Contrariando as expectativas dos mais otimistas, que acreditavam que o aumento dos preços nos EUA havia chegado ao seu pico, a inflação americana continuou disparando em junho: alta de 1,3% no mês. No acumulado de 12 meses, o dado chegou aos 9,1%, contra 8,6% registrado em maio. É o maior patamar do índice desde 1981.
Apesar da inflação estar alta já há um bom tempo, o novo aumento voltou a surpreender (negativamente) o mercado – esperava-se um aumento mensal de 1,1%, e, ano ano, uma inflação de 8,8%. O núcleo do CPI, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, também surpreendeu: 5,9% na base anual, contra os esperados 5,7%.
O Fed, banco central americano, está numa batalha feroz contra a inflação há alguns meses. Mas os resultados ainda não estão aparecendo. Para a próxima reunião, já estava mais do que certo que um aumento robusto, de 0,75 pontos percentuais, viria na taxa de juros americana. Mas, agora, a aposta majoritária é que a decisão terá que ser ainda mais radical: um possível aumento de 1 ponto percentual inteiro na “Selic” deles.
Raphael Bostic, dirigente do Fed de Atlanta (o banco central americano é formado por várias unidades regionais), confirmou hoje que essa opção está na mesa: “Tudo é possível”.
Coincidentemente, no vizinho Canadá, o banco central canadense surpreendeu ao aumentar hoje os seus juros em 1%, maior salto na taxa desde 1998, citando justamente a inflação alta e persistente também por lá.
O problema é que aumento de juros esfriam a economia, e os riscos dos Estados Unidos entrarem em recessão são cada vez maiores à medida que o Fed fica mais radical para lutar contra a inflação. Pior ainda é a percepção que não há garantias que o aumento dos preços será domado somente via aumento de juros, já que parte do problema é de demanda – a guerra na Ucrânia e os lockdowns na China levaram a novas disrupções na cadeia produtiva mundial, e, por consequência, a escassez de produtos e combustíveis mais caros.
Os dados já começam a apontar para essa possibilidade. Além do CPI, o Fed também divulgou hoje o Livro Bege, um relatório sobre as condições econômicas no país e as previsões dos dirigentes distritais do Fed para o futuro próximo. O documento veio marcado por uma linguagem bastante pessimista, citando que o mercado já sente uma queda expressiva na demanda, mas com os preços ainda em trajetória de alta. São as condições de uma estagflação – quando a economia não cresce, mas a inflação continua subindo. Esse risco parece cada vez mais realista para a economia americana.
As bolsas nos EUA passaram por um dia bastante volátil após a inflação surpreendente, mas o pessimismo se firmou mesmo depois da divulgação do Livro Bege e elas fecharam em quedas moderadas.
Por aqui, o Ibovespa também engatou uma montanha-russa enquanto acompanhava a votação da PEC Kamikaze na Câmara, mas o pessimismo americano acabou falando mais alto e o índice perdeu os 98 mil pontos, indo ao seu menor patamar em 2022. Do outro lado, dos ganhos, a Ambev se destacou com uma alta de 5,66% após o JPMorgan elevar sua recomendação para os papéis da empresa de neutra para comprar. Segundo o banco americano, a queda no preço das commodities é uma boa notícia para a companhia de bebidas.
Até amanhã.
Maiores altas
Ambev (ABEV3): 5,66%
Carrefour (CRFB3): 3,29%
Natura (NTCO3): 2,93%
BRF (BRFS3): 2,72%
Vibra (VBBR3): 2,70%
Maiores baixas
3R Petroleum (RRRP3): -5,55%
Qualicorp (QUAL3): -4,40%
Rede D’Or (RDOR3): -4,31%
Sul América (SULA11): -3,56%
Magazine Luiza (MGLU3): -3,41%
Ibovespa: – 0,40%, aos 97.881 pontos
Em Nova York
S&P 500: -0,45%, aos 3,801 pontos
Nasdaq: -0,15%, aos 11.247 pontos
Dow Jones: -0,68%, aos 30.771 pontos
Dólar: -0,61%, a R$ 5,4058
Petróleo
Brent: 0,08%, a US$ 99,57
WTI: 0,48%, a US$ 96,30
Minério de ferro: 1,38%, negociado a US$ 110,00 por tonelada no porto de Qingdao (China)