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Ibov festeja aniversário de São Paulo com alta de 2,10% e 110 mil pontos

Se é para trabalhar no feriado, que seja fazendo festa. Dólar cai 1,24%.

Por Tássia Kastner, Guilherme Jacques
25 jan 2022, 19h14

Se é para trabalhar no feriado, que seja fazendo festa. E essa foi a vibe da Faria Lima nesta terça-feira (25), aniversário da cidade de São Paulo. O Ibovespa ignorou o exterior conturbado e subiu 2,10%. A festa foi completa, e o índice ainda recuperou os 110 mil, marca que não era vista desde 20 de outubro 

A comemoração fica ainda maior quando se olha para o exterior, que tinha tudo para estragar o dia. Nos EUA, depois da recuperação inesperada e espetacular de ontem, os índices voltaram a cair: -1,22% para o S&P 500 e -2,28% para o Nasdaq. 

Os motivos para a queda não mudaram. Investidores estão ansiosos pelo resultado da reunião do Fed (o BC dos EUA), que termina amanhã. Às 16h sai um comunicado, e às 16h30 o presidente do Fed, Jerome Powell, concede entrevista a jornalistas e dá um pouco mais de detalhes das avaliações dos dirigentes do BC americanos sobre a economia do país.

No atual estado de ânimo dos investidores, as declarações de Powell têm o potencial destrutivo de nitroglicerina. E a ansiedade é tanta que a queda acumulada das bolsas americanas é uma espécie de antecipação do pior que estaria por vir. Resta saber se o comandante do BC mais poderoso do mundo está disposto a dar chá de camomila para Wall Street ou não.

O fato é que a bolsa brasileira vem desviando do pior da liquidação de ações nos EUA, em boa medida porque aqui a xepa rolou no segundo semestre do ano passado, justamente quando o nosso BC apertou o ritmo de alta de juros aqui.

Juro mais alto é como ímã de dinheiro para a renda fixa, e um dreno para as ações. Mas os estrangeiros decidiram inverter um cadinho a lógica e dar uma colher de chá para o Brasil.

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Festa danada

Quem vem dando o ritmo do mercado brasileiro são os gringos. Em vez de simplesmente correr para os braços da dívida pública americana, eles voltaram a fazer apostas aqui. O tombo do segundo semestre ajudou – e teve ainda a colaboração inusitada da China.

É que enquanto os países ricos começam a apontar alta de juros para conter a inflação, a China promoveu políticas de estímulo à economia – com direito a redução no custo do dinheiro. Isso fez crescer as apostas em empresas brasileiras ligadas a commodities.

O fluxo de dinheiro gringo têm ajudado a domar o dólar. Num cenário hostil como o americano, a tendência era que investidores batessem em retirada de mercados ainda mais arriscados, caso do Brasil. Isso enxugaria as verdinhas em circulação aqui, fazendo com que ficassem mais caras. Não é o caso. A moeda americana caiu 1,24% e fechou a R$ 5,4352.

No dia de hoje, particularmente, houve uma notícia dessas que ainda é só uma luz no fim do túnel, mas anima mercados. O Brasil foi convidado a fazer parte da OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico), um desejo acalentado por governos há 30 anos. A entidade é uma espécie de clube de países ricos, em que é preciso seguir regras de governança (como aplicar normas mais rígidas de combate à corrupção) e políticas tributárias consideradas de primeira linha. Em suma, a ideia é que países uniformizem o ambiente de negócios. Estar na OCDE funciona, para o estrangeiro, como um selo de confiabilidade – algo que o Brasil bem anda precisando.

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Nesse ambiente positivo, apenas 8 das 92 ações do Ibovespa caíram. Curiosamente, uma única não era ligada ao setor de commodities: a Alpargatas. As outras setes são as siderúrgicas brasileiras CSN, Gerdau (Metalúrgica e Siderúrgica) e Usiminas, as papeleiras Suzano e Klabin, além da BRF. Essas empresas têm a receita atrelada ao dólar – e com a baixa da moeda, investidores colocam um pezinho atrás.

Claro que com tantas altas, uma pá de ações de exportadoras subiu. A Petrobras, apoiada na recuperação do petróleo, avançou mais de 3% e deu sua parcela de contribuição para a festa dos 110 mil pontos.

E teve também a Vale, a ação com maior peso no Ibov. A mineradora subiu 0,50%. Não deixa de ser uma marca simbólica. Há três anos, em um 25 de janeiro, a barragem de Brumadinho se rompeu soterrando casas e matando 264 pessoas – restam 6 desaparecidos até hoje. A bolsa estava fechada, mas deu para ver o estrago em Nova York, onde os recibos de ações caíram 8%. O estrago de verdade veio no pregão seguinte ao feriado, e a perda de valor de mercado foi de R$ 70 bilhões. Na época, as ações caíram de R$ 56 para cerca de R$ 42. Três anos depois, elas valem mais que o dobro. 

Com um detalhe: os lucros cresceram de tal maneira que a empresa está de graça, mais barata que naquela época. O preço somado das ações da Vale, por exemplo, dá 4 vezes o lucro que ela obteve nos últimos 12 meses. O das ações da BHP, sua concorrente anglo-australiana, 14 (algo mais parecido com a média histórica do Ibovespa, por sinal).

Esse é o primeiro feriado local em que a bolsa brasileira abre. É que a B3 aproveitou a confusão das antecipações de folgas em 2020 e 2021, feitas por causa da pandemia, para mudar as regras de pregão: a partir de agora, a bolsa só fecha quando o Brasil inteiro parar. Nos feriados locais, pregão normal. A Vale é um lembrete de que nem sempre trabalhar no feriado é uma boa coisa. E que o mercado financeiro é capaz de esquecer qualquer coisa.  

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Até amanhã.

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MAIORES ALTAS

Qualicorp (QUAL3): 7,52%

Santander (SANB11): 6,25%

Locaweb (LWSA3): 6,44%

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Cielo (CIEL3): 6,34%

JHSF (JHSF3): 6,20%

MAIORES BAIXAS

Suzano (SUZB3): -2,59%

CNS (CSNA3): -2,04%

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Alpargatas (ALPA4): -1,60%

Gerdau (GGBR4): -1,47%

Gerdau Met (GOAU4): -0,90%

Ibovespa: 2,10%, aos 110.203 pontos

Em Nova York

S&P 500: -1,22%, aos 4.356 pontos

Nasdaq: -2,28%, aos 13.359 pontos

Dow Jones: -0,19%, aos 34.297 pontos

Dólar: -1,24%, a R$ 5,4352

Petróleo

Brent: 2.24%, a US$ 88,20

WTI: 2,75%, a US$ 85,60

Minério de ferro: 3,68%, negociado a US$ 138,39 por tonelada no porto de Qingdao (China)

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