Ibovespa tenta se segurar no setor de serviços, mas cai 0,15% com NY
Crescimento do segmento superou com folga das previsões do mercado. Mas dado é de novembro, e a Ômicron mudou o jogo desde então – e assusta investidores.
É raro, mas tem dias que o passado dita (ou tenta ditar) o rumo no mercado financeiro – esse bicho conhecido por tentar prever o futuro. Nesta quinta, o IBGE divulgou que o setor de serviços cresceu 2,4% em novembro, muito acima dos 0,2% esperados por investidores. A surpresa ajudou a colocar o Ibovespa no positivo durante boa parte do pregão. Só que o indicador não conseguiu operar milagre, e quando Nova York virou com gosto para o negativo, levou junto a bolsa brasileira para o buraco.
No começo da manhã, o IBGE mostrou que empresas aceleraram seus investimentos em tecnologia no mês de novembro, e o setor cresceu de tal maneira que foi capaz de compensar as perdas registradas em setembro e outubro. A alta no segmento foi de 5,4%.
É, de fato, uma notícia excelente para a economia brasileira, que vem bambeando desde a metade do ano passado. Culpa da inflação, que obrigou o Banco Central a subir juros de forma agressiva – e juro alto é fábrica de recessão, porque tira o combustível que faz a economia girar.
E aí investidores tentaram engatar um segundo pregão de alta com base nesse otimismo passado. O Ibovespa chegou a superar os 106 mil pontos. Não vingou. Fechou com queda de 0,15%, a 105.529 pontos.
O fato é que novembro já é outra vida na escala econômica atual, especialmente para o setor de serviços. Com o avanço da Ômicron agora em janeiro, cresce o risco de as pessoas deixarem de sair de casa para bares, restaurantes e viagens, minando a recuperação desses negócios. Pode ser por medo, claro, mas também porque contaminadas, as pessoas precisam ficar em isolamento. Só nas últimas 24 horas, foram diagnosticados 98 mil casos de Covid no país, segundo dados do Conass.
Derreteu
O problema é que o futuro parece mais nebuloso que o passado, aí dá para entender porque investidores estavam tão apegados aos dados de serviço. E nos EUA não foi muito diferente.
Pela manhã, saíram dois indicadores importantes: o de pedidos de seguro-desemprego e o da inflação ao produtor. Mais gente entrou na fila do auxílio que o esperado, e os preços subiram um pouco menos. Em resumo, investidores começam a ver um cenário em que a inflação americana começa a chegar perto do seu pico. Ontem, os EUA anunciaram que a alta de preços em 2021 foi de 7%, a maior desde 1982.
Se as coisas estão se acomodando, talvez o Fed (o BC americano) não precise ser tão agressivo ao enxugar o dinheiro da economia, pensaram investidores nas primeiras horas do pregão. Só que o terreno é pantanoso, e à tarde, falas da futura vice-presidente do Fed, Lael Brainard, indicaram que pouco importam os dados de hoje, o BC americano vai é focar em baixar a inflação – e isso significa juro alto.
A queda das bolsas foi puxada pelas ações de tecnologia, as que mais dependem de juros baixos para justificar as apostas arriscadas de investidores. A Apple, maior ação do S&P 500, caiu 1,5%. Microsoft, Tesla e cia também caíram.
Resultado: -1,42% para o S&P 500 e tombo ainda maior, 2,51%, para o índice de tecnologia Nasdaq.
Reflexos por aqui
Nas maiores baixas do Ibovespa ficaram justamente empresas ligadas à tech, caso do banco Inter. Mas o exemplo mais simbólico de que o mercado financeiro não consegue calcar altas com base no passado é da Locaweb.
A empresa vende justamente serviços de tecnologia para empresas – e ficou com a segunda maior queda do dia. Não só isso: no ano, o que corresponde a apenas nove pregões, a baixa é de impressionantes 31,4%.
Investidores estão à espera de um milagre para salvar o mercado da volatilidade que a alta de juros nos EUA ainda trará. Até amanhã.
MAIORES ALTAS
Marfrig (MRFG3): 5,18%
Minerva (BEEF3): 3,06%
PetroRio (PRIO3): 3,09%
Santander (SANB11): 2,94%
Itausa (ITSA4): 2,80%
MAIORES BAIXAS
Banco Inter, Units (BIDI11): -9,87%
Locaweb (LWSA3): -8,38%
Natura (NTCO3): -5,09%
Droga Raia (RADL3): -4,98%
Méliuz (CAHS3): -4,83%
Ibovespa: -0,15%, aos 105.529 pontos
Em Nova York
S&P 500: -1,42%, aos 4.659 pontos
Nasdaq: -2,51%, aos 14.806 pontos
Dow Jones: -0,48%, aos 36.115 pontos
Dólar: -0,10%, a R$ 5,5295
Petróleo
Brent: -0,24%, a US$ 84,47
WTI: -0,63%, a US$ 82,12
Minério de ferro: -2,85%, negociado a US$ 129,87 por tonelada no porto de Qingdao (China)