Continua após publicidade

Ibovespa faz uma pausa e cai abaixo de 130 mil pontos após seis recordes

Paulo Guedes falou sobre mais auxílio emergencial e também sobre uma reforma tributária moderada. Era a desculpa que a Faria Lima precisava para colocar no bolso parte do lucro acumulado.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 8 jun 2021, 18h35 - Publicado em 8 jun 2021, 18h26

Tudo que sobe, uma hora tem que descer. Perdão pelo ditado óbvio, mas não tem jeito melhor de explicar o que aconteceu com a bolsa brasileira nesta terça-feira. Após quebrar o recorde de maior pontuação da história seis vezes seguidas e embalar uma série de oito altas, algo que não acontecia desde 2018, o Ibovespa terminou o dia no vermelho. A baixa foi de 0,76%, suficiente para o índice perder o patamar simbólico de 130 mil pontos e cair a 129.787 pontos.

A queda é resultado do que o mercado financeiro chama de realização de lucros. Quando as ações de uma empresa (ou de várias) vão muito bem por dias seguidos, é provável que investidores decidam colocar uma parte dos lucros no bolso em vez de continuar contando com a “sorte sem fim”. Não necessariamente existe um gatilho para o momento em que eles dizem “Ok, está bom de lucro por enquanto”.

Nos oito dias seguidos de alta, o Ibov tinha uma alta acumulada de 6,33%. Era difícil mesmo bancar que essa sequência de altas iria se manter por muito tempo por aqui. Como quem lê a Você S/A viu ontem, a bolsa brasileira havia avançado 18,8% desde fevereiro e beirava o tal bull market, quando um índice sobe pelo menos 20% em comparação à mínima mais recente.

Na maior parte da terça-feira, o Ibovespa sinalizava uma queda por volta dos 0,50%. Mas, com o avançar do dia, as perdas se acentuaram. E algo que contribuiu para que o mercado torcesse mais o nariz foram algumas declarações de Paulo Guedes – sobre o aumento de gastos públicos com programas sociais e sobre o anúncio de uma reforma tributária “moderada”.

Durante uma videoconferência da Frente Parlamentar do Setor de Serviços, o ministro da economia afirmou que o governo pretende estender o auxílio emergencial por “dois ou três meses”, sem detalhar o valor das novas parcelas. Depois disso, o plano é implementar uma espécie de Bolsa Família “reforçado”. A etapa atual do auxílio emergencial, que paga entre R$ 150 e R$ 375 por pessoa, estreou em abril e deve valer até o mês de julho. O gasto total estimado para o período foi de R$ 44 bilhões, que vieram de dívida nova, fora do teto de gastos.

As intenções do governo de prorrogar o auxílio ganharam destaque ainda na segunda-feira, após uma fala do presidente da câmara dos deputados, Arthur Lira. Para Lira, o ideal seria focar na criação de um Bolsa Família mais polpudo do que em estender de novo a oferta do auxílio emergencial.

Continua após a publicidade

Não se sabe ao certo se as parcelas do auxílio estendido terão o mesmo valor das atuais, entre R$ 150 e R$ 375 – é provável que sim. Também não está 100% claro o quanto essa extensão custaria aos cofres públicos, mas as primeiras estimativas falam em despesas extra entre R$ 12 bi e R$ 18 bi. A maior parte desse dinheiro viria mais uma vez de créditos extraordinários, não contabilizados no teto de gastos, e o restante de um excedente dos R$ 44 bilhões destinados às parcelas atuais do benefício.

Apesar da fala de Lira e dos boatos sobre a extensão do benefício terem aparecido ontem, o mercado se fez de surdo no pregão de segunda-feira. Hoje, porém, a reação não passou batido, impactando o Ibovespa.

A reforma que der

Outra fala de Paulo Guedes, dessa vez sobre a reforma tributária, reverberou entre os investidores. Após dizer que gostaria de propor uma reforma ampla, incluindo desoneração da folha de salários, Guedes recuou. A indicação, agora, é que a tal reforma tenha um tom mais moderado. “Não é o momento ainda, mas nós não vamos desistir, vamos fazer em fatias, gradualmente. Vamos fazer o que é possível agora”, disse, durante videoconferência.

A decisão por pisar no freio veio após revezes nas negociações com o governo e o Congresso. A principal divergência continua sendo a volta da CPMF, que o governo chama de imposto sobre transações.

Continua após a publicidade

Ponta positiva

As perdas desta terça-feira não foram tão contundentes graças à boa alta da Petrobras, que ficou entre as três empresas que mais valorizaram no dia. Responsáveis por mais de 10% da carteira do Ibovespa, as ações da estatal de petróleo terminaram com altas de 2,40% (PETR3) e 1,31% (PETR4). Os papéis foram impulsionados pelos preços do petróleo, que também terminaram no azul – alta de 1,02% para o Brent, que dita os preços da Petrobras, e 1,18% para o WTI.

O ganho de preço da commodity foi alimentado pela expectativa de retomada da demanda energética nos Estados Unidos. Analistas indicam que, de acordo com as previsões atuais, os estoques domésticos de petróleo do DoE (Departamento de Energia americano) devem apresentar a terceira queda consecutiva, o que deixa o produto mais escasso e mais caro. Os números oficiais devem ser divulgados nesta quarta-feira (9), mas já fazem barulho. Afinal, menos estoque significa mais demanda. E mais demanda indica preços mais favoráveis para o setor.

Quer pagar quanto?

Duas ações de varejistas também figuraram nos destaques positivos do dia. A Via (antiga Via Varejo, responsável por redes de lojas como Casas Bahia e Ponto) puxou o top 5 com ganho de 3,82%. A Hering também cresceu 1,74% – uma alta significativa o bastante para fazer a companhia figurar no pódio do dia.

Continua após a publicidade

Nos dois casos, não há uma explicação sólida para alta (sorry). No entanto, dados macroeconômicos ajudam um pouco na explicação. As vendas no varejo em abril subiram 1,8% no mês de março, muito acima do esperado pelo mercado financeiro. Foi o maior avanço no mês de abril desde o início da série histórica, em 2000. O IBGE, responsável pelo levantamento mensal, diz que o segmento tem uma recuperação “claudicante”, e não um progresso firme.

Mas economistas ficaram tão surpresos que voltaram a fazer contas. A Confederação Nacional do Comércio (CNC) revisou sua previsão de crescimento para o comércio nacional em 2021. Se antes a estimativa era de crescimento na casa dos 3,3%. Agora, é de 3,9%. A ver.

MAIORES ALTAS

Via: 4,37%

Azul: 2,86%

Continua após a publicidade

Petrobras: 2,40%

CVC: 1,89%

Hering: 1,74%

MAIORES QUEDAS

Braskem: -6,36%

Continua após a publicidade

B3: -5,55%

IRB: -3,33%

Iguatemi: -3,19%

Hypera Pharma: -3,16%

Ibovespa: -0,76%, a 129.787 pontos

Dólar: -0,05%, a R$ 5,034

Nova York

Dow Jones: -0,09%, a 34.599,82 pontos

S&P: +0,02%, a 4.227,26 pontos

Nasdaq: +0,31%, a 13.924,91 pontos

Petróleo

Brent: 1,02%, a US$ 72,22

WTI: 1,18%, a US$ 70,05

Minério de ferro

Alta de 3,50%, a US$ 209,50 a tonelada no porto de Qingdao, China

Publicidade