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Ibovespa cai 0,36% à espera da Super Quarta; Gol (GOLL4) derrete 33,61% com cenário caótico

A cia aérea teve seu pedido de recuperação judicial aceito nos EUA e divulgou seus números preliminares do 4T23. Analistas correram para rebaixar o papel, e investidores saíram em debandada. Entenda a crise.

Por Bruno Carbinatto
29 jan 2024, 19h08

Apertem os cintos, passageiros.

Se na semana passada uma turbulência forte atingiu o papel da Gol (GOLL4), após o pedido de recuperação judicial da empresa na quinta-feira, o desastre mesmo veio no pregão desta segunda. A ação derreteu chocantes 33,61%, entrando em leilão por variação máxima permitida várias vezes ao longo do dia, após um combo de notícias péssimas para a cia.

Na manhã desta segunda-feira, a Gol divulgou informações financeiras preliminares do 4T23. Entre os números, o destaque negativo foi o patrimônio líquido, calculado pela subtração dos ativos da empresa (o que ela tem) pelo passivo (o que ela deve). Esse número ficou negativo em R$ 23,3 bilhões no quarto tri, uma piora de 6% em relação ao 3T23.

A companhia também teve seu pedido de recuperação judicial aceito nos EUA hoje. A justiça de NY deu sinal verde provisório para a Gol acessar parcela inicial dos US$ 950 milhões do financiamento do tipo “DIP”, uma modalidade de crédito exclusiva para empresas em RJ (que, lá nos EUA, chama-se “Chapter 11”), dos quais US$ 350 milhões podem entrar imediatamente e o restante ainda depende de uma outra aprovação. As dívidas da Gol ultrapassam os R$ 20 bilhões.

Com a piora do quadro, e a percepção de que a saúde financeira da empresa está em frangalhos, analistas correram para rebaixar as recomendações do papel. Na sexta-feira, o Bradesco cortou o preço-alvo de GOLL4 de R$ 10 para R$ 1, recomendando venda. Hoje, o BB Investimentos também recomendou se desfazer da ação para evitar perdas maiores. Já a XP anunciou que está revisando sua recomendação.

Na semana passada, o Itaú BBA também havia colocado a ação em revisão de recomendação, enquanto o Goldman Sachs simplesmente deixou de cobrir os papéis. Já o JPMorgan manteve a sua recomendação de venda. As agências de classificação de risco S&P Global e a Fitch rebaixaram a nota global da empresa, de “CCC-” para “D”. E a Nyse, a bolsa de Nova York, suspendeu as negociações das ADS (Ação Depositária Americana – a maneira dos americanos investirem em empresas estrangeiras, equivalentes aos nossos BDRs) da companhia.

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O mercado entendeu o recado caótico. E, como deu pra ver, a debandada do papel foi forte nesta segunda-feira. Mas o inferno astral da aérea pode estar apenas começando, dado as previsões dos analistas. A ver os próximos capítulos dessa novela.

De resto…

Nada como uma Super Quarta para animar as bolsas, certo? Só que não.

O evento em que os bancos centrais americano e brasileiro divulgam suas decisões de juros no mesmo dia tem um nome quase mítico, mas nem é tão raro assim. E ele volta a acontecer nessa semana (obviamente na quarta-feira). O problema é que, até lá, os investidores entram em modo espera, e, tirando o caos da Gol, o mercado fica pacato.

Nesse tédio, as bolsas americanas e a brasileira foram em caminhos contrários. Por aqui, o Ibovespa caiu 0,36%, a 128.502 pontos. Já o S&P 500 avançou 0,76% e o Nasdaq, 1,12%.

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O futuro dos juros americanos tem guiado o humor do mercado há um bom tempo. Na reta final de 2023, um otimismo tomou conta dos investidores, que passaram a apostar que o Fed, banco central americano, ia começar a cortar os juros do país em ritmo acelerado. O consenso do mercado chegou a prever seis ou sete cortes de 0,25 ponto percentual cada ao longo de 2024, começando já em março.

Acontece que os próprios dirigentes do Fed deram diversas declarações mais hawkish, ou seja, contrárias a ideia de uma aceleração no corte dos juros. O banco central confirma que, com a inflação caminhando para estar totalmente controlada, o ano será marcado pelo afrouxamento da política monetária. Mas num ritmo mais lento: até agora, o Fed só garante três cortes em 2024, e nada garante que já será em março.

Bem, o mercado diminuiu o otimismo diante disso, mas não tanto. Na reunião do Fomc desta quarta, é consenso que os juros permanecerão inalterados. A grande questão é a reunião de março. Uma boa parte dos investidores aposta que, nela, já haverá um corte na taxa. De qualquer modo, esperarão indicações dos próximos passos no comunicado de quarta-feira.

Déficit fiscal surpreende

Por aqui, a história é mais ou menos parecida. O Copom se reúne nesta semana e é consenso que a Selic deve cair, novamente, em 0,5 ponto percentual, como já antecipado pelo próprio comitê. A incógnita é o futuro.

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Uma boa notícia é que a inflação brasileira fechou 2023 de volta à meta – 4,62%, sendo o teto 4,75%. Por outro, o risco fiscal volta a pesar no Brasil.

Hoje saíram os dados das contas públicas em 2023, que surpreenderam. O Brasil fechou o ano com déficit primário de R$ 230,5 bilhões, ou 2,1% do Produto Interno Bruto (PIB). É o pior resultado desde 2020. Déficits ocorrem quando os gastos do governo são maiores que a arrecadação com impostos. Na conta, não entra o pagamento de juros da dívida. 

Todo mundo já esperava um resultado no vermelho. O problema foi que ele veio acima do esperado até pelo próprio governo: na última projeção, de novembro, a equipe econômica previa um rombo de R$ 228,1 bilhões. E o ministro Haddad já tinha dito que tinha como uma espécie de meta “informal” registar um déficit de R$ 100 bilhões, ou 1% do PIB. Passou longe.

A questão, agora, é 2024. A gestão petista tem, por insistência de Haddad, a ambiciosa meta de zerar o déficit no ano. Quase ninguém acredita, porém, que é algo factível. Ainda mais que o governo Lula tem um perfil mais gastador, e que vem tentando equilibrar as contas aumentando a arrecadação, mas é relutante em cortar gastos.

Um eventual descontrole maior das contas públicas pode pesar sob o Copom, já que tem impacto na inflação. A ver o que o comitê fala nesta quarta-feira. Até amanhã.

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MAIORES ALTAS

Assaí (ASAI3): 4,78%

Hypera (HYPE3): 2,80%

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Petrobras (PETR4): 1,53%

MAIORES BAIXAS

Gol (GOLL4): -33,61%

Casas Bahia (BHIA3): -4,71%

Suzano (SUZB3): -3,99%

CVC Brasil (CVCB3): -3,26%

Carrefour (CRFB3): -3,17%

Ibovespa: -0,36%, a 128.502 pontos

Em Nova York

S&P 500: 0,76%, a 4.927 pontos

Nasdaq: 1,12%, a 15.628 pontos

Dow Jones: 0,59%, a 38.332 pontos

Dólar: 0,71%, a R$ 4,9459

Petróleo

Brent: -1,35%, a US$ 81,83 

WTI: -1,57%, a US$ 76,78

Minério de ferro: 1,06%, cotado a US$ 139,03 por tonelada na bolsa de Dalian (China)

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