Ibovespa cai após recorde e nem precisou esperar “dia D e hora H”
O dia negativo não foi exclusividade do Brasil. No mundo, investidores decidiram embolsar lucros com medo de expansão do vírus e bagunça política nos EUA.
Sabe o medo de que 2020 talvez não tenha terminado? A primeira semana de 2021 até foi de notícias com a cara do ano passado, de invasão ao Capitólio à falta de seringas e de um plano para a vacinação contra a Covid no Brasil, só que os investidores fingiram que não era com eles e as bolsas renovaram recordes.
Agora bateu. A segunda-feira (11) foi o típico dia de aversão a risco no mercado financeiro. Bolsas mundo afora para baixo, dólar em alta ante as principais moedas do globo, petróleo em queda, ouro em alta. E se você é da turma que aposta no bitcoin como reserva de valor em crises, saiba que ele chegou a cair mais de 20%, no maior tombo desde março do ano passado, o auge da pandemia.
Fora do mundo das criptomoedas, as quedas nem foram tão expressivas assim. Perceba que estamos falando de medo, não de pânico. Um medinho, ou cautela, o suficiente para o investidor tomar um respiro, colocar no bolso os lucros dos recordes recentes do Ibovespa e das bolsas americanas e aí seguir em frente.
E qual foi o sinal de que era hora de tomar um ar? Não houve um só, claro.
O mais forte é aquele sentimento compartilhado de que a segunda onda da Covid-19 está mais forte do que o previsto e pode resultar em medidas mais duras de contenção da doença. Alemanha e Bélgica atingiram marcas simbólicas de mortos e a China isolou regiões em que identificou a cepa mais contagiosa do coronavírus, aquela que colocou a Inglaterra em novo lockdown.
E esse tipo de coisa amplia o fechamento de serviços não-essenciais, o que tem reflexo direto sobre a economia.
Aí a Organização Mundial de Saúde afirmou nesta segunda que, mesmo com o avanço da vacinação, o globo não deve atingir a imunidade de rebanho em 2021. Equivale a dizer que muito abre e fecha de comércio ainda vai ocorrer antes que o mundo volte a alguma normalidade. Ou seja, 2020 e 2021 um tanto parecidos.
Em solo brasileiro, alguns estados com aumento de casos, como Minas Gerais e Amazonas, até tentam endurecer as medidas de controle da doença (oi, 2020), mas enfrentam resistência de comerciantes. Aí os shoppings entraram entre as dez maiores quedas do Ibovespa no dia. Iguatemi e Multiplan recuaram ao redor de 4%.
Outro motivo para a queda de ações do setor “aglomeração” é a completa falta de horizonte para o início da vacinação por aqui. Nesta segunda, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que a imunização vai começar no “dia D e na hora H”, provando que continuamos no escuro. Mesmo o calendário de São Paulo, com previsão de início em 25 de janeiro, depende de autorização da Anvisa.
Resumo é que o Ibovespa recuou 1,46%, a 123.255 pontos. Das 81 ações do índice, apenas cinco fecharam no positivo, com o topo da lista para Notre Dame e Hapvida. As duas operadoras de saúde negociam uma fusão, como noticiamos aqui no Fechamento de Mercado de sexta-feira (8).
Lá fora, há ainda o imbróglio com o presidente americano, Donald Trump. Um dos destaques de baixa foi o Twitter, que baniu o futuro ex-presidente para sempre de sua rede no final de semana. O tombo foi de 6,41%, a US$ 48,18. Outras empresas de tecnologia também adotaram medidas que afetam o americano e também foram penalizadas, mas em menor magnitude. Apple, Amazon e Google caíram ao redor de 2%. Elas baniram o Parler, a rede para a qual os extremistas americanos se moviam. O Facebook, que suspendeu Trump até o fim do mandato, recuou ao redor de 4%.
É que o fim do mandato é na próxima semana, dia 20 de janeiro. Isso se os democratas não conseguirem o impeachment de Trump antes disso. O pedido foi feito nesta segunda, o que deixará os derradeiros nove dias de governo do republicano bastante emocionantes.
2021 não está para brincadeira.
MAIORES ALTAS (as únicas)
Notredame: 11%
Hapvida: 8,46%
PetroRio: 4,57%
Braskem: 1,66%
Usiminas: 1,21%
MAIORES QUEDAS
Copel: -5,47%
YDUQS: -5,12%
Energisa: -4,88%
IRB Brasil: -4,75%
Sabesp: -4,75%
Bolsas americanas
Dow Jones: -0,29%, a 31.008 pontos
S&P 500: -0,66%, a 3.799 pontos
Nasdaq: -1,25%, a 13.036
Petróleo
Brent (referência internacional): -0,63%, a US$ 55,64 o barril
WTI (referência EUA): -0,11%, a US$ 52,18
Dólar
+1,61%, a R$ 5,5036