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Ibovespa tomba 1,7% no dia da amargura; quase todas as ações fecham em queda

Em Wall Street, investidores corrigem o otimismo exacerbado com cortes nos juros. SLC Agrícola (SLCE3) é a única alta desta terça-feira, subindo 2%.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 16 jan 2024, 19h40 - Publicado em 16 jan 2024, 19h07

Hoje foi um dia de amargura na Faria Lima. Tanto que por muito pouco o título deste texto não foi “todas ações do Ibovespa fecham no vermelho”.

O índice caiu relevantes 1,7% no pregão desta terça feira, e o que chamou a atenção foi que quase todas as ações fecharam no vermelho – a única exceção foi a SLC Agrícola (SLCE3), que engatou uma alta no final do pregão, estragando a manchete e subindo 2%. Com isso, o Ibov perdeu o patamar dos 130 mil pontos, terminando o dia com 129.294.

O que aconteceu? Na verdade, a agenda foi esvaziada e não houve uma novidade específica para causar o azedume. O tédio no noticiário vem ocorrendo desde o começo do ano, diga-se. A queda de hoje pode ser lida mais como uma correção das expectativas após um final de ano frenético na bolsa.

O Ibov fechou 2023 com alta de 22%, no patamar dos 134 mil pontos – o maior nível nominal da história. Grande parte da alta se concentrou na reta final do ano, quando um otimismo tomou conta da Faria Lima e, principalmente, de Wall Street. É que, com a inflação americana cada vez mais controlada, investidores de lá passaram a apostar com força que os juros começarão a cair muito em breve na maior economia do mundo. Atualmente, a taxa decidida pelo Fed está na faixa dos 5,25%-5,5%, um patamar muito alto para o país.

Queda nas taxas de juros estimulam a economia e também são ótimas para a renda variável como um todo, o que explica a alta generalizada nas ações tanto nos EUA como por aqui. Mas, agora, um sentimento toma conta do mercado: será que o otimismo não foi exagerado demais? 

Investidores estão, então, corrigindo um pouco a euforia e adotando uma postura mais pé no chão. Todo mundo concorda que os juros vão cair, a questão é o timing: talvez o processo seja mais lento do que o esperado.

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Nesta terça-feira, alguns nomes contribuíram para essa correção de humores. O primeiro foi Christopher Waller, um dos dirigentes do Fed, que advertiu que não vê motivos para ter pressa no processo de corte dos juros. Ele reafirmou uma visão otimista, já sinalizada  antes pelo banco central, de que a inflação caminha para meta e que será possível cortar juros em 2024. Ou seja, não foi uma fala exatamente hawkish – mas também não foi tão dovish como o mercado aposta.

Waller reiterou que antevê três cortes na taxa (de 0,25 ponto percentual cada) ao longo do ano, sem dar detalhes do timing para isso. Nas atas de suas reuniões, o próprio Fed já tinha dado esse direcionamento. Só que o lado mais otimista do mercado, que ultimamente vem sendo maioria, fala em seis cortes, sendo que o primeiro já viria agora em março. Há um claro descompasso entre o que os investidores acreditam e o que o Fed vem, de fato, sinalizando com firmeza.

Logo depois dessa fala os yields dos Treasuries subiram, as bolsas engataram queda e a probabilidade do primeiro corte vir em março, segundo as apostas do investidores acompanhadas pelo CME Group, caiu de quase 80% na sexta-feira para 65% hoje (ou seja, mesmo após a queda esse palpite segue majoritário).

Outra fala que ajudou a moderar o otimismo veio de mais um dirigente, dessa vez de outro banco central poderoso: Gediminas Simkus, do Banco Central Europeu (BCE). Ele disse, resumidamente, que está otimista quanto ao início do corte dos juros no velho continente ainda este ano, mas prevê que isso aconteça só no verão europeu (julho a setembro), e que está bem menos confiante do que os investidores quanto a cortes já em março ou abril. 

Para fechar essa ideia, o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, resumiu: os investidores estão otimistas demais quanto à redução das taxas nas economias ocidentais. Em participação no Fórum Econômico Mundial, em Davos, ele reiterou que o relaxamento provavelmente será mais lento e menor do que o mercado está precificando atualmente. 

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Todas essas falas juntas ilustram bem como, nos últimos tempos, Wall Street (e o mundo) parecem estar exagerando no bom humor e tapando os ouvidos em relação aos avisos dos bancos centrais e de alguns economistas. A queda de hoje, então, funciona como uma correção em relação a essa postura.

Na volta do feriado, então, o S&P 500 caiu 0,37%, enquanto o Dow Jones fechou em -0,62%.

Briga de bancões

Fora da (longa) novela dos juros, Wall Street acompanhou também a divulgação dos resultados de dois bancões americanos: o Goldman Sachs e o Morgan Stanley.

Se fosse uma batalha, o primeiro teria ganho. O lucro líquido do Goldman Sachs no quarto tri de 2023 subiu 51% em comparação ao mesmo período de 2022. Analistas previam um lucro de US$ 1,5 bi, enquanto o número real veio em US$ 2 bi. Quem puxou o resultado foram os ganhos com a corretagem de ações e o segmento de wealth (gestão de fortunas), sendo que as margens nesse último avançaram bem mais que o previsto. As ações fecharam em alta de 0,7% em Nova York

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Já o Morgan Stanley derreteu 4,16% no pregão após a divulgação de seus resultados, a maior queda diária para o papel em três meses. O lucro desse bancão caiu 32%, e o que mais decepcionou foi justamente o que impressionou no balanço do seu rival: as margens no segmento de wealth vieram bem menores do que as esperadas. A gestão de fortunas é uma das grandes especialidades do Morgan Stanley, mas apresentou queda no lucro devido a maiores custos. E o pior é que, na conferência de resultados, o banco já avisou que as margens desse setor ficarão estagnadas por um tempo, causando o tombo do papel.

Curiosamente, nas duas calls dos resultados os líderes dos bancões apresentaram um tom bastante otimista para 2024, citando uma melhora na economia americana e o afrouxamento da política do Fed. O que só reforça o ponto central desse texto: o otimismo é regra, a questão é a dose.

Até amanhã.

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ÚNICA ALTA

SLC Agrícola (SLCE3): 1,97%

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MAIORES BAIXAS

Grupo Soma (SOMA3): -6,18%

Cosan (CSAN3): -6,14%

Azul (AZUL4): -5,28%

Raízen (RAIZ4): -5,25%

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Pão de Açúcar (PCAR3): -4,80%

Ibovespa: -1,69%, a 129.294

Em Nova York

S&P 500: -0,37%, aos 4.765 pontos

Nasdaq: -0,19%, aos 14.944 pontos

Dow Jones: -0,62%, aos 37.360 pontos

Dólar: 1,22%, a R$ 4,9256

Petróleo

Brent: 0,24%, a US$ 78,29

WTI: -0,38%, a US$ 72,40

Minério de ferro: -0,64%, cotado a US$ 131,71 por tonelada na bolsa de Dalian (China)

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