Ibovespa emenda 4ª queda seguida, mesmo com o corte na Selic: -0,89%
Índice encerra a semana, que tanto prometia, em queda de 0,57%. Hoje foi "culpa" de Petrobras (PETR4) e Bradesco (BBDC4). Entenda.
A semana mais aguardada desde a da final da Copa do Mundo de 2002 prometia. Mas deu em água. À exceção da segunda-feira, com alta de 1,46%, todos os outros dias foram de queda. Um tombo coroado por mais 0,89 no vermelho nesta sexta. No cômputo da semana, -0,57%.
Pior ainda o fato de os últimos dois tropeços terem vindo após o corte de 0,50 pp na Selic, na noite de quarta.
Na terça, o problema foram os PMIs fracos mundo afora, indicando contração na indústria global. Na quarta, cautela antes do Copom. Na quinta, cautela depois do Copom – um certo receio de que o BC talvez esteja se tornando dovish demais.
Nesta sexta, blame it on Petrobras (-2,98%) e Bradesco (-6,65%). Juntos, eles representam grossos 16% do Ibovespa (5% do bancão; 11% da petroleira). E vieram com balanços ruins, que saíram ontem após o fechamento de mercado.
A Petro lucrou R$ 28,8 bilhões no 2T23, queda de 47% no ano. Era algo esperado, por conta da baixa no barril. O problema mesmo foi a redução nos dividendos. No mesmo trimestre do ano passado, a distribuição foi de estupendos R$ 6,75 por ação – cortesia do governo anterior, que pretendia usar, e usou, seu naco multi-bilionário dos proventos da estatal para segurar a bronca das contas públicas em ano de eleição.
A política de distribuição de dividendos já mudou – de 60% do fluxo de caixa livre para 45%. Mas a baixa, quando materializou-se em números concretos, decepcionou mais do que a encomenda. O dividendo desde trimestre ficou em pálidos R$ 1,14 por ação.
Nos últimos dias, comemorou-se o programa de recompra de ações da companhia – movimento que tende a valorizar os papéis que seguem em circulação, simplesmente porque passa a haver menos deles por aí.
Mas consolida-se a visão de que se trata de uma recompra tímida: 157,8 milhões de papéis em um ano – uma gota de 1,2% no oceano de 13 bilhões de ações da Petro (7,4 bilhões de PTR3, ON, e 5,6 bilhões de PTR4, PN).
Já o Bradescão lucrou R$ 4,5 bilhões no segundo trimestre – 35,8% abaixo do 2T22. Não que o mercado esperasse mais. A expectativa estava em R$ 4,4 bi. O que pegou mesmo foi o crescimento na inadimplência acima de 90 dias, que chegou a 5,9% da carteira de crédito do banco, versus 3,5% no 2T22.
Para segurar a sangria, o banco decidiu frear a concessão de crédito. A previsão é de que a carteira cresça entre entre 1% e 5% neste ano, contra 6,5% a 9,5% da previsão anterior. Como crédito é o core business de qualquer banco, BBDC3 rolou ladeira abaixo neste pregão.
Payroll
O relatório mensal de criação de vagas de emprego nos EUA veio abaixo das expectativas: 187 mil novos postos de trabalho, contra 200 mil previstos. E bem inferior à média de 2022, de 312 mil por mês.
Quanto menor a criação de novas vagas, maior a chance de o Fed sentir vibrações de recessão, e deixar de subir os juros. Logo, essa percepção teria ajudado as bolsas – tanto aqui como lá fora. Mas não foi o caso. Queda de 0,52% no S&P 500.
Motivo: uma leitura mais atenta do Payroll mostra, de acordo com alguns analistas, que o menor número de contratações se deve mais à falta de gente disponível no mercado de trabalho do que algum soluço na economia. De fato: a taxa de desemprego, apesar da redução do número de vagas, não subiu. Caiu, de 3,6% para 3,5%.
E economia aquecida seguirá sendo um chamariz para mais apertos nos juros por lá, pelo menos enquanto a inflação americana não voltar à meta de 2% – por enquanto, está 50% acima disso, em 3%.
LREN3: 6,37%
Assim como Petrobras e Bradesco, a Renner também trouxe números que não entusiasmaram, mas boa parte do mercado esperava algo ainda pior, o que fez com que as ações LREN3 tivessem um dia de fortes ganhos.
A Renner viu o seu lucro cair 36% na comparação anual, a R$ 230 milhões, e o seu Ebitda recuar mais de 30%, mas o resultado já vinha sendo refletido nos papéis. O impulso da alta desta sexta-feira veio do que os analistas classificaram como sinais de que os ventos do terceiro trimestre devem vir mais favoráveis.
Para o BB Investimentos, os números foram ruins o suficiente para sustentar um corte na recomendação dos papéis – de compra para neutro –, mas outros bancos de investimentos foram mais generosos na análise. O BTG Pactual e o Citi reiteraram o posicionamento neutro na varejista. Já o JP Morgan elevou o preço-alvo para as ações de R$ 16,50 para R$ 19.
O mercado, pelo jeito, foi mais pela leitura do banco americano. Alta de gloriosos 6,37%.
BRFS3: 6,10%
Entre os momentos solares desta sexta cinzenta, destaque para a BRF. O JPMorgan, que não cobria mais a ação, retomou suas análises, e com viés de alta: recomendação de compra.
Resumindo, eles avaliam que a injeção de R$ 5,4 bilhões após o follow-on de maio deve reduzir a dívida da empresa; dos atuais 3,3 vezes o Ebitda, um nível perigoso, para 2,2 vezes – 2x é a razão tradicionalmente considerada segura. E o resultado foi uma alta de 6,10%.
Onde o frango vai o boi vai atrás: a bovina Marfrig, dona de 33% da BRF, pegou carona: 5,66%.
E que nas próximas semanas a bolsa também pegue carona, no ciclo de baixa dos juros.
Bom fds.
MAIORES ALTAS
Dexco (DXCO3): 6,37%
BRF (BRFS3): 6,10%
Renner (LREN3): 5,77%
Marfrig (MRFG3): 5,66%
Petz (PETZ3): 2,77%
MAIORES BAIXAS
Carrefour (CRFB3): -6,76%
Bradesco PN (BBDC4): -6,65%
Bradesco ON (BBDC3): -4,75%
Embraer (EMBR3): -4,99%
Petrobras ON (PETR3): -4,20%
Ibovespa: -0,89%, aos 119.507 pontos
Em Nova York
S&P 500: -0,52%, aos 4.478 pontos
Nasdaq: -0,10%, aos 13.909 pontos
Dow Jones: -0,42%, aos 35.067 pontos
Dólar: -0,48%, a R$ 4,87. Na semana, a alta foi de 3,05%
Petróleo
Brent: 1,29%, a US$ 86,24. Na semana, a alta foi de 2,17%
WTI: 1,55%, a US$ 82,82. Na semana, a alta foi se 2,78%
Minério de ferro: -0,30%, a US$ 113,82 por tonelada na bolsa de Dalian (China)