as ações do Grupo Pão de Açúcar decolaram no pregão, se recuperando das perdas de 7% na semana.
É que, na Colômbia, o bilionário Jaime Gilinski registrou uma oferta para adquirir a participação do GPA no Éxito (rede de supermercados colombiana) por US$ 836 milhões, valor pago à vista e em dinheiro.
Atualmente, o GPA é dono de 96,52% do Éxito. O GPA, por sua vez, é controlado pelo grupo francês Casino, que na segunda-feira anunciou um plano de desinvestimento que inclui os papéis das redes brasileira e colombiana.
Para analistas, a proposta de Gilinski está bem abaixo do valor de mercado estimado para o Éxito. O Goldman Sach diz que os US$ 836 milhões são 33% menores que o valor atual da companhia. Já a XP fala em 36%.
Por outro lado, o negócio poderá ser uma saída rápida para o problema de alavancagem do Casino e do GPA, e pode facilitar o plano de desinvestimento do grupo francês na América Latina.
No Bradesco BBI, os analistas dizem que a oferta não atrai, mas que pode ser uma saída frente aos resultados fracos do GPA.
Por hora, essa foi a interpretação que dominou as bolsas – melhor do que nada. Resultado: alta de 13,55% nas ações PCAR3.
Sem freio
Nos EUA, o Departamento de Análises Econômicas divulgou a segunda revisão do PIB para o primeiro trimestre deste ano. E revelou que a economia do país é ainda mais implacável do que pensávamos: mesmo em meio à escalada de juros, o PIB cresceu 2% no primeiro tri (antes, a leitura era de +1,3%).
O dado ainda representa uma desaceleração em relação aos semestres anteriores: no Q422, a alta foi de 2,9%; no Q3, +3,2%.
Só que a revisão para cima vem acompanhada de outros dados econômicos fortes. Na semana, o Departamento do Trabalho registrou 239 mil novos pedidos de auxílio desemprego – número mais baixo do mês. Indicativo de um mercado de trabalho ainda aquecido e difícil de esfriar.
Mais: na terça, dados de confiança do consumidor registraram a maior alta em 18 meses, enquanto a venda de casas e bens duráveis também aumentou.
Juntas, essas informações afastam o temor de uma recessão à frente – medo que se reinstalou nos mercados na semana passada, depois da divulgação de dados fracos das indústrias ao redor do mundo, ao lado de comportamentos hawkish dos BCs.
Ao mesmo tempo, uma economia resiliente significa sinal verde para o Fed continuar seu ciclo de aperto monetário. Agora, 87% do mercado aposta numa escala de 0,25 p.p. na próxima reunião do Fomc (ontem, eram 82%).
Foi essa a interpretação que a ajudou a fortalecer o dólar. O índice DXY, que compara a moeda americana a uma cesta de moedas estrangeiras, subiu 0,41%.
Os Treasuries, títulos da dívida pública americana, também subiram – sobretudo os de longo prazo. Mais um dia do bom e velho never bet against America.
Até amanhã!
MAIORES ALTAS
Grupo Pão de Açúcar (PCAR3): 13,00%
Yduqs (YDUQ3): 10,08%
JBS (JBSS3): 6,67%
Petz (PETZ3): 6,28%
Vibra (VBBR3): 5,94%
MAIORES BAIXAS
3R Petroleum (RRRP3): -1,04%
Klabin (KLBN11): -0,64%
Taesa (TAEE11): -0,30%
Carrefour (CRFB3): -0,27%
Suzano (SUZB3): -0,27%
Ibovespa: 1,46%, aos 118.382 pontos.
Em Nova York:
S&P 500: 0,45%, aos 4.396 pontos
Nasdaq: 0,00%, aos 13.591 pontos
Dow Jones: 0,80%, aos 34.122 pontos
Dólar: -0,01%, a R$ 4,84
Petróleo
Brent: 0,36%, a US$ 74,51
WTI: 0,43%, a US$ 69,86
Minério de ferro: 0,85% negociado a US$ 114,65 na bolsa de Dalian (China).