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Ibovespa fecha estável com um olho na CPI e outro na privatização da Eletrobras

Ocupado com noticiário de Brasília, investidor ignora dia negativo para as bolsas americanas.

Por Guilherme Eler e Tássia Kastner
Atualizado em 18 Maio 2021, 18h47 - Publicado em 18 Maio 2021, 18h31

Fica difícil prestar atenção em outra coisa quando em Brasília existe uma CPI da Pandemia. O dia foi de depoimento do ex-chanceler Ernesto Araújo, e dá para dizer que as declarações deixaram o investidor tão distraído que ele nem viu mais um dia negativo no exterior. Nisso, o Ibovespa conseguiu se segurar no azul. Após iniciar o dia em queda e ensaiar uma recuperação um pouco mais forte à tarde, o índice terminou a terça-feira (18) estável (+0,03%), a 122.979,96 pontos.

Tinha motivos para distração. Em suas falas, o ex-ministro das Relações Exteriores que ecoou manifestantes pró-governo e chamou o coronavírus de “comunavírus”, bateu o pé ao dizer que não fez declarações anti-chinesas durante sua gestão e que tampouco contribuiu para alimentar qualquer hostilidade com a China. 

“Entendo que nada que eu tenha feito possa ter levado a percalços no recebimento de insumos”, afirmou Araújo, em menção à dificuldade atual de importação de compostos para a produção da CoronaVac no Instituto Butantã. O impasse, que vem atravancando a vacinação no Brasil, é atribuído ao histórico de desgaste com o governo chinês durante o mandato de Bolsonaro.

O resumo da ópera: ele tentou culpar o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e limpar a barra do presidente Jair Bolsonaro, mas acabou confirmando que teve papel ativo na importação de insumos para a produção de cloroquina, o remédio que não só é ineficaz contra o coronavírus, como também debilita a saúde dos pacientes. 

Não há um efeito direto entre a CPI e o mercado financeiro, claro. Exceto se ela conseguir reduzir o poder político do governo Bolsonaro, por expor as falhas na gestão da pandemia. Nesse caso, cresce a dificuldade de aprovação de reformas – aquelas que tanto interessam aos investidores.

Curiosamente, uma das medidas parece estar avançando na Câmara enquanto todo mundo acompanha apenas a TV Senado. 

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Eletrobras

É a privatização da Eletrobras. Não é bem uma privatização. No começo do ano, o governo enviou à Câmara dos Deputados uma Medida Provisória que permite a venda de novas ações da estatal de energia. A ideia, com isso, é que mais gente seja acionista da companhia e o governo diminua a sua participação. Somando as parcelas a cargo da União e do BNDES, o governo é dono de 58% da empresa. Agora, essa fatia deve ser reduzida a cerca de 45%.

Só que nessa MP foram incluídos uma série de pontos um tanto controversos e que foram rediscutidos. O presidente da Câmara, Arthur Lira, anunciou que a votação deve ocorrer amanhã (19). Os papéis da Eletrobras terminaram o pregão em alta de 3,03% (ELET3) e 2,33% (ELET6).

A principal questão envolvia uma indenização de R$ 45 bilhões que a Eletrobras precisa receber do governo. Inicialmente, a MP previa que o dinheiro fosse mantido pela parte da empresa que deve continuar estatal (representados pela Itaipu e a Eletronuclear). Com a mudança no texto, o dinheiro deve ser direcionado a todo para a empresa privatizada, como queriam os investidores.

Outro ponto de mudança envolve um dispositivo que permitia à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) intervir no mercado de energia – uma forma de evitar a concentração do mercado por empresas do setor elétrico. Agora, a agência não terá mais esse controle.

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Ibovespa

Os possíveis entraves na privatização da Eletrobras – ou os fantasmas da cloroquina e da demora na compra de vacinas – não chegaram a fazer barulho entre os investidores. Enquanto a caravana de Brasília passava, a bolsa brincou de gangorra o dia todo. Quem de fato segurou o Ibovespa no positivo foi, de novo, a Vale. Após salvar dias ruins do Ibov na semana passada, as ações da mineradora protagonizaram alta de 1% nesta terça-feira. Parece pouco? Não mesmo: uma vez que a companhia responde, sozinha, por cerca de 13% da carteira de ações do Ibov, qualquer avanço minimamente expressivo já pode ser suficiente para salvar o dia. O motivo principal está na subida do preço do minério de ferro na China, que hoje cresceu mais 3,06%, e eleva o valor do minério pelo planeta todo.

Por outro lado, a Petrobras voltou a cair na esteira da baixa nos preços do petróleo. Os papéis preferenciais da companhia, mais negociados, caíram 1,16%.

Tombo

Fora do Ibovespa, o destaque negativo foi a Rede D’Or. O jornal Valor Econômico antecipou que a companhia pretende fazer uma nova oferta de ações (follow-on) de R$ 5 bilhões. O problema é que a maior parte do dinheiro não irá para o caixa da companhia, mas sim para o bolso de investidores de saída do negócio (o fundo Carlyle e parte das ações da família Moll). Além do volume expressivo do negócio, o mercado tende a ficar receoso quando grandes acionistas deixam a sociedade. Nisso, as ações caíram 5,39%.

A Rede D’Or é relativamente nova na bolsa, estreou em dezembro no que foi, à época, o maior IPO desde 2013.

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Outra novata da bolsa a ocupar o noticiário corporativo foi a Pague Menos. A agência de notícias Reuters anunciou que a rede de farmácias negocia a compra da concorrente Extrafarma, que pertence ao grupo Ultrapar (esse com ações na B3). No entanto, ainda não existe uma proposta firme para o acordo. As ações da Pague Menos saltaram 9,59%, para R$ 11,77, enquanto os papéis da Ultrapar cederam 1,18%. 

Ok, isso quer dizer que a Faria Lima tinha bastante coisa para prestar atenção no dia de hoje, além de Eletrobras e de CPI. Resta saber como será amanhã, quando a competição será com o depoimento de Pazuello. Já separou a pipoca?

MAIORES ALTAS

Cielo: 4,35%

Eletrobras (ON): 3,03%

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Totvs: 2,60%

Eletrobras (PN): 2,32%

Locaweb: 2,02%

MAIORES QUEDAS

Eztec: -4,79%

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Braskem: -3,65%

Minerva: -3,56%

JBS: -2,82%

SulAmérica: -2,38%

Ibovespa: +0,03%, a 122.979,96 pontos

Dólar: -0,22%, a R$ 5,25

Nova York

Dow Jones: -0,78%, a 34.060,66 pontos

S&P: -0,85%, a 4.127,84 pontos

Nasdaq: -0,56%, a 13.303,64 pontos


Petróleo

Brent: -1,08% a US$ 68,71

WTI: -1,18% a US$ 65,50

Minério de Ferro

Alta de 3,06% no porto de Qingdao, China, a US$ 224,44 por tonelada

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